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O ministro se referiu a pontos específicos do estatuto de autonomia votado ontem em Santa Cruz, que têm o potencial de criar "embaraço a um governo nacional", segundo Amorim.
O artigo 82 do estatuto prevê que "os controles aduaneiros" de Santa Cruz serão definidos por lei local. A função hoje é cumprida por funcionários do governo central. Santa Cruz é a porta de entrada das exportações brasileiras na Bolívia e porta de saída do gás natural importado pelo Brasil.
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Blog Américas: O Brasil reconhece a autonomia de Santa Cruz?
Celso Amorim: Não, não, não.
Blog Américas: O Brasil insiste na unidade da Bolívia?
Celso Amorim: Claro que o Brasil respeita o que são decisões internas na Bolívia. E não somos nós que temos a competência de dizer como fazer, de que maneira fazer.
Agora, obviamente nós não favoreceremos nada que ameace a integridade territorial da Bolívia. E tanto quanto eu posso ver alguns dispositivos que tem nos estatutos - que talvez até eles estejam dispostos a negociar e mudar, espero que sim - são dispositivos que no mínimo causariam embaraço a um governo nacional.
Eu disse a eles, em Santa Cruz: como é que o Brasil no Mercosul está disposto a botar tarifa zero para todos os produtos bolivianos, como vou fazer isso se a aduana de Santa Cruz for diferente da aduana central? Impossível.
Blog Américas: Então esse é um ponto...
Celso Amorim: Estou dando um exemplo. Dito isso nós achamos que, sim, tem que haver um diálogo [entre governo e oposição] e chegar a uma conclusão. Não é que nós sejamos contra o princípio da autonomia, isso até já foi votado lá em outros referendos. A questão é de como se faz autonomia, quem convoca e de que maneira - e quais são os resultados práticos.
Blog Américas: Justiça para o Paraguai significa mexer no preço pago pela energia de Itaipu?
Celso Amorim: Olha, essas coisas a gente tem de conversar com os paraguaios. Vamos, no momento adequado, nos sentar, ver o conjunto de coisas. O preço se compõe de vários elementos, há várias coisas que podem ser estudadas.
O que nós não podemos mexer é na essência do tratado. O tratado prevê que a energia de Itaipu é para o Paraguai e para o Brasil. Isso é essencial. Itaipu foi feito com esse espírito e isso tem de ser mantido. Como remunerar é uma questão. Podem se criar fundos, que podem também servir para o desenvolvimento do Paraguai. É uma coisa que nós podemos ver com calma.
Justiça para o Paraguai? Nós achamos que isso é correto. Não é que o Brasil tenha exorbitado ou feito uma coisa propriamente injusta. O Brasil fez o que do ponto-de-vista empresarial, dos investimentos, estava correto. Só que isso não foi o suficiente para desenvolver o Paraguai.
De quem é a culpa? Não sei. Mas é do nosso interesse que o Paraguai se desenvolva, que o Paraguai seja estável.
Blog Américas: Quando é que a Venezuela entra no Mercosul?
Celso Amorim: Nós esperamos que logo, inclusive isso já está no Congresso há algum tempo, já passou nas comissões da Câmara, mas tem de ser votado ainda no plenário, nós temos a expectativa de que isso possa ocorrer em breve, acho que será bom para o Brasil, bom para a Venezuela, bom inclusive para a democracia no continente como um todo, até porque o Mercosul tem como um dos seus pilares a cláusula democrática.
Blog Américas: A atenção dada aos países pobres por parte do Brasil é por ideologia ou pragmatismo?
Celso Amorim: É pragmatismo. Agora, o pragmatismo não quer dizer que não tenha um elemento de solidariedade. Tem um elemento de solidariedade com países pobres, países que estão passado por situações que o Brasil já passou, países que têm conosco muita identidade. Agora, na maioria dos casos é do nosso total interesse.
Então é também pragmatismo. Que as coisas caminhem bem na Bolívia, que é o país de maior fronteira com o Brasil, que as coisas caminhem bem no Paraguai, que é um país que é sócio da maior fonte de hidroeletricidade do Brasil é do nosso interesse. Que as coisas caminhem bem na Guiana e no Suriname, para pegar um exemplo menos comum, que são nossos parceiros inclusive na Amazônia, área tão sensível para todos, é do nosso interesse. Às vezes é dificil separar a solidariedade do pragmatismo.
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