Estudos da OMS chamam a atenção dos países emergentes para o estresse no local de trabalho e a influência dos fatores sociais na vida dos trabalhadores Estudos da Organização Mundial da Saúde referentes aos anos de 2005 e 2003 revelam que os problemas relacionados ao estresse ocupacional estão associados às constantes mudanças sociais, como, por exemplo, a globalização, o aumento da economia informal e as mudanças que ocorrem no ambiente de trabalho.
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O estresse ocupacional é definido como a soma de respostas físicas e mentais, ou ainda, reações fisiológicas, que, quando intensificadas, transformam-se em reações emocionais negativas. Ele aumenta consideravelmente o número de trabalhadores afastados e reflete na vida das organizações, seja em perda de produtividade, seja na diminuição da qualidade dos produtos e serviços prestados.
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A globalização, como parte de um processo de mudanças sociais, traz consigo novas reformas econômicas e sociais, as quais exigem dos trabalhadores e das organizações, adaptações e reorientações quanto ao sistema de saúde ocupacional. De acordo com o estudo, os principais problemas relacionados à globalização incluem o desemprego, as condições de trabalho precárias devido às novas relações industriais e a crescente ausência de prioridade de aspectos sociais em várias partes do mundo.
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O estudo, ao citar o aumento na economia informal dos países em desenvolvimento, ressalta a importância da realização de pesquisas detalhadas com o objetivo de analisar as diferenças culturais e comportamentais, que variam de país para país.
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Uma outra observação apontada pela OMS refere-se ao foco das iniciativas organizacionais. Estas, normalmente, consideram somente aspectos preventivos em saúde e segurança, como a exposição a agentes químicos, físicos e biológicos, e não levam em conta os riscos psicossociais. Este tipo de risco é negligenciado e insuficientemente compreendido por pertencer ao contexto dos países em desenvolvimento.
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Outro aspecto apontado no estudo está voltado para a divisão entre as condições de trabalho e o ambiente de trabalho, que faz com que os riscos psicossociais sejam difíceis de serem identificados pelos profissionais da área de SST. Além disso, a ausência de políticas de desenvolvimento que considerem este tipo de risco no ambiente de trabalho torna mais difícil a implementação de práticas efetivas de controle e a elaboração de estratégias para tal questão, por parte das empresas.
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Outros fatores que limitam as empresas de detectarem as causas que levam trabalhadores ao estresse ocupacional são relacionados ao ambiente externo de trabalho e incluem as desigualdades entre homens e mulheres, baixa participação e envolvimento de cidadãos nas questões sociais, além da gestão precária de saneamento básico.
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Tais aspectos sociais influenciam na percepção individual e, com isso, modificam a maneira das pessoas reagirem ao que pode ser considerada “boa” ou “má” condição de trabalho. Um exemplo pode ser observado quando o trabalhador se submete a comportamentos autoritários de empregadores e gestores e a condições precárias de trabalho para garantir seu emprego.
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O estudo conclui, ainda, que, nos países emergentes, a maior parte da força de trabalho é terceirizada e concentra-se nas empresas pequenas e familiares, que, por sua vez, estão na economia informal.
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Além disso, a ausência de infra-estrutura, de recursos, de disponibilização de informações, a precariedade na cobertura dos serviços em saúde e saúde ocupacional, são fatores que acometem e levam milhões de trabalhadores ao chamado estresse ocupacional.
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Números que estressam
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A OMS estima que, no mundo, de 5 a 10 por cento dos trabalhadores dos países em desenvolvimento, têm acesso aos serviços de saúde ocupacional, enquanto nos países de primeiro mundo, de 20 a 50 por cento dos trabalhadores possuem esse acesso. De acordo com a organização, dois milhões e quatrocentas mil pessoas vivem e trabalham em países subdesenvolvidos, o que representa 75 por cento da força mundial de trabalho. A taxa de exposição de trabalhadores submetidos à exposição de risco no local de trabalho em países em desenvolvimento atinge de 20 a 50 por cento.
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Enquanto isto, nos países industrializados, mais de 80 por cento da força de trabalho estão nas médias e pequenas empresas e 50 por cento dos trabalhadores, segundo a OMS, julgam o trabalho como algo “mentalmente estressante”.
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Com base em tudo isto, a cada ano existem 120 milhões de acidentes ocupacionais com 200 mil fatalidades, e de 68 a 157 milhões de doenças existentes no local de trabalho. Condições precárias de saúde ocupacional e capacidade reduzida de trabalhadores causam perda econômica de 10 a 20 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país em desenvolvimento.
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A OMS disponibiliza, em inglês, o documento para leitura intitulado “Global Strategy on Occupational Health for All”, em www.who.int/occupational_health/en/oehstrategy.pdf.Nele, estão informações voltadas a compreender como as novas tendências da economia global, os problemas sociais e ocupacionais emergentes e o empoderamento da sociedade, contribuem para ações efetivas no ambiente de trabalho.
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A urgência em mudanças
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Na América Latina, por exemplo, o estresse ocupacional é presente e reconhecido como sendo uma das maiores epidemias da vida moderna. Ao mesmo tempo, muitos profissionais de SST acreditam que o estresse ocupacional está associado às condições ergonômicas de trabalho e ao conforto. Com esta idéia, o foco dos regulamentos continua sendo trabalhado nas questões físicas, químicas e de exposição, ao estabelecerem condições que julgam ser seguras quanto aos riscos de acidentes. Outros aspectos que dificultam a implementação de regulamentos mais efetivos estão nos longos turnos e na insegurança no trabalho.
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Isto significa que, a maior parte dos regulamentos elaborados aos trabalhadores representam a adoção de limites de exposição no modelo tradicional de saúde ocupacional, sem levar em consideração os aspectos psicossociais.
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Conseqüências para os trabalhadores
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Se as causas apontadas no estudo mostram que o estresse ocupacional resulta da interação entre trabalhadores e as condições de trabalho, por outro lado, o estudo aponta que devem ser levadas em consideração os aspectos individuais, tais como, a personalidade, idade, educação, experiência e estilo de vida.
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Considerar os aspectos e as diferenças individuais demandam estratégias complementares de prevenção que foquem o indivíduo e promovam formas de prevenção.
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Algumas respostas individuais, tais como as fisiológicas, estão normalmente associadas a fatores externos, podendo resultar em aumento da pressão arterial, infarto do miocárdio, aumento da tensão muscular, suor excessivo, entre outros. Entretanto, de acordo com o estudo, as reações emocionais e os aspectos cognitivos devem ser também levados em consideração ao analisar a reação de indivíduos. As reações emocionais são aquelas que desencadeiam o medo, a irritação, a alteração no humor, ansiedade e falta de motivação, enquanto os aspectos cognitivos estão associados à diminuição da atenção, mudança de percepção, esquecimento, diminuição na capacidade de aprendizado, entre outros.
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Ao considerar de grande importância todos estes aspectos individuais, o estudo da OMS ainda observa que os fatores comportamentais (aqueles associados à diminuição da produtividade, aumento excessivo no consumo de cigarros, erros freqüentes e ausência no trabalho por motivos de doença) contribuem para o aumento do estresse.
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O estresse feminino
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O estudo da OMS revela ainda que, tanto em países emergentes como nos países desenvolvidos, as mulheres no ambiente de trabalho geralmente apresentam maior estresse se comparadas aos homens.
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As razões que explicam esta mudança de comportamento são a dupla jornada de trabalho que exige das mulheres a responsabilidade no lar e no local de trabalho, o assédio sexual, seguido de discriminação quanto às diferenças de renda e pressões exercidas no ambiente profissional. Ainda de acordo com o estudo, os países emergentes, em particular a América Latina e a Ásia, empregam mulheres em escritórios e fábricas, ambos caracterizados como fonte de estresse.
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Em uma estimativa global, a OMS aponta a mulher, como contribuinte indispensável nas economias nacionais, representando, ao redor do mundo, 42 por cento da força de trabalho. A violência doméstica também expõe a mulher como um fator condicionante ao estresse ocupacional, conforme mostra o estudo.
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Gestão do estresse
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Outro estudo voltado para a gestão de riscos no ambiente de trabalho que leva em conta os aspectos psicossociais foi realizado pelo órgão regulador Britânico, Health and Safety Executive (HSE), em maio de 2007.
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O documento, com 126 páginas, analisa desde a atuação de gestores no local de trabalho e sua contribuição no cotidiano dos trabalhadores, até o mapeamento da prevenção de riscos para a redução do estresse ocupacional.
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Outros aspectos como a detecção dos sinais do problema, medidas de ação, análise dos fatores de risco, plano de ação, implementação do plano de ação e avaliação da intervenção, surgem como indicadores para a gestão do estresse ocupacional e auxílio aos especialistas da área de SST.
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O estudo (todo em inglês), está disponível para download em www.hse.gov.uk/research/rrhtm/rr553.htm.
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Alexandra Rinaldi
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Fonte: www.fundacedentro.gov.br
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