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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

4.4.18

Uma catástrofe chamada Brasil

Carta de Berlim: Uma catástrofe chamada Brasil
 
Por Flávio Aguiar

03/04/2018 09:12

Estes são breves apontamentos a partir de uma visita de um mês a S. Paulo e Rio Grande do Sul, mais algumas reflexões sobre momentos posteriores, às vésperas do julgamento do hábeas-corpus do ex-presidente Lula pelo STF.

As capitais destes dois estados são hoje espaços que parecem entregues ao deus-dará, dirigidas por administradores que não têm a menor compreensão da complexidade do fenômeno urbano no século XXI. Um deles mal entrou já vai abandonando a prefeitura para se candidatar ao governo do estado, de olho na presidência. O outro se revelou um proto-fascista pedindo forças federais para conter uma manifestação legítima, quando do julgamento de cartas marcadas do ex-presidente Lula no TRF-4.

Em ambas as cidades proliferam os barracos e tabuleiros pelas ruas, lembrando aquilo que na Argentina se chamou anos atrás de "cuentapropismo", ou seja, a viração por conta-própria diante do aumento dramático do desemprego, do subemprego, da precarização do trabalho, além da multiplicação também dramática do número de pedintes (incluindo crianças) e de  miseráveis pelas ruas, praças, e dos alojados em tendas sob viadutos. Este é um dos retratos repulsivos e deprimentes  da crise econômica profunda e da desorganização da agenda social no país, feitos que os arautos destas políticas retrógradas chamam de "normalidade" e de "recuperação".

Por seu turno, o governo federal, entre outros descalabros, promove ataques à educação, contra as universidades e a autonomia universitária, tudo para defender a semântica do golpe de estado que assola o país desde 2016. Quando do regime de 64, era proibido chamar o Golpe de 1* de abril de Golpe: o nome a ser consagrado era o de "Revolução de 31 de Março". Agora o governo resolve impedir que o golpe que o levou ao poder também seja chamado de "golpe", embora seja de outra estirpe, a parlamentar-jurídica-midiática-policial. O presidente ilegítimo parece um pião a dar voltas sobre si mesmo, com dificuldades para entregar algumas das principais encomendas que recebeu, como a da "reforma" (= destruição) da previdência pública, além de estar acossado - ele e seu grupo - por denúncias de todo lado.

Diante do assassinato da vereadora Marielle no Rio de Janeiro o governo pede pateticamente que suas representações diplomáticas pelo mundo enfatizem as providências que as autoridades devem estar tomando para elucidar o caso. Hoje, este é o principal esforço do corpo diplomático brasileiro no exterior: dar a impressão de que o país está num estado "normal" de funcionamento das instituições. Mas não dá para tapar o país com  esta peneira. No mundo inteiro fontes bem informadas conhecem o estado catastrófico e catatônico em que o Brasil se encontra. É a isto que o governo reduziu o "Exército de Rio Branco": um ajuntamento de pedintes no plano internacional.

Aparentemente os grupos direitistas que ascenderam com o golpe de 2016 têm a faca e o queijo nas mãos, podendo ditar e desditar o que bem entenderem sobre o futuro do país, inclusive o eleitoral, alijando o ex-presidente Lula das futuras eleições e traçando o rumo destas. Entretanto fica cada vez mais evidente que estes grupos - que não se entendem entre si a não ser no esforço de alijar Lula e as esquerdas da disputa e do espaço político - nada têm a oferecer senão o caos, a desordem, a baderna, a violência física, verbal, midiática e virtual, além da sua cupidez em lucrar com o butim das privatizações a toque de caixa e do desmanche das instituições públicas. O Brasil tornou-se complexo demais para caber no tabuleiro de suas ideias parcas, curtas, recessivas e retrógradas.

Os mais extremados destes golpistas puderam-se histéricos quando o STF deu um passo que não estava no seu script, qual seja, o de acenar com a possibilidade de que o ex-presidente não venha a ser preso devido às condenações sem provas de que foi vítima. Multiplicaram-se as pressões sobre os juízes do Supremo em todos os níveis para que violem a Constituição, a presunção de inocência e confirmem o estado de exceção em que o país vive desde 2016 e que venha a permitir o espetáculo circense (daqueles da antiga Roma) da almejada humilhação do ex-presidente, para servir de exemplo de que quem nasceu na senzala lá deve permanecer.

Se conseguirem este objetivo, a balbúrdia nas hostes golpistas não será menor do que se não o conseguirem. Não há entendimento nem programa entre eles, exceto o que importam do pior ideário neo-liberal e norte-americano. A avidez da disputa interna nas direitas transparece, por exemplo, na estupidez com que pré-candidatos que querem se apresentar como "equilibrados" se puseram a imitar declarações da pior espécie do pré- de extrema-direita quando dos tiros contra a caravana de Lula no sul do país, querendo culpar a vítima pela agressão que lhe foi feita, reproduzindo a estrutura do pensamento que culpa a mulher pelo estupro que a agrediu.

O caldo de cultura em que estas atitudes vicejam é o da rifa que partes consideráveis das classes dominantes e médias do país submetem o país, desejosas de manter seus "direitos" a ver direitos como privilégios exclusivamente seus.

Do lado das esquerdas e dos críticos do golpe também há problemas candentes. O melhor que foi produzido nestas estreitas foi simbolizado na união de figuras expressivas (Lula, Boulos, Manuela, Freixo et alii) em torno de um esforço anti-fascista. Também a reação imediata, comovente e veemente de muita gente em todo o país, diante do assassinato de Marielle. Mas há muita confusão e propostas desencontradas. Estas vão desde a procura de FHC para impulsionar uma frente anti-fascista até a pregação de uma abstrata "desobediência civil" ou ainda de uma "luta fora das instituições" que não se sabe muito bem o que seja. Não sei que poderes mágicos o ex-presidente pessedebista teria para organizar o saco de gatos em que seu partido está transformado, sem falar em que muitos destes gatos preferem conviver com os fascistas a se verem juntos aos das esquerdas nesta tal de frente ampla, cujo provável destino seja  de ficar sem fundos que a sustentem. Além de que ele mesmo parece biruta de aeroporto, indo de um lado a outro em declarações seguidamente desencontradas. Sem falar em quem se disponha a votar em Alckmim para impedir a ascensão de Bolsonaro.

De todo modo, quem está lutando, hoje, fora das instituições é o grupo dos golpistas. É possível, e até provável que diante do desacerto que reina entre suas hostes e da sua impossibilidade de apresentar candidaturas viáveis (incluindo-se aí da extrema-direita, que dificilmente bateria um candidato de centro-esquerda ou se esquerda num segundo turno decente), este grupo - ou parte dele - venha a optar pela suspensão sine-die das eleições de outubro. O que somente ampliaria a catástrofe em que o golpe mergulhou o país. Cabe às esquerdas lutar para que este novo AI-5 não desabe sobre nós.


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz