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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

23.4.18

“Estive preso e me impediram de visitar-te”

"Estive preso e me impediram de visitar-te"
21/04/2018

Há uma cena de grande dramaticidade no evangelho se São Mateus quando se trata do Juizo Final", quer dizer, quando se revela o destino último de cada ser humano. O Juiz Supremo não perguntará a que Igreja ou religião alguém pertenceu, se aceitou os seus dogmas, quantas vezes frequentou os ritos sagrados.

Esse Juiz se voltará aos bons e dirá: "Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino preparado para vós desde a criação do mundo; porque tive fome e de me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, estava preso e viestes me ver… todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos e irmãs menores, foi a mim que o fizestes…e quando deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes (Evangelho de S.Mateus,25, 35-45)."

Neste momento supremo, são as práticas e não as prédicas para com os sofredores deste mundo que contarão. Se os tivermos atendido, ouviremos aquelas palavras benditas.

Esta experiência foi vivida pelo Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Perez Esquivel (1931) arquiteto e renomado escultor, grande ativista dos direitos humanos e da cultura da paz, além de ser profundamente religioso e por mim. Ele solicitara às autoridades judiciais brasileiras a permissão de visitar no cárcere o ex-Presidente Lula, amigo de muitos anos.

Da Argentina, Esquivel me telefonou e no twitter foi resumida a conversação numa espécie de youtube. Iríamos juntos, pois eu havia recebido também o assim chamado Nobel Alternativo da Paz em 2001(Award The Right Livelihood) do Parlamento sueco. Mas lhe adiantei que minha visita era para cumprir o preceito evangélico o de "visitar quem está encarcerado" além de abraçar o amigo de mais de 30 anos. Queria reforçar-lhe a tranquilidade da alma que sempre manteve. Confessou-me pouco antes de ser preso: minha alma está serena porque ela não me acusa de nada e me sinto portador da verdade que possui uma força própria e que no seu devido tempo se manifestará.

Chegamos em Curitiba Esquivel e eu, em horários diferentes, no dia 18 de abril. Fomos diretamente ao grande auditório da Universidade Federal do Paraná repleta de gente, para um debate sobre democracia, direitos humanos e a crise brasileira que culminou com a prisão de Lula. Lá estavam autoridades universitárias, o ex-ministro das relações exteriores Celso Amorim, representantes da Argentina, do Chile, do Paraguay, da Suécia e de outros países. Alternadamente cantaram-se belíssimas músicas latino-americanas especialmente com a voz sonora da atriz e cantora Letícia Sabatella. Afrodescentes dançaram e cantaram com suas roupas belamente coloridas.

Fizeram-se vários pronunciamentos. O desalento geral, como por um passe de mágica, deu lugar a uma aura de benquerença e de esperança de que o golpe parlamentar, jurídico e midiático não poderia desenhar nenhum futuro para o Brasil. Antes, encerrar-se-ia um ciclo de dominação das elites do atraso para abrir caminho para uma democracia que vem de baixo, participativa e sustentável.

Já antes da sessão foi-nos comunicado que a juíza Catarina Moura Lebbos, braço direito do juiz Sérgio Moro, havia proibido a visita que queríamos fazer ao ex-presidente Lula.

Essa juíza não deu-se conta do alto significado de que é portador um Prêmio Nobel da Paz. Ele tem o privilégio de correr o mundo, visitar prisões e lugares de conflito no sentido de promover o diálogo e a paz. Agarramo-nos ao documento da ONU de 2015 que se convencionou chamar de "Regras de Mandela" que trata de Prevenção ao Crime e a Justiça Criminal. Aí se aborda também a parte da visita aos encarcerados. O Brasil foi um dos mais ativos na formulação destas Regras de Mandela, embora não as observe em seu território.

Mas de nada nos valeu. A juiza Lebbos simplesmente negou, No dia seguinte, dia 19 de abril, chegamos ao acampamento, onde centenas de pessoas fazem vigília junto ao Departamento da Justiça Federal, onde Lula está preso. Gritam-lhe "Bom dia, Lula", "Lula livre" e outras palavras de ânimo e esperança que ele em seu cárcere pode escutar perfeitamente.

Policiais estavam por todo os lados. Tentamos falar com o chefe para podermos ter uma audiência com o Superintendente da Polícia Federal.

Sempre vinha a resposta: não pode, são ordens de cima. Após muito insistir, com chamadas de telefone indo e vindo, Perez Esquivel conseguiu uma audiência com o Superintendente. Explicou-lhe os motivos da visita, humanitária e fraterna a um velho e querido amigo. Por mais que Perez Esquivel argumentasse e fizesse valer seu título de Prêmio Nobel da Paz, mundialmente reconhecido e respeitado, ouvia sempre o mesmo ritornello: Não pode. São ordens de cima.

E assim, cabisbaixos, retornamos para o meio do povo. Eu pessoalmente insistia que minha visita era meramente espiritual. Iria levar-lhe dois livros "O Senhor é meu pastor e nada me falta",um comentário minucioso que realmente alimenta a confiança. O outro de nosso melhor exegeta Carlos Mesters "A missão do povo que sofre" descrevendo o desamparo do povo hebreu no exílio babilônico, como era consolado pelos profetas Isaias e Jeremias e como a partir daí se fortaleceu o sentido de seu sofrimento e sua esperança.

No Departamento da Polícia Federal tudo era proibido. Sequer um bilhete era permitido para ser enviado ao ex-Presidente Lula.

No meio do povo, falaram vários representantes dos grupos, especialmente um casal da Suécia que sustenta a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz. Falei eu e Perez Esquivel, reforçando a esperança que finalmente é aquela energia ponderosa que sustenta os que lutam pela justiça e por um outro tipo de democracia. Ele anunciou que lançara a campanha mundial para Lula como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Há já milhares de subscrições em todo o mundo. Lula preenche todos os requisitos para isso, especialmente as políticas sociais que tiraram milhões da fome e da miséria e seu empenho pela justiça social, base da paz.

Muitas foram as entrevistas aos meios de comunicação nacionais e internacionais. Algumas fotos do evento começaram girar pelo mundo e vinha a solidariedade de muitos países e grupos.

Aí nos demos conta de que efetivamente vivemos sob um regime de exceção na forma de um golpe brando que sequestra a liberdade e nega direitos humanos fundamentais.

A pequenez de espírito de nossos juízes da Lava Jato e a negação de um direito assegurado a um Prêmio Nobel da Paz de visitar um seu amigo encarcerado, no espírito de pura humanidade e de calorosa solidariedade envergonha nosso país, Apenas comprova que efetivamente estamos sob a lógica negadora de democracia num regime de exceção.

Mas o Brasil é maior que sua crise. Purificados, sairemos melhores e orgulhosos de nossa resistência, de nossa indignação e da coragem de resgatar a partir das ruas e pelas eleições um Estado de direito.

Não esqueceremos jamais as palavras sagradas:"Eu estava preso e tu me impediste de visitá-lo".


Leonardo Boff, testemunha dos fatos aqui narrados

https://leonardoboff.wordpress.com/2018/04/21/estive-preso-e-me-impediram-de-visitar-te/


... 

ÁGUA DA RAZÃO
Ademar Bogo
(Homenagem ao Leonardo Boff pelo impedimento à visita ao Lula)

Há lágrima chorada
Que nunca diz nada...
É lágrima só,
De pena ou dó...
Lágrima chorada
Em qualquer idade,
Pode ser falsidade...
Pode ser de amizade...
Ou felicidade.
Lágrima chorada
No olhar da criança,
É sempre esperança.
Lágrima chorada
Nos olhos do idoso,
É esperançoso...
É também perigoso
Porque é amoroso,
E traz confiança.

Choro a contragosto 
É o coração exposto!
É a ideia no rosto!
É o protesto ao imposto!
É a voz da razão.
É a água sem mágoa!
É a dor que deságua !
Desde o coração.
Se o choro é divino
Cada gota é um hino
Tocado no sino
Da convocação.
É a força! A verdade!
O protesto! A piedade!
É a dor na emoção.
Mas a lágrima quente
É quem rega a semente
Da libertação.
Solidário de novo
Pelas palmas do povo
Tens a gratidão.
Com olhos aflitos
Digamos: Malditos!!
Os que fazem chorar
Por querer distanciar
Um abraço entre irmãos.

...


Leonardo Boff tenta entrar na PF para visitar Lula
Teólogo foi a Curitiba junto com Adolfo Pérez Esquivel e ficou aguardando para ver se conseguia entrar na sede da Polícia Federal
https://www.revistaforum.com.br/leonardo-boff-tenta-entrar-na-pf-para-visitar-lula/

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz