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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

26.4.18

JURISTAS DIZEM QUE DECISÃO DO TRIPLEX PODE SER ANULADA

JURISTAS DIZEM QUE DECISÃO DO TRIPLEX PODE SER ANULADA

O argumento da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um defensor de peso: o próprio Supremo Tribunal Federal; a corte decidiu que o juiz Sergio Moro, da vara de Curitiba, não tem competência para julgar o processo que, por sua vez, não tem relação direta com os crimes cometidos no âmbito da Petrobrás; a decisão do STF provocou gritaria intensa nos procurados da Lava-Jato e no próprio juiz do caso, que já soltou uma nota recriminando a decisão da corte; para o professor do IDP-SP (Instituto de Direito Público de São Paulo), após a decisão do STF, aplica-se ao processo contra Lula a teoria dos frutos da árvore envenenada, em que "se uma prova não pode ser usada, e dessa prova outras foram obtidas, essas novas provas ficam contaminadas"

26 DE ABRIL DE 2018 ÀS 04:37 // INSCREVA-SE NA TV 247

247 – O argumento da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um defensor de peso: o próprio Supremo Tribunal Federal. A corte decidiu que o juiz Sergio Moro, da vara de Curitiba, não tem competência para julgar o processo que, por sua vez, não tem relação direta com os crimes cometidos no âmbito da Petrobrás. A decisão do STF provocou gritaria intensa nos procurados da Lava-Jato e no próprio juiz do caso, que já soltou uma nota recriminando a decisão da corte.

Procuradores da Lava-Jato fizeram declarações à imprensa que, mesmo com a decisão do STF, vão continuar investigando Lula, em clara posição desafiadora ao tribunal.

Diante do precedente, que na visão de analistas reabre toda uma rodada de argumentações, as defesas de outros condenados pela Lava-Jato já aguardam a posição da defesa de Lula para criarem suas respectivas estratégias, uma vez que mudado o entendimento do STF, muda-se a linha de argumentação de todo o tecido jurídico.

Para o advogado Adib Abdouni, ganha força a argumentação que a defesa de Lula traz nos recursos aos tribunais superiores. Ele alerta que a defesa tem justificativas para pedir, através de medida cautelar, o efeito suspensivo da condenação no STJ ou STF. "Como existem elementos que possam vir a anular todo o processo, eles têm argumentos para conseguir essa liminar".

"No processo penal há a chamada teoria dos frutos da árvore envenenada. Se uma prova não poderia ser usada, e dessa prova outras foram obtidas, essas novas provas ficam contaminadas, exceto quando elas são obtidas por outro meio", explica o professor do IDP, João Paulo Martinelli, do Instituto de Direito Público de São Paulo (IDP-SP). Ele se refere às provas que foram obtidas através do acordo de colaboração fechado com ex-executivos da Odebrecht no início de 2017.

Leia mais aqui.




‘O Começo do Fim do Estado Brasileiro’

25 DE ABRIL DE 2018, 16H39

Miguel Nicolelis: "Esse golpe é muito pior que o de 1964, pois carrega a semente da destruição"

Em entrevista ao Tutaméia, neurocientista brasileiro afirma que o que está acontecendo atualmente é a "obliteração total de qualquer vestígio de soberania brasileira"


Foto: Pedro Sibahi/Agência PT


Por Eleonora Lucena e Rodolfo Lucena, no Tutaméia (veja a íntegra)

O golpe iniciado em 2016 é "uma tsunami política que tem um objetivo muito claro: remover qualquer traço de potencial soberania do Brasil, eliminar o Brasil do cenário geopolítico mundial como uma voz dissidente nas Américas e sabotar os Brics". A avaliação é do neurocientista Miguel Nicolelis em entrevista ao Tutaméia.

Para ele, a situação atual é muito pior do que a vivida nos idos de 1964: agora o golpe "carrega dentro dele a semente da destruição, a obliteração total de qualquer vestígio de soberania brasileira".

"É trágico. Se estivéssemos no século 5 a.C aqui, um dos grandes poetas gregos iria escrever uma tragédia grega sobre a história brasileira. Nós somos a manifestação, no século 21, de uma tragédia grega do século 5 a.C. Temos provavelmente um dos comportamentos mais peculiares do mundo, que é essa contínua tentativa de autossabotagem ao próprio país, essa autofagia brasileira, esse tiro no pé crônico é único", afirma.

Nicolelis é um dos mais importantes cientistas do mundo. Membro das Academias de Ciência brasileira, francesa e do Vaticano, doutor em medicina pela USP, ele recebeu mais de 30 prêmios internacionais. Desde 1994, é professor da Duke University, nos Estados Unidos. Ficou mais conhecido do grande público quando, na abertura da Copa de 2014, Juliano Pinto, paraplégico havia dez anos, deu o chute de abertura dos jogos. Três metros atrás de Juliano estava Nicolelis, idealizador (com John Chapin) do paradigma cérebro-máquina que proporcionou a realização do inédito e revolucionário movimento.

Entusiasta da ciência e do Brasil, Nicolelis idealizou o projeto do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Relatou a saga de criação do Campus do Cérebro no Rio Grande do Norte em Made in Macaíba (Planeta, 2016). Seu primeiro livro, Muito Além do Nosso Eu (Companhia das Letras, 2011), foi traduzido em dez línguas.

Início do fim do Brasil

Com toda essa trajetória, Nicolelis fala de um turbilhão de temas nessa entrevista de duas horas ao Tutaméia. Trata de política, de ciência, do futuro do mundo e da humanidade, de redes sociais, fake news. Dá sua opinião sobre a série "Perdidos no Espaço" e conta sobre o livro que acabou de finalizar.

Dois anos depois do impeachment de Dilma Rousseff, o neurocientista ainda lembra da dor aguda que sentiu enquanto acompanhava, desde o seu escritório nos Estados Unidos, a vergonhosa sessão da Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016. Uma votação como aquela, diz, jamais aconteceria no congresso norte-americano ou em outro país.

"Nunca haveria uma votação cujo motivo subliminar é a entrega do país. Não era o jogo de tirar a presidente, que era jogo de cartas marcadas. Em jogo ali era o primeiro capítulo dessa tragédia que um dia pode ser escrita com o seguinte título: 'O Começo do Fim do Estado Brasileiro'. É isso que eu temo deixar para os meus netos", declara. E emenda: "Pode parecer exagero, eu estou muito tranquilo nessa análise. Acho que não demos a devida dimensão do que está havendo aqui".

https://www.revistaforum.com.br/miguel-nicolelis-esse-golpe-e-muito-pior-que-o-de-1964-pois-carrega-a-semente-da-destruicao/

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No dia da Revolução dos Cravos, Teatro Oficina clama liberdade para Lula 

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Monja Coen sobre o Lula Livre: "não é momento de silenciar depois de dois anos de absurdos"
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-monja-coen-sobre-o-lula-livre-nao-e-momento-de-silenciar-depois-de-dois-anos-de-absurdos/

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BETH CARVALHO canta a música Lula Livre de autoria de Claudinho Guimarães 

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25.4.18

Eletrobras pagou quase R$ 2 milhões para piorar imagem da própria empresa

GOLPE

Eletrobras pagou quase R$ 2 milhões para piorar imagem da própria empresa

Notas de coluna, comentários na televisão, pautas construídas para demonstrar a necessidade urgente da privatização foram impulsionadas pelo grupo FSB Comunicação, em licitação "pela metade"
por Lúcio de Castro, do Sportlight publicado 24/04/2018 14h25
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
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Wilson Ferreira Júnior assumiu a Eletrobras com uma missão específica dada por Michel Temer: conduzir o processo de privatização

Sportlight – A Eletrobras pagou quase dois milhões de reais para ser mal falada. Sem licitação.

Tratada oficialmente como "desestatização" ou "democratização do capital", a privatização da empresa, prioridade do governo de Michel Temer, recebeu um forte impulso em 20 de setembro de 2017, quando a estatal assinou com a RP Brasil Comunicações, do grupo FSB Comunicação, a maior assessoria de imprensa do país.

Objeto do contrato ECE-DJS 1252/2017, obtido pela reportagem via Lei de Acesso à Informação (LAI): "assessorar a Eletrobras na comunicação relativa ao projeto de acionista majoritário de desestatização da empresa".

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O valor exato do contrato foi de R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos reais). Sendo R$ 1.574.000,00 (um milhão, quinhentos e setenta e quatro mil reais) para elaboração e execução do objeto, dividido em vários itens (ver quadro abaixo) e R$ 226.000,00 para despesas comprovadas com a execução.

Em busca de uma mobilização da opinião pública e formação de ambiente favorável para a privatização, a empresa traçou como estratégia a divulgação de um cenário de mazelas e problemas da estatal. Para tal, era preciso acionar os chamados formadores de opinião, imprensa, soltar notas em colunas de jornais, municiar comentaristas economicos, pautar a mídia em geral, mostrando sempre um cenário que tornasse urgente tal privatização, acelerada pela pressa do governo federal em concretizar o negócio. A empresa nega tal viés e afirma que no contrato está ressaltada a necessidade de se "preservar a imagem positiva da empresa", embora reconheça que a divulgação "não omite dados negativos como prejuízos financeiros ou dívida bruta superior a R$ 45 bilhões" (ver "outro lado ao fim da reportagem).

De acordo com o plano desenhado no contrato, foi feita uma "análise do cenário", passando em seguida para o chamado "mapeamento dos stakeholders", ou seja, definição de quem é o público estratégico alvo das mensagens a serem enviadas. Em um segundo momento, veio a chamada "mobilização dos influenciadores", item discriminado com custo de R$ 170.000,00 (cento e setenta mil) dentro do milhão e oitocentos reais do projeto total.

Em um dos 10 itens incluídos no plano de ação da FSB e apresentado no contrato, estava a execução de uma pesquisa de opinião pública para se verificar a popularidade do plano de se privatizar a Eletrobras, com custo específico de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil).

O contrato entre Eletrobras e FSB prevê ainda, em seu item 7.1, que os pagamentos entre contratante e contratada serão feitos quando da "entrega dos relatórios mensais elaborados pela contratada correspondentes à consolidação dos resultados alcançados". A reportagem solicitou tais relatórios também através de novo pedido de Lei de Acesso à Informação, mas, embora o contrato em si tenha sido disponibilizado também via LAI, ainda que em recurso de última instância, o acesso aos relatórios foi negado.

Um terceiro pedido de Lei de Acesso à Informação foi feito junto à Eletrobras. Relativo às informações sobre o suposto processo de licitação para o contrato em questão, o ECE-DJS 1252/2017. Solicitando o nome dos participantes da disputa, as propostas, os documentos do processo e o resultado final. Também foi negado em primeira e segunda instância.

Na negativa, a Eletrobras justifica o segredo quanto ao processo de licitação do que chama de "democratização do capital social" afirmando que "trata-se de informação estratégica da Eletrobras, posto que os documentos solicitados estão diretamente ligados à atuação da empresa no mercado concorrencial". E segue: "Isso porque as informações relativas ao contrato RP Brasil Comunicações (FSB Comunicação) são pilares fundamentais do processo de democratização do capital social da Eletrobras". Destaca ainda a importância estratégica do contrato entre Eletrobras e FSB: "Com efeito, vale ressaltar que divulgação de informações acerca do Contrato com a RP é tão sensível que pode trazer prejuízos ao denominado processo de democratização".

A reportagem interpôs recurso à Controladoria Geral da União (CGU), alegando a contradição entre ter tido acesso ao contrato mas ter tido negado vista aos relatórios e licitação, além de outras questões da LAI que garantem tal acesso. A CGU não respondeu até aqui.

Apesar da negativa da Eletrobras na transparência do acesso ao processo de licitação, a reportagem apurou com diferentes fontes como se deu tal disputa. Ou na verdade, como não se deu a disputa. Ao menos a partir de certo ponto.

Em meio a corrida do governo Temer para privatizar a Eletrobras, foi feita uma "tomada de preços" para definir-se quem iria ficar com o contrato ECE-DJS 1252/2017. A tomada de preços é um momento crucial de uma licitação, onde fica determinado o patamar do preço onde será realizado o leilão final e onde são demonstrados os parâmetros de preço do mercado. É também, falando-se de maneira geral e genérica, um momento da licitação onde os preços podem ser jogados para cima e superfaturados.

O livro "Uma análise diante das vulnerabilidades das licitações públicas no Brasil" (José Luciano de Oliveira, Descartes Almeida Fontes, Rodrigo Alexandre e Bruno Andrey), mostra que, novamente de maneira geral, "nesta fase podem ocorrer diversos tipos de fraudes como montagem de licitação, acordo prévio, acerto de preços, superfaturamento e habilitação de empresas inexistentes".

Geralmente são utilizados três orçamentos de empresas diferentes. Ao contratar os serviços em jogo, a instituição realiza os procedimentos licitatórios conforme a legislação específica, podendo participar nessa fase tanto empresas que foram orçadas na fase de análise da tomada de preços quanto qualquer outra empresa, desde que observando os valores de mercado. Assim, sempre que vencida a etapa da tomada de preços, é realizada a licitação.

O pouco usual é o que ocorreu na Eletrobras em relação ao contrato ECE-DJS 1252/2017, de acordo com diversas fontes ouvidas pela Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo. Os relatos, que se completam, dão conta que algumas das maiores empresas do país no ramo de assessoria e comunicação participaram do certame. Além da própria FSB, apresentaram propostas a Companhia de Noticias (CDN) e a Informe Comunicação. As três ocupam o pódio em contas do governo federal com reconhecida notória especialização em estratégia de comunicação.

De acordo com as apurações da reportagem, a Informe Comunicação teria apresentado a proposta de menor custo financeiro, ficando em primeiro lugar. A FSB teria ficado em segundo. No entanto, após o resultado da "tomada de preços" das empresas chamadas para uma licitação, a regra do jogo mudou: a Eletrobras resolveu escolher a vencedora pela modalidade de "inexigibilidade", onde se dispensa uma concorrência e se promove uma contratação direta. A lei concede o direito ao contratante de escolha do fornecedor caso existam razões que justifiquem a dispensa de licitação.

No contrato em questão, a Eletrobras alegou que "em face da sua complexidade e singularidade, bem como confidencialidade, por envolver informações estratégicas da empresa, somente poderia se dar através de inexigibilidade de licitação, o que impossibilita o estabelecimento de critérios objetivos, requerendo empresa de notória especialização em estratégia de comunicação" como está em resposta da Eletrobras ao fim da reportagem em "Outro Lado". Os demais envolvidos na "tomada de preços" tem contrato com outras entidades do próprio governo federal para desenvolver estratégias de comunicação.

Em 17 de outubro de 2017, quase um mês depois da assinatura do contrato entre FSB e Eletrobras, a empresa publicou no Diário Oficial da União o resultado, anunciando o resultado com a FSB como detentora do contrato por "inexigibilidade de licitação".

Os bastidores da concorrência que não houve apontam para uma mão determinante em optar depois da tomada de preços pela "inexigibilidade de licitação" que decretou a vitória da FSB: Wilson Pinto Ferreira Junior, nomeado por Michel Temer para presidir a estatal.

Wilson Pinto Ferreira Júnior, de 58 anos, assumiu a Eletrobras com uma missão específica dada por Michel Temer: conduzir o processo de privatização. Começou a vida profissional na Companhia Energética de São Paulo (CESP) e foi alçado a gerente de distribuição da empresa na primeira gestão de Mário Covas como governador de São Paulo (1995). Em 1998 passou para a iniciativa privada como o primeiro presidente da Rio Grande Energia, criada após a privatização parcial da distribuição de energia elétrica no estado do Rio Grande do Sul pelo então governador Antônio Britto. Assumiu a presidência da empresa CPFL em março de 2000 e, desde 2002 presidiu a holding.

A nomeação de Wilson Pinto Ferreira Júnior por Michel Temer foi em 22 de julho de 2016. Cerca de um mês antes da nomeação, mais exatamente no dia 16 de junho de 2016, Wilson Pinto Ferreira Júnior abriu duas empresas: a Kalimantan Empreendimentos e Participacoes, tendo como atividade principal a "compra e venda de imóveis próprios" e a Wilpifer Participacoes Ltda, com atividade de "holding de instituições não financeiras".

Exatamente no mesmo dia em que foi nomeado para a presidência da Eletrobras, 22 de julho de 2016, o executivo promoveu um aumento de capital social da Kalimantan Empreendimentos e Participacoes, passando de R$ 1.000,00 (mil reais) para R$ 3.596.705 (três milhões, quinhentos e noventa e seis mil e setecentos e cinco reais), e também na Wilpifer Participacoes, onde o capital social sai de R$ 1.000,00 (mil reais) para R$ 7.232.698,00 (sete milhões, duzentos e trinta e dois mil, seiscentos e noventa e oito reais). A reportagem enviou questões para o presidente da Eletrobras sobre a coincidência de datas através da assessoria de imprensa. (ver resposta abaixo em "Outro Lado").

Desde que Michel Temer assumiu a presidência, em 12 de maio de 2016, a privatização da Eletrobras tem sido obsessão do governo, que já editou três Medidas Provisórias (MP) para viabilizar a venda da Eletrobras.

Com Temer ainda de presidente interino, o poder executivo editou a Medida Provisória (MP) 735, aprovada pelo Congresso, na intenção de facilitar a transferência do controle de ativos e as privatizações de distribuidoras da Eletrobras.

Em 2017 veio a MP 814, retirando da Lei 10.848/2004, que trata da comercialização de energia, o artigo que excluía a Eletrobras e suas controladas — Furnas, Companhia Hidroelétrica do São Francisco, Eletronorte, Eletrosul e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) — do Programa Nacional de Desestatização.

O relator da MP 814/2017 é o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ), ex-secretário de transportes do Rio na gestão Sérgio Cabral, que aparece na delação premiada de Benedicto Júnior, da Odebrecht, em denúncia de recebimento de R$ 15,6 milhões, como está em planilha entregue ao Ministério Público Federal (MPF-RJ). Pela delação, entre 2008 e 2014, o deputado teria recebido 91 pagamentos. O relator da MP de privatização da Eletrobras atendia na lista de propinas da Odebrecht pelos apelidos de "Pavão", "Bonitão", "Bonitinho", "Velho" e "Casa de Doido". Júlio Lopes é citado ainda em depoimento de Jacob Barata, o "Rei do Ônibus", sobre recebimento de propinas no esquema de caixinha para políticos da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).

Já o ex-deputado Pedro Corrêa cita em depoimento o relator da MP 814/2017 da seguinte forma: "Esse cara tem que ser investigado. Esse cara fez miséria na secretaria no Rio". E conta ainda que, diante da voracidade de "Casa de Doido", deu o seguinte conselho, tanto a ele quanto a Eduardo Cunha, preso na Lava Jato: "Olha, se vocês que acabaram de chegar a Brasília forem com tanta sede ao pote, vão acabar cassados". Júlio Lopes nega todas as acusações.

Em sua propaganda, o governo alardeia que deve alcançar R$ 12,2 bilhões na privatização, sempre tratada como "democratização do capital". No entanto, de acordo com o próprio Ministério de Minas e Energia, o valor patrimonial da estatal é de R$ 46,2 bilhões e o total de ativos da empresa chega a R$ 170,5 bilhões. Além de R$ 541 bilhões investidos desde a criação, em 1962.

Uma guerra de liminares e no Congresso Nacional tem sido travada sobre o tema. Para tentar ganhar a batalha de informação, a Eletrobras lançou a campanha de comunicação do "projeto de acionista majoritário de desestatização da empresa", que está no contrato aqui tratado, o ECE-DJS 1252/2017, da licitação que acabou com a FSB. Nos jornais, é possível ver, de acordo com o levantamento da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo, a difusão maior e aumento no tom das notícias negativas quanto a gestão e resultados da Eletrobras após a assinatura do contrato com a FSB.

Notas de coluna, comentários na TV, pautas construídas para demonstrar a necessidade urgente da privatização, como nos casos reproduzidos abaixo. Em todos os meios de comunicação. Notícias do quão lucrativo seria o leilão, manchetes sobre os prejuízos que os "obstáculos na privatização" causam, notas diárias em colunas de analistas mostrando que só há tal caminho diante dos números da estatal.

A FSB Comunicação, iniciais de Francisco Soares Brandão, é a maior agência de comunicação do Brasil. O dono foi protagonista de um perfil sobre assessorias de imprensa no Brasil, escrito por Luiz Maklouf Carvalho para a Revista Piauí em 2015. De acordo com a reportagem, os números então eram de "700 funcionários e 200 clientes, entre os quais meia dúzia de ministérios, estatais como a Petrobras, os governos estadual e municipal do Rio, além de algumas outras prefeituras, como a de Campinas, e dezenas de grandes empresas do setor privado", com sede no Rio e filiais em São Paulo, Brasília e Campinas, além de escritório em Nova Iorque. Com faturamento de R$ 200 milhões em 2014, de acordo com a reportagem. Mais da metade vindo do setor público.

De acordo com o perfil, foi na era de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio e atualmente preso por corrupção, que a FSB deu o salto de tamanho. De pouco mais de 100 funcionários, multiplicou em sete vezes. "Em seus governos, Cabral na prática terceirizou a comunicação do estado para a FSB. A agência mandava em tudo – da estratégia de comunicação aos funcionários que cada secretaria teria. Pelo menos setenta jornalistas da FSB passaram a trabalhar alocados nas principais pastas do governo estadual", diz o texto.

A supremacia da FSB também se deu nas prefeituras de Eduardo Paes, onde dominou a comunicação. A empresa está citada na Lava Jato. Em acordo de delação premiada, o publicitário Renato Pereira relatou ter atuado para direcionar o contrato de comunicação da prefeitura do Rio à FSB Comunicação em 2015, um ano antes da Olimpíada do Rio. Em função desse contrato, o marqueteiro diz ter recebido cerca de 30% dos lucros da FSB. Em reportagens sobre o tema publicadas na ocasião, o ex-prefeito Eduardo Paes negou direcionamento do contrato de comunicação da prefeitura. Já a FSB, de acordo com nota publicada no jornal O Globo na ocasião, reconheceu trabalhos em conjunto com a empresa de Renato Pereira, a partir de "relações absolutamente legítimas".

No último 6 de abril, Fernando Coelho Filho (MDB-PE) deixou o Ministério das Minas e Energia (MME), que abrange a Eletrobras e onde estava desde o início do governo Temer. Durante o mandato, o ministro notabilizou-se pela determinação na entrega de algumas das maiores riquezas do país a grupos estrangeiros, sendo a mais notória ação a MP que extinguia a RENCA e também a atuação a favor de mineradora estrangeira na Floresta de Jamanxim, como mostrou o "Dossiê Renca" da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo.

Em seu lugar assumiu Wellington Moreira Franco, do círculo mais próximo a Michel Temer. Conhecido como "gato angorá" na lista da Odebrecht e citado na delação do presidente da Andrade Gutierrez, Moreira Franco ganhou proteção do amigo Temer sendo nomeado em 12 de maio de 2016 para a função de Secretário do Programa de Parcerias de Investimentos do Brasil, mas com status de ministério, garantindo assim o foro privilegiado. Em 3 de fevereiro de 2017 virou Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência do Brasil, onde ficou até o último 6 de abril, quando assumiu o Ministro de Minas e Energia do Brasil. Desde o anúncio de sua posse, as ações da Eletrobras desabaram R$ 2,6 bilhões em uma semana. Embora investigado por sua ação em processos de privatizações, é ele que agora irá conduzir o processo de privatização da Eletrobras.

Outro lado

A reportagem enviou através da assessoria de imprensa as questões abaixo para a Eletrobras. Veja as respostas:

Pergunta:

1- O objeto do contrato em questão fala em "assessorar a Eletrobras na comunicação relativa ao projeto de acionista majoritário de desestatização da empresa". De acordo com levantamento e apuração feitos por esta reportagem, desde 20 de setembro, quando assinado tal acordo entre Eletrobras/FSB, cresceu o número de reportagens na imprensa apontando mazelas da empresa, embasado em subsídios e pautas fornecidos a partir deste contrato. Repassar tais questões da Eletrobras era parte do acordo? No que consistia exatamente tal assessoramento da FSB?

Resposta: – Conforme o objeto do contrato citado, a contratação de empresa de consultoria em estratégia empresarial objetivou assessorar a Eletrobras na comunicação relativa ao projeto de desestatização da empresa. A preservação da imagem positiva da empresa faz parte, inclusive, do projeto básico desta contratação, conforme trecho destacado a seguir: "A contratação tem também como objetivo preservar a confidencialidade de informações estratégicas e assegurar agilidade e assertividade nas ações estratégicas de comunicação necessárias ao sucesso do projeto, reduzindo o impacto negativo e preservando a imagem positiva da empresa.

Por se tratar de um tema que desperta grande interesse da imprensa, as demandas dos veículos de comunicação por informações sobre a Eletrobras e por entrevistas com seus porta-vozes aumentaram. Em um processo desta complexidade, surgem diversas especulações e, por meio do assessoramento da FSB, a Eletrobras tem buscado esclarecer aos seus diversos públicos de relacionamento, como a sociedade de maneira geral, acionistas, parlamentares e empregados, as consequências e benefícios em caso de a empresa ser ou não privatizada, sob aspectos de sua capacidade de investimentos e sustentabilidade a longo prazo.

Neste maior número de oportunidades de exposição da empresa na mídia, tem-se destacado as melhorias que estão sendo implantadas e as mudanças implementadas pela atual gestão. Destacam-se, nas comunicações à imprensa, as metas elencadas no Plano Diretor de Negócios e Gestão da companhia e os avanços em cada uma das iniciativas relacionadas ao plano. Porém, até mesmo para parametrizar as conquistas alcançadas, é preciso contextualizar os dados de uma empresa em recuperação, que, em função de seu compromisso com a transparência, não omite dados negativos como prejuízos financeiros ou dívida bruta superior a R$ 45 bilhões.

Pergunta:
2- Em um dos 10 itens incluídos no plano de ação da FSB e apresentado no contrato, estava a execução de uma pesquisa de opinião pública para se verificar a popularidade do plano de se privatizar a Eletrobras, com custo específico de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil) dentro do preço total do contrato, de R$ 1,8 milhão. O acesso aos resultados de tal pesquisa foi negado para a Agência Reuters, de acordo com reportagem da mesma em março último. Tampouco foram divulgados na imprensa em forma de reportagem ou notas de colunas. Qual o resultado e qual o critério para não ter sido divulgado? Gostaria de esclarecer ainda se somente notícias negativas da empresa e consequentemente positivas para o cenário da privatização foram trabalhados pela assessoria junto aos chamados "formadores de opinião" da imprensa.

Resposta:– O objetivo da pesquisa é orientar as ações da empresa bem como subsidiar a elaboração da estratégia de comunicação. Representa, portanto, ferramenta estratégica de mapeamento de cenário, não sendo sua divulgação parte da estratégia de atuação definida. Quanto aos formadores de opinião, estes são informados sobre o cenário da empresa e os benefícios esperados com a privatização.

Pergunta:
3- Gostaria de saber ainda se não infringe as normas técnicas, éticas e regulamentos da empresa o fato de estar se contratando uma empresa para divulgar fatos negativos da própria empresa, como apurado pela reportagem junto aos meios de imprensa e em checagem no conteúdo publicado desde a vigência do contrato Eletrobras/FSB.

Resposta:– Conforme já detalhado na primeira questão, a empresa foi contratada para assessorar a Eletrobras na comunicação relativa ao processo de desestatização, esclarecendo seus principais pontos à opinião pública.

Pergunta:
4- O processo de licitação para o contrato Nº ECE-DJS-1252/2017 foi disputado pela FSB, Companhia de Noticias (CDN) e a Informe Comunicação, tendo esta última, a Informe Comunicação, sido a vencedora em primeiro momento. No entanto, acabou sendo preterida pela FSB para tal contrato. Qual a razão e justificativa para tal?

Resposta:– A Eletrobras não realizou um processo licitatório. O objeto pretendido pela Eletrobras, contratação de serviços de consultoria especializados, em face da sua complexidade e singularidade, bem como confidencialidade, por envolver informações estratégicas da empresa, somente poderia se dar através de inexigibilidade de licitação, o que impossibilita o estabelecimento de critérios objetivos, requerendo empresa de notória especialização em estratégia de comunicação, conforme previsto na Lei 8.666/93, inc. III do artigo 13 e Inc. II do artigo 25 e artigo 26 da Lei.

Na inexigibilidade, que é uma contratação direta, é concedida à Administração a possibilidade de escolha do fornecedor que, no seu entender, tem melhores condições de executar o objeto. Nesta modalidade de contratação, o preço não é um fator determinante, embora haja um rito próprio para sua verificação. A comprovação da prática de preços justos, nesses casos, conforme estabelece o Tribunal de Contas da União (TCU), deve ser dada pela própria empresa a ser contratada, que apresenta documentação comprobatória de que os preços que está a cobrar da Administração estão compatíveis com a prestação de serviços semelhantes a outras empresas.

Assim sendo, mesmo com a premissa de contratarmos a RP BRASIL COMUNICAÇÕES (FSB Comunicação) em virtude da sua irrefutável notoriedade no mercado de comunicação corporativa, solicitamos propostas a outras empresas, ainda que não seja isto exigido na contratação Direta por inexigibilidade. A Eletrobras foi ao mercado solicitar orçamentos para o referido serviço por entender que as propostas poderiam ser mais um elemento em sua análise sobre a empresa que estaria mais apta a executar o objeto. Das empresas com notoriedade compatível com a RP BRASIL COMUNICAÇÕES (FSB Comunicação) que lideram o ranking das maiores agência de comunicação corporativa no Brasil, o preço da FSB foi o menor.

Pergunta:
5- Wilson Pinto Ferreira Júnior foi nomeado como presidente em 22 de julho de 2016. Cerca de um mês antes da nomeação, mais exatamente no dia 16 de junho de 2016, Wilson Pinto Ferreira Júnior abriu duas empresas: a Kalimantan Empreendimentos e Participacoes, tendo como atividade principal a "compra e venda de imóveis próprios" e a Wilpifer Participacoes Ltda, com atividade de "holding de instituições não financeiras". E no mesmo dia em que é nomeado, 22 de julho de 2016, o sr Wilson Pinto Ferreira Júnior promove um aumento de capital social da Kalimantan Empreendimentos e Participacoes, passando de R$ 1.000,00 (mil reais) para R$ 3.596.705 (três milhões, quinhentos e noventa e seis mil e setecentos e cinco reais), assim como na Wilpifer Participacoes, onde o capital social sai de R$ 1.000,00 (mil reais) para R$ 7.232.698,00 (sete milhões, duzentos e trinta e dois mil, seiscentos e noventa e oito reais). Qual a razão para ter promovido tal aumento de capital nas duas empresas no mesmo dia em que assumiu a Eletrobras?

Resposta:– As duas referidas empresas foram criadas por orientação dos advogados do presidente Wilson por se constituírem estruturas societárias mais eficientes para a sucessão. Tendo dois filhos, de dois casamentos diferentes, com uma grande diferença de idade entre eles (5 e 21 anos), a opção de transferir para as empresas os bens imóveis que adquiriu ao longo de sua trajetória teve por objetivo assegurar uma sucessão tranquila. O aumento de capital a que se refere a pergunta foi realizado quando os bens imóveis, devidamente registrados na declaração de imposto de renda, foram transferidos da pessoa física para a pessoa jurídica. Quanto à data de realização da operação, não tem qualquer relação com sua entrada na Eletrobras, até porque se trata de uma operação que já vinha sendo preparada anteriormente.

FSB 

A reportagem enviou questões para a FSB Comunicação sobre o contrato e o processo de escolha. A empresa enviou a resposta abaixo:

Resposta:- "A FSB não se pronuncia sobre contratos em vigor com seus clientes".





24.4.18

Flávio Koutzii: “Há uma engrenagem de destruição física e psíquica de Lula na PF em Curitiba”

Flávio Koutzii: "Há uma engrenagem de destruição física e psíquica de Lula na PF em Curitiba"

Flavio Koutzii: "A estrutura dela (da cela de Lula) é exatamente igual a do sistema prisional que a ditadura argentina usou para destruir seus opositores. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Marco Weissheimer

Flávio Koutzii passou quatro anos preso, entre 1975 e 1979, em cinco prisões da ditadura argentina. Foi preso por integrar a Fracción Roja do PRT e do ERP (Partido Revolucionário dos Trabalhadores – Exército Revolucionário do Povo), que participou da resistência armada à ditadura. Após sair da prisão, Koutzii foi para a França, onde se diplomou em Sociologia na "École des Hautes Études en Sciences Sociales", onde defendeu a tese "Système et contre-système carceral pour les prisonniers politiques en Argentine" – 1976-1980", que serviu de base para o livro "Pedaços de Morte no Coração", publicado no Brasil em 1984 pela L&PM. Koutzii citou essa pesquisa, durante debate realizado segunda-feira (23) à noite no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, para falar da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Promovido pelos mandatos da deputada estadual Stela Farias e do deputado federal Henrique Fontana, do PT, o debate, que lotou o auditório do SindBancários, reuniu Flávio Koutzii e Lenio Streck, convidados para falar sobre o "colapso da democracia e a ascensão do conservadorismo no Brasil". Koutzii lembrou do estudo baseado na vivência direta que teve nas prisões da ditadura argentina, para falar da prisão de Lula.

"Tenho uma certa experiência sobre isso. Passei quatro anos preso na Argentina e depois, em liberdade, escrevi um trabalho sobre o sistema prisional em que vivi. Passei por cinco prisões e procurei sistematizar o modelo que cada uma usava para tentar coagir e destruir física e psiquicamente os prisioneiros. Quando olhei o desenho da cela onde Lula foi colocado na Polícia Federal em Curitiba, que é apenas um pouquinho maior daqueles em que fiquei na Argentina, vi que a estrutura dela é exatamente igual a do sistema prisional que a ditadura argentina usou para destruir seus opositores, uma ditadura, cabe lembrar, que 'desapareceu' 30 mil pessoas".

Flávio Koutzii disse que ficou pasmo com o que os meios de comunicação estavam reproduzindo sobre os supostos "privilégios" que Lula estaria usufruindo no prédio da Polícia Federal em Curitiba. "Havia coisas que tínhamos, como um período para tomar sol, que não está claro se Lula está tendo. Estou cada vez mais convencido que há uma engrenagem de destruição física e psíquica de Lula em Curitiba".

O diagnóstico de Koutzii acerca do tratamento ao qual Lula vem sendo destinado foi acompanhado de uma advertência sobre a duração desse processo: "Isso não vai se resolver em seis meses. É preciso ter isso em mente na luta de resistência. Eles não conseguiram a imagem que queriam na prisão de Lula. Pelo contrario, a imagem que ficou foi ele sendo carregado nos braços do povo". Para o ex-deputado estadual e ex-chefe da Casa Civil do governo Olívio Dutra, a prisão de Lula representa uma virada na história do Brasil. "Parece o momento de uma derrota, mas não é uma derrota irreversível". Mais uma vez, ele lembrou da Argentina, mais especificamente do peronismo. "Desde os anos 50, com tudo o que aconteceu, é impossível fazer política na Argentina sem o peronismo. Resguardadas todas as diferenças, não tenho dúvida em dizer que não haverá política no Brasil sem Lula. Eles têm a Globo, o Moro e aquele dono de puteiro, mas nós temos uma figura gigantesca".

Para Lenio Streck, o sistema judicial dos azembe, na África do Sul, ofereceria maiores chances de justiça a Lula do que o sistema brasileiro. No sistema azembe, assinalou, os pajés preparam um veneno que é ingerido por um pintinho. "Se o pintinho morre, o réu é condenado; se ele vive, é absolvido. Neste sistema, Lula teria pelo menos 50% de chances de ser absolvido". Streck classificou como extremamente grave o que em acontecendo no sistema judicial brasileiro. O item 9 do acórdão da sentença contra Lula, assinalou, diz que não se pode exigir do Ministério Público uma postura isenta no processo. "Adverti meus colegas do MP que eles não poderiam aceitar isso, mas descobri que eles próprios eram os autores dessa formulação".

Essa situação, ressaltou, se fortaleceu graças à postura da própria esquerda brasileira que negligenciou coisas que não deveria ter negligenciado. "Aquilo que nós desprezamos está nos destruindo. Uma parcela da esquerda desdenhou o Direito e agora que precisa dele ele não está mais lá". Lenio Streck disse acreditar, por outro lado, que o STF está metido em uma 'sinuca de bico', especialmente apos a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), impetrada pelo PCdoB, pedindo a declaração de constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo Penal e a proibição da execução antecipada da pena. Essa ADC, observou Streck, tem a ver com um ponto levantado por Gilmar Mendes, segundo o qual, o voto do falecido ministro Teori Zavaski apontou a possibilidade de prisão após decisão em segunda instância e não obrigatoriedade.

Lenio Streck (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Lenio Streck ironizou o caminho adotado pelo ministro Edson Fachin, dizendo que ele está fazendo exatamente o percurso contrário de São Paulo. "Fachin faz o caminho inverso ao feito por Saulo, faz o caminho contrário de Damasco". E apontou a parcela de responsabilidade da esquerda em relação ao que está acontecendo hoje. "A ministra Rosa Weber aplicou o drible da vaca em seu voto ao adotar a tese da colegialidade, mas é bom lembrar que essa tese foi defendida pela esquerda. A tese de que você tem que ser coerente mesmo no erro e que a soma dos votos de um colegiado vincula o seu voto. Esse foi o fator principal da prisão de Lula e de várias outras pessoas˜", acrescentou.

Streck criticou a lógica que vem imperando nas faculdades de Direito. "As faculdades de Direito não estão formando apenas analfabetos funcionais, estão formando fascistas. O professor de Direito Constitucional, hoje, é um subversivo. Ao dar aula de Direito Constitucional ele pode ser acusado de obstrução de justiça".

Galeria de fotos:

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/politica/2018/04/flavio-koutzii-ha-uma-engrenagem-de-destruicao-fisica-e-psiquica-de-lula-na-pf-em-curitiba/


23.4.18

Paul Singer

"O grande problema de qualquer governo é que precisa ter maioria no parlamento. A bancada ruralista é majoritária hoje no parlamento. À medida que a população elege um parlamento com essas características o executivo tem menos espaço para fazer o que precisa ser feito." Paul Singer, ex-Secretário Nacional de Economia Solidária, no programa roda viva, em 23/12/2012.

Cartas do povo brasileiro ao presidente Lula

Cartas do povo brasileiro ao presidente Lula

Mensagens de solidariedade e resistência também chegam de diversas partes do globo; endereço para envio será centralizado no Instituto Lula

Publicado em 23/04/2018

Foto: Ricardo Stuckert

Elas chegam de toda parte. Acumulam palavras de solidariedade, resistência e gratidão. Trazem orações, rezas, memórias e desejos para o futuro. Já são mais de dez mil cartas endereçadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

São tantas que a Superintendência da Policia Federal em Curitiba já não dá conta de receber. A partir de agora, o envio deve ser centralizado na sede do Instituto Lula, em São Paulo, onde o ex-presidente confia de que serão recebidas. 

Os remetentes variam da Bahia a Noruega. Da simplicidade de Aninha, de 8 anos, que descreve em letras de forma coloridas a tristeza de ver Lula preso, à mensagem do prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, impedido de visitar Lula no cárcere. 

Do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis vem uma das cartas que melhor retrata o porque as caixas de correio da PF terminaram abarrotadas. Um vínculo que manteve após chegar ao Poder e tornar-se o primeiro chefe de Estado a receber os catadores no Palácio do Planalto. "Presidente, todos os dias estaremos presos aqui, a poucos metros do senhor, dando bom dia e boa noite, junto com os outros lutadores sociais que por aqui permanecem. Jamais abandonaremos quem nunca nos abandonou", escrevem os catadores.

De Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação, amigo de longa data e de muitas lutas, o recado veio carregado de fé. "Querido amigo irmão Lula, esse é o salmo da consolação. O senhor é meu pastor e nada me faltará. O povo e Deus irão libertá-lo". Boff também teve seu acesso a Lula negado. O isolamento e a restrição às visitas faz com que as cartas se tornem o único meio de comunicação e solidariedade o ex-presidente. Privado de responder pessoalmente as carinhosas mensagens que se acumulavam, em seu sexto dia de confinamento Lula enviou por meio de seus familiares o aviso de que lia o material e com ele se emocionava.

No recado de Esquivel, que lidera campanha internacional para tornar Lula Nobel da Paz, o argentino escolheu ilustrar o presidente rompendo as correntes que o aprisionam em Curitiba. Da Noruega também chegam votos de que o ex-presidente seja libertado e possa receber, em Oslo, o prêmio por sua contribuição histórica ao combate à miséria. "Fé em Deus que o senhor sairá dessa prisão e ainda vai receber o prêmio Nobel da Paz em Oslo, no qual estarei presente", escreve Carlinda, brasileira que vive ali há mais de dez anos e veio do país nórdico apenas para prestar solidariedade ao acampamento Lula Livre e fazer sua mensagem chegar a Lula.

Da cidade de São Bernardo, onde Luiz Inácio se tornou Lula, chegam emocionantes relatos dos que acompanharam os dias que precederam a prisão de Lula e que por ele estão dispostos a manter a resistência. "Toda aquela gente sitiando o entorno do sindicato com disposição para mover céus e terras pela sua liberdade... Apesar de tê-lo em confinamento forçado, as pessoas tem saído de trás das armaduras da inércia para compreender que a ação desleal e golpista afetará toda a classe trabalhadora", escreve a jovem Iara Bento, em um relato de esperança ao ex-presidente.

Do Recife a São Paulo, centrais de cartas também se espalharam pelo país. Um dos incumbidos da missão de reunir as mensagens de carinho que chegam de toda parte, o ex-prefeito de Osasco e membro da Executiva Nacional do PT, Emídio de Souza, resumiu a sensação ao se deparar com as mais de dez mil correspondências. "Me ver naquele mar de cartas foi como sentir um pouco do imenso carinho do povo brasileiro por Lula e da sua solidariedade diante de uma condenação injusta e sem provas", descreveu.

A partir de agora, o envio deve ser centralizado no endereço da Sede do Instituto Lula, na Capital Paulista. Para escrever ao ex-presidente Lula: Rua. Pouso Alegre, 21 - Ipiranga, São Paulo.




"Sonhei que as pessoas eram boas em um mundo de amor"

DIA ESPECIAL Duca Leindecker Se alguém já te deu a mão E não pediu mais nada em troca Pense bem Pois é um dia especial Eu sei que não é sempre que a gente encontra Alguém que faça bem e nos leve desse temporal O amor é maior que tudo Do que todos até a dor se vai Quando o olhar é natural Sonhei que as pessoas eram boas Em um mundo de amor E acordei nesse mundo marginal Mas te vejo e sinto O brilho desse olhar que me acalma Me traz força pra encarar tudo Mas te vejo e sinto O brilho desse olhar que me acalma Me traz força pra encarar tudo O amor é maior que tudo, do que todos, até a dor Se vai quando o olhar é natural Sonhei que as pessoas eram boas Em um mundo de amor E acordei na terceira guerra mundial Mas te vejo e sinto O brilho desse olhar que me acalma Me traz força pra encarar tudo (4x)





“Estive preso e me impediram de visitar-te”

"Estive preso e me impediram de visitar-te"
21/04/2018

Há uma cena de grande dramaticidade no evangelho se São Mateus quando se trata do Juizo Final", quer dizer, quando se revela o destino último de cada ser humano. O Juiz Supremo não perguntará a que Igreja ou religião alguém pertenceu, se aceitou os seus dogmas, quantas vezes frequentou os ritos sagrados.

Esse Juiz se voltará aos bons e dirá: "Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino preparado para vós desde a criação do mundo; porque tive fome e de me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, estava preso e viestes me ver… todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos e irmãs menores, foi a mim que o fizestes…e quando deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes (Evangelho de S.Mateus,25, 35-45)."

Neste momento supremo, são as práticas e não as prédicas para com os sofredores deste mundo que contarão. Se os tivermos atendido, ouviremos aquelas palavras benditas.

Esta experiência foi vivida pelo Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Perez Esquivel (1931) arquiteto e renomado escultor, grande ativista dos direitos humanos e da cultura da paz, além de ser profundamente religioso e por mim. Ele solicitara às autoridades judiciais brasileiras a permissão de visitar no cárcere o ex-Presidente Lula, amigo de muitos anos.

Da Argentina, Esquivel me telefonou e no twitter foi resumida a conversação numa espécie de youtube. Iríamos juntos, pois eu havia recebido também o assim chamado Nobel Alternativo da Paz em 2001(Award The Right Livelihood) do Parlamento sueco. Mas lhe adiantei que minha visita era para cumprir o preceito evangélico o de "visitar quem está encarcerado" além de abraçar o amigo de mais de 30 anos. Queria reforçar-lhe a tranquilidade da alma que sempre manteve. Confessou-me pouco antes de ser preso: minha alma está serena porque ela não me acusa de nada e me sinto portador da verdade que possui uma força própria e que no seu devido tempo se manifestará.

Chegamos em Curitiba Esquivel e eu, em horários diferentes, no dia 18 de abril. Fomos diretamente ao grande auditório da Universidade Federal do Paraná repleta de gente, para um debate sobre democracia, direitos humanos e a crise brasileira que culminou com a prisão de Lula. Lá estavam autoridades universitárias, o ex-ministro das relações exteriores Celso Amorim, representantes da Argentina, do Chile, do Paraguay, da Suécia e de outros países. Alternadamente cantaram-se belíssimas músicas latino-americanas especialmente com a voz sonora da atriz e cantora Letícia Sabatella. Afrodescentes dançaram e cantaram com suas roupas belamente coloridas.

Fizeram-se vários pronunciamentos. O desalento geral, como por um passe de mágica, deu lugar a uma aura de benquerença e de esperança de que o golpe parlamentar, jurídico e midiático não poderia desenhar nenhum futuro para o Brasil. Antes, encerrar-se-ia um ciclo de dominação das elites do atraso para abrir caminho para uma democracia que vem de baixo, participativa e sustentável.

Já antes da sessão foi-nos comunicado que a juíza Catarina Moura Lebbos, braço direito do juiz Sérgio Moro, havia proibido a visita que queríamos fazer ao ex-presidente Lula.

Essa juíza não deu-se conta do alto significado de que é portador um Prêmio Nobel da Paz. Ele tem o privilégio de correr o mundo, visitar prisões e lugares de conflito no sentido de promover o diálogo e a paz. Agarramo-nos ao documento da ONU de 2015 que se convencionou chamar de "Regras de Mandela" que trata de Prevenção ao Crime e a Justiça Criminal. Aí se aborda também a parte da visita aos encarcerados. O Brasil foi um dos mais ativos na formulação destas Regras de Mandela, embora não as observe em seu território.

Mas de nada nos valeu. A juiza Lebbos simplesmente negou, No dia seguinte, dia 19 de abril, chegamos ao acampamento, onde centenas de pessoas fazem vigília junto ao Departamento da Justiça Federal, onde Lula está preso. Gritam-lhe "Bom dia, Lula", "Lula livre" e outras palavras de ânimo e esperança que ele em seu cárcere pode escutar perfeitamente.

Policiais estavam por todo os lados. Tentamos falar com o chefe para podermos ter uma audiência com o Superintendente da Polícia Federal.

Sempre vinha a resposta: não pode, são ordens de cima. Após muito insistir, com chamadas de telefone indo e vindo, Perez Esquivel conseguiu uma audiência com o Superintendente. Explicou-lhe os motivos da visita, humanitária e fraterna a um velho e querido amigo. Por mais que Perez Esquivel argumentasse e fizesse valer seu título de Prêmio Nobel da Paz, mundialmente reconhecido e respeitado, ouvia sempre o mesmo ritornello: Não pode. São ordens de cima.

E assim, cabisbaixos, retornamos para o meio do povo. Eu pessoalmente insistia que minha visita era meramente espiritual. Iria levar-lhe dois livros "O Senhor é meu pastor e nada me falta",um comentário minucioso que realmente alimenta a confiança. O outro de nosso melhor exegeta Carlos Mesters "A missão do povo que sofre" descrevendo o desamparo do povo hebreu no exílio babilônico, como era consolado pelos profetas Isaias e Jeremias e como a partir daí se fortaleceu o sentido de seu sofrimento e sua esperança.

No Departamento da Polícia Federal tudo era proibido. Sequer um bilhete era permitido para ser enviado ao ex-Presidente Lula.

No meio do povo, falaram vários representantes dos grupos, especialmente um casal da Suécia que sustenta a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz. Falei eu e Perez Esquivel, reforçando a esperança que finalmente é aquela energia ponderosa que sustenta os que lutam pela justiça e por um outro tipo de democracia. Ele anunciou que lançara a campanha mundial para Lula como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Há já milhares de subscrições em todo o mundo. Lula preenche todos os requisitos para isso, especialmente as políticas sociais que tiraram milhões da fome e da miséria e seu empenho pela justiça social, base da paz.

Muitas foram as entrevistas aos meios de comunicação nacionais e internacionais. Algumas fotos do evento começaram girar pelo mundo e vinha a solidariedade de muitos países e grupos.

Aí nos demos conta de que efetivamente vivemos sob um regime de exceção na forma de um golpe brando que sequestra a liberdade e nega direitos humanos fundamentais.

A pequenez de espírito de nossos juízes da Lava Jato e a negação de um direito assegurado a um Prêmio Nobel da Paz de visitar um seu amigo encarcerado, no espírito de pura humanidade e de calorosa solidariedade envergonha nosso país, Apenas comprova que efetivamente estamos sob a lógica negadora de democracia num regime de exceção.

Mas o Brasil é maior que sua crise. Purificados, sairemos melhores e orgulhosos de nossa resistência, de nossa indignação e da coragem de resgatar a partir das ruas e pelas eleições um Estado de direito.

Não esqueceremos jamais as palavras sagradas:"Eu estava preso e tu me impediste de visitá-lo".


Leonardo Boff, testemunha dos fatos aqui narrados

https://leonardoboff.wordpress.com/2018/04/21/estive-preso-e-me-impediram-de-visitar-te/


... 

ÁGUA DA RAZÃO
Ademar Bogo
(Homenagem ao Leonardo Boff pelo impedimento à visita ao Lula)

Há lágrima chorada
Que nunca diz nada...
É lágrima só,
De pena ou dó...
Lágrima chorada
Em qualquer idade,
Pode ser falsidade...
Pode ser de amizade...
Ou felicidade.
Lágrima chorada
No olhar da criança,
É sempre esperança.
Lágrima chorada
Nos olhos do idoso,
É esperançoso...
É também perigoso
Porque é amoroso,
E traz confiança.

Choro a contragosto 
É o coração exposto!
É a ideia no rosto!
É o protesto ao imposto!
É a voz da razão.
É a água sem mágoa!
É a dor que deságua !
Desde o coração.
Se o choro é divino
Cada gota é um hino
Tocado no sino
Da convocação.
É a força! A verdade!
O protesto! A piedade!
É a dor na emoção.
Mas a lágrima quente
É quem rega a semente
Da libertação.
Solidário de novo
Pelas palmas do povo
Tens a gratidão.
Com olhos aflitos
Digamos: Malditos!!
Os que fazem chorar
Por querer distanciar
Um abraço entre irmãos.

...


Leonardo Boff tenta entrar na PF para visitar Lula
Teólogo foi a Curitiba junto com Adolfo Pérez Esquivel e ficou aguardando para ver se conseguia entrar na sede da Polícia Federal
https://www.revistaforum.com.br/leonardo-boff-tenta-entrar-na-pf-para-visitar-lula/


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz