Luís Nassif: Quem é quem na ditadura do Judiciário que matou o reitor
03 de outubro de 2017 às 12h28A delegada e os artistas: estrela do filme sobre a Lava Jato
As mãos e as vozes que empurraram o reitor da UFSC para a morte
Luís Roberto Barroso tem fixação por sua imagem pública. Algumas denúncias estampadas em blogs de Curitiba, encampadas pelos blogueiros de Veja, foram suficientes para deixa-lo de joelhos.
As denúncias falavam da compra de um apartamento em Miami pela senhora Barroso, através de uma offshore.
Mesmo casados em comunhão de bens, compartilhando um escritório bem-sucedido, o nome de Barroso não entrou na história, até o eixo Curitiba-Veja entrar no tema.
E o Ministro Barroso decidiu defender sua imagem com as armas que conhecia: abandonou suas teses legalistas, seu passado garantista e decidiu aderir aos agressores.
Sua estreia se deu na votação da autorização para a prisão do réu após condenação em Segunda Instância.
Dali em diante, surgiu um novo Barroso, defensor dos métodos policiais, punitivista convicto, defensor da tese de que ou o Brasil acabava com a corrupção ou a corrupção com o Brasil.
Não a corrupção corporativa de seus clientes, ele que se vangloria de preparar anteprojetos de lei para que os clientes possam oferecer a seus deputados de estimação; não a do Poder Judiciário, ou mesmo a impunidade sua ex-cliente, a Globo.
Mas a corrupção do inimigo, a defesa do direito penal do inimigo que chegou ao auge com sua defesa explícita do Estado de Exceção.
Desde então, Barroso se tornou o guru da Lava Jato e dos punitivistas do Ministério Público Federal, o profeta do Estado de Exceção, o principal estimulador das bestas que habitam os porões, onde nenhum direito é respeitado.
Suas frases se tornaram os bordões prediletos dos procuradores nas redes sociais, o alimento legal que engordava os monstros gerados da barriga da Lava Jato.
E das entranhas da Lava Jato a delegada da Polícia Federal Erika Marena saiu de Curitiba e transportou os métodos da Lava Jato para Santa Catarina.
Estrela de cinema, tinha que manter a fama de implacável.
Lá, encontrou como chefe o delegado Marcelo Mosele que, ao assumir a superintendência da PF em Santa Catarina, discursou afirmando que a corrupção é a maior ameaça à humanidade.
Era esse o clima dominante na PF quando chegaram denúncias envolvendo a Universidade Federal de Santa Catarina.
Mencionavam desvios que teriam ocorrido desde 2006 nos cursos de educação à distância. O reitor assumirá apenas em 2016.
No início, denúncias anônimas. Depois, denúncias personalizadas, uma da professora Tais Dias, outra do corregedor da UFSC, Roberto Henkel do Prado.
Escolhido em uma lista tríplice, o corregedor responde ao reitor e também à CGU (Controladoria Geral da União).
Quando o reitor Luiz Carlos Cancellier pediu acesso ao inquérito, imediatamente foi denunciado por Henkel, como tentativa de obstrução da Justiça.
Nesses tempos bicudos, as longas mãos da CGU criaram núcleos de poder em cada universidade, e Henkel pretendeu exercê-lo com a autoridade dos moralistas e com a plenitude dos superpoderosos.
Imediatamente obteve a adesão de Orlando Vieira de Castro Jr, superintendente da CGU em Florianópolis.
E o caso foi parar com o procurador da República André Stefani Bertuol.
A Polícia Federal foi acionada e a sede de sangue atingiu a juíza federal Janaína Cassol Machado, que, consultado o procurador Bertuol, autorizou a prisão preventiva dos professores.
Em Brasília, o eminente Ministro Barroso despejava frases feitas:
— Para ser preso, no Brasil, precisa ser muito pobre ou muito mal defendido.
Ou então:
— Pense o que você poder fazer diariamente pelo bem.
Lá embaixo, nos porões da nova ditadura, a delegada Marena, o delegado Mosele, comandavam policiais treinados nas artes da humilhação.
Os professores foram despidos, ficaram nus, foram jogados em celas
Enquanto isto, Barroso, que se tornou um Ministro choroso quando a imprensa meramente flagrou-o em uma afirmação relativamente racista em relação a Joaquim Barbosa, que se desmanchou em lágrimas tal como uma donzela com a reputação colocava em dúvida, continuava lançando seus dardos no Olimpo e alimentando com princípios pútridos a carne que era servida às hienas.
No dia seguinte, uma juíza substituta, Marjorie Feriberg, ordenou a libertação do grupo.
Foi publicamente admoestada por Janaína, que se atirou sobre ela como uma harpia da mitologia.
Restou a Cancellier a única saída que encontrou para a desonra que se abateu sobre ele: o suicídio.
Depois da tragédia, apareceram notícias dizendo que a única acusação formal contra ele era a de ter impedido a investigação.
Que seu sangue caia sobre todos seus algozes.
Mas, especialmente, sobre os que destruíram os alicerces dos direitos individuais pensando exclusivamente em seus próprios interesses.
...
Reitor que cometeu suicídio reclamou de humilhação sob a PF em artigo de jornal
02 de outubro de 2017 às 15h18Da Redação
No último dia 28, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, o reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina, publicou em O Globo artigo que agora, com o suicídio dele, é visto como sua carta de despedida. Eis o texto:
Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia
A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição.
No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma "quadrilha", acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.
Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, "na UFSC, tem diversidade!".
A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa.
Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância.
Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.
Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere.
Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.
Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia.
Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC.
Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União.
Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa.
O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada.
Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos.
E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão.
De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC.
Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões.
Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade.
É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento.
PS do Viomundo: O reitor cometeu suicídio hoje de manhã em um shopping de Florianópolis. Foi a delegada da PF Erika Mialik Marena, da Operação Ouvidos Moucos, que acusou o reitor de 'obstaculizar investigações internas'.
http://www.viomundo.com.br/politica/reitor-que-cometeu-suicidio-reclama-de-humilhacao-sob-a-pf.html
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