Por que as grandes empresas de mídia nos odeiam
Mauri Cruz*
Na última semana antes da realização do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, das quatro principais revistas semanais, três estampam na capa a presidenta Dilma com reportagens profundamente críticas. Nada diferente das capas e matérias dos jornais diários, todos externando em títulos garrafais avaliações negativas ou críticas ao Governo Federal. Mas o mais grave é o resultado do monitoramento feito sobre as matérias dos principais telejornais brasileiros. A cada matéria crítica ao candidato da oposição, são veiculadas dez matérias críticas à presidenta e candidata Dilma. No caso das revistas e jornais a única coisa a fazer é a cobrança política para que seja praticado um jornalismo ético e que respeite, ao menos, o direito ao contraditório dando-se espaço para a defesa de quem está sendo acusada.
Já no caso das empresas da mídia televisiva, esta conduta tendenciosa certamente deveria ser coibida pela legislação eleitoral porque, no caso, estas empresas são concessionárias de um serviço público, e não poderiam transmitir, apenas, as opiniões e posições políticas de seus proprietários, tendo a obrigação constitucional de prezarem pela liberdade da informação, se é que o leitor me entende.
Mas o que mais me intriga é a base deste ódio da mídia aos governos democráticos e populares. Nestes 12 anos, não houve nenhuma medida do Governo Federal que afrontasse os interesses destes detentores do poder midiático. Pelo contrário, apesar da crítica da maioria dos movimentos e organizações sociais, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e as empresas públicas federais irrigam com polpudos patrocínios todos os telejornais que, diariamente, vertem fel contra o governo que os financia. Chega-se ao cumulo de, após uma matéria vexatória contra a Petrobras, aparecer no intervalo um comercial da empresa. O governo está, literalmente, pagando para que falem mal de si mesmo.
Teria esse ódio uma base ideológica, ou seja, os donos da grande mídia brasileira seriam fiéis defensores ideológicos de uma concepção de mundo capitalista e neoliberal? Não creio. Acho que o que move este ódio aos partidos e governos populares é a ideia de que seja possível a construção de uma consciência crítica na base da sociedade capaz de mudar a sua penetração comercial. Sim, a mídia vive comercialmente da venda de seus produtos. Uma sociedade mais politizada e diversificada culturalmente, certamente não dará valor à grade pobre e enlatada de programação que é oferecida diariamente em rede nacional.
O Brasil que as grandes empresas de comunicação mostram não é o Brasil real. Mais reproduz o eixo Rio-São Paulo e uma visão preconceituosa e distorcida do Norte e do Nordeste. Já, no caso dos estados de Minas e Rio Grande do Sul, quando aparecem, são apresentados como estados provincianos, quase anos sessenta. Na maioria das vezes, a violência é um fenômeno que ocorre nos bairros pobres e os criminosos são jovens negros. Por isso, quando um jovem negro é assassinado pela polícia os jornais noticiam como um crime do tráfico de drogas, mesmo que a verdade seja a morte de um jovem trabalhador, negro.
Aliás, é inexplicável como um canal de televisão que passa, diariamente, dez filmes de violência, critique a violência em seus telejornais. Qual a lógica? Felizmente, morrem mais pessoas nos filmes que na vida real. Mas, mesmo assim, a banalização da vida e a transformação emotiva de um vingador assassino em mocinho de filme, certamente alimenta a ideia de que matar outro ser humano é natural e faz parte do jogo da vida.
Tenho para mim que dentre tantos méritos da presidenta Dilma, um dos maiores é o fato dela ter mexido no lucro dos bancos privados que, literalmente, metem a mão no bolso do povo brasileiro através de juros abusivos e taxas de serviços absurdas. Não há dúvida que o sistema financeiro, que sempre "mamou" na política econômica do PSDB, tem ojeriza aos governos democráticos e populares. Ainda mais com o fortalecimento dos bancos públicos, CEF, BB e BNDES. Esses são contra nós pelo que fizemos.
Já, no caso das grandes empresas da mídia, seu ódio reside no que imaginam que os governos democráticos possam fazer. E, este medo, tem a ver com a forma que elas acessaram estas concessões. Forma essa que nos remete às práticas do Brasil colônia. Para se ter uma ideia, circula nas redes sociais matéria de jornal de Minas Gerais informando que o então deputado federal Aécio Neves, em 1987, havia "recebido" do presidente José Sarney uma concessão de rádio na cidade de Claudio. E que esta nova "aquisição" se somava às rádios de São João del Rey e de outras duas cidades que ele havia recebido durante a ditadura militar, formando, assim, a sua rede de rádios. É por essas e outras que todos sabemos que as atuais concessões de rádios e TVs são verdadeiras capitanias hereditárias e não guardam qualquer relação com uma república em um país verdadeiramente democrático. Por isso, não tenho dúvidas que toda esta campanha desleal dos donos dos meios de comunicação contra a presidenta Dilma é para manter este privilégio que está sendo ameaçado pelo crescente aprofundamento da democracia brasileira. Novamente, o governo federal está sendo criticado pela mídia, mais pelos seus acertos do que pelos seus erros.
Ao longo de sua história, o Brasil foi governado por uma elite descomprometida com a qualidade de vida do povo brasileiro. Este enredo foi quebrado poucas vezes. Uma com o presidente Getúlio Vargas, outra com o presidente João Goulart e agora com os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. Não podemos deixar que este processo seja barrado. Por isso, para que o Brasil continue aprofundando e aprimorando sua democracia, e contra esta desleal campanha massiva e maciça dos donos dos principais meios de comunicação contra a presidenta Dilma, é fundamental que neste domingo, 26, a opção da maioria do povo brasileiro seja pela continuidade da mudança, acelerando e consolidando a democracia popular que está em curso. Sem dar chance ao retrocesso e ao retorno dos projetos da elite brasileira que quer voltar a subjugar o nosso povo em prol de seus próprios e privados interesses. Boa luta, construindo a vitória.
*Advogado socioambiental, professor de pós graduação em Direito à Cidade e Mobilidade Urbana, diretor regional da AbongRS
http://www.sul21.com.br/jornal/por-que-as-grandes-empresas-de-midia-nos-odeiam/
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