O segredo de Sartori
Que destino aguarda o Rio Grande do Sul se lembrarmos que o estado foi quebrado todas as as vezes em que foi governado pelo PMDB e por sua cria, o PSDB?
O candidato ao Governo do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), de repente despertou a curiosidade nacional.
Quem é esse sujeito que desbancou a senadora Ana Amélia (PP), que por muito tempo apareceu como favorita em pesquisas, e agora rivaliza com o atual governador, Tarso Genro?
Sartori é uma miscelânea. Junte o antipetismo privatista de Aécio Neves, o bom-mocismo carola de um Pedro Simon e o humor, de gosto muito duvidoso, de um Tiririca, e o que temos no final? Sartori.
Não há nada de espetacular no desempenho eleitoral de Sartori. Seu segredo é um truque velho, banal, constantemente reeditado e que continua fazendo sucesso.
Os gaúchos mesmos já viram isso outras vezes. Um candidato aparece de repente, se diz uma novidade, apesar de velho conhecido no estado. Tem fama de bom gestor. Distribui muitos sorrisos por onde passa. Faz apelo aos valores da família.
Sua campanha evita citar muito seu próprio partido.
Ele prefere o apelo à união do estado contra o radicalismo e a polarização: eis a campanha de Jair Soares, do PDS, em 1982, que derrotou PMDB, PDT e PT.
Seu programa de governo? É "educação, saúde e segurança". Transportes? saneamento? Tem que melhorar isso também. O negócio é arregaçar as mangas.
Se Sartori quer ser remédio para alguma coisa, ele certamente é do tipo genérico, só que sem bula - sem posologia e sem indicação de seus efeitos colaterais.
A principal prioridade de Sartori é ser eleito. Detalhes sobre o que fará? São surpresas para depois da eleição. Excelente maneira de fugir de qualquer compromisso com políticas que custam caro - como educação, saúde e segurança pública.
Sempre que pressionado a assumir compromissos para valer, Sartori se sai com uma anedota ou conta um causo.
Cordial, Sartori é o candidato preferido dos intolerantes. É a voz mansa dos que vociferam.
Brincalhão, faz piada com coisas sérias, como o salário dos professores.
Experiente, finge até que não faz ideia do que é piso salarial dos professores - e pode assim ignorar solenemente o problema.
Bonachão, Sartori esconde bem seu saco de maldades. Ele recentemente apelidou sua política de cortar na carne dos serviços públicos de "etc daqui, etc de lá".
A "nova cara" da política do Rio Grande do Sul iniciou sua carreira, em 1976, naquele que é o mais tradicional partido da política brasileira e gaúcha - o PMDB (o velho MDB).
Que destino aguarda o Rio Grande do Sul se lembrarmos que o estado foi quebrado todas as as vezes em que foi governado pelo PMDB e por sua cria, o PSDB? Ambos estão novamente de braços dados por terem essa história em comum.
Sartori é pior que um cheque em branco. É um cheque sem fundo.
Os gaúchos têm poucos dias para decidir se querem eleger um governador de verdade ou se estão apenas preocupados em derrotar o PT.
(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política.
http://www.cartamaior.com.br/?%2FColuna%2FO-segredo-de-Sartori%2F32058
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