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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

20.7.15

O estadista solitário

Política

Editorial

O estadista solitário

por Mino Carta — publicado 20/07/2015 02h35
O reformador Bergoglio recupera a palavra de Cristo e o valor da Caridade, que se tornaram letra morta em largos momentos da história da Igreja
Osservatore Romano/AFP

Papa Francisco é hoje em dia o único, grande estadista de dimensões mundiais, reformador determinado, corajoso, inspirado. Óbvio nele o propósito dereparar os males provocados à Igreja Católica pelos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, dignos da politicagem e dadevassidão das cortes papais da Renascença e responsáveis por uma conspícua evasão de fiéis. A par disso, entretanto, é ele quem se ergue contra o que define como a "ditadura sutil" imposta à humanidade pelo poder do dinheiro, para aprofundar vertiginosamente o abismo entre ricos e pobres.

Ao escolher seu nome no momento de tomar assento na cadeira de Pedro, o jesuíta Bergoglio deu um claro indício dos rumos desejados para sua ação, como se a cultura própria da ordem de Inácio de Loyola se aliasse ao despojamento cristão do Pobrezinho de Assis, para assinalar o retorno à palavra de Cristo, pregador doamor ao próximo como fonte da igualdade, ideia revolucionária illo tempore até o nosso presente.

Como escreveu Ronald A. Knox em seuEnthusiasm, a Chapter in the History of Religion, a crença de que "o primeiro período da Igreja foi uma idade do ouro" revelou-se bastante questionável. De fato a pretensão de manter intacta a lição de Cristo foi frequentemente geradora de desvios e equívocos, cismas e heresias. De certa forma, papa Francisco, como Paulo de Tarso, emite sua Epístola aos Coríntios (nada a ver com os torcedores corintianos), sobretudo na passagem que diz respeito à Caridade, a mais importante entre as virtudes teologais.

Corinto no século I era cidade do mais desbragado meretrício, mesmo entre os católicos a licenciosidade dominava, e o ex-soldado fulgurado por um raio divino a caminho de Damasco cuidava de colocar no bom caminho a sua grei. As questões que a Epístola de Paulo levanta são distantes das atuais, mas a Caridade é invocada com energia, e a virtude se coaduna à perfeição com a pregação de Cristo.

Paulo é figura controversa, como verdadeiro fundador de uma Igreja que ao longo dos séculos se afastou das ideias de quem a apoiou sobre uma pedra chamada Pedro, acabou por dividir com o Imperador do Sagrado Romano Império o poder do mundo, e assumiu até as feições de monarquia mundana depois da doação do Castelo de Sutri pelo rei longobardo Astolfo, no VIII século. Não foi por acaso que o papa coroou em Roma Carlos Magno imperador, e alguns dos seus sucessores, e humilhou outro, Henrique III.

O papa tornou-se dono de toda a Itália central, impediu a unificação do país e a criação de um Estado Nacional até a segunda metade do século XIX, e, sempre que se sentiu ameaçado, não hesitou em pedir socorro aos reis europeus e seus exércitos, de sorte a garantir a divisão da península. A palavra de Cristo foi letra morta, em benefício do mais duradouro poder temporal por direito divino em dois milênios.

Ao cuidar de sua grei, papa Francisco tem de redimir a Igreja dos seus pecados, e neste sentido há de se mover sua modernização, para o entendimento das dinâmicas desencadeadas pela melhor compreensão da natureza e da evolução humana ao sabor do conhecimento. E ainda, e sempre, pela tolerância, mais ainda, pela misericórdia, na medição dos limites do ser humano, de resto determinados pelo Criador, segundo quem acredita, e tão pouco respeitados por quem até ontem mandou urbi et orbi.

Com Francisco, ocorre o retorno à ideia da igualdade, contra o neoliberalismo em pleno vigor e contra a miséria que resulta dele, em proveito da felicidade terrena de banqueiros, especuladores e rentistas, diante da passividade, ou mesmo da resignação de quantos haveriam de se opor. A viagem papal pela América Latina confirma e fortalece a postura do estadista, bem como a contrariedade daqueles que, além dos expoentes da Cúria Vaticana finalmente tirados de cena, a linha papal constrange e ameaça.

Um colunista nativo clama contra "a monstruosidade herética" com que Evo Morales, "protoditador da Bolívia", presenteou "o argentino Bergoglio": um Cristo "que suja as mãos com o sangue de 150 milhões de crucificados". Mal sabe o colunista que em algum canto do Vaticano está guardado outro emblema vermelho.

Regresso súbito ao Brasil em 1961. Jânio renuncia e seu vice, João Goulart, é tido em odor de comunismo pelos senhores da casa-grande e por seu porta-voz, a mídia nativa, sempre alerta. Daí, fortes resistências, manu militari, à sua posse no posto abandonado. Ao cabo, desenha-se o compromisso e Jango assume à sombra do Parlamentarismo, pelo qual hoje se bate o senador José Serra. Um ano depois, Jango, juntamente com esposa e filhos, Denize e João Vicente, visita João XXIII, de muitos pontos de vista política e espiritualmente aparentado com Francisco.

Uma caixa de madeira forrada de veludo e ricamente entalhada é o presente de Goulart ao papa Roncalli. João Vicente, incansável na evocação da figura paterna, ouviu de Darcy Ribeiro uma história, publicamente divulgada em um livro (Invenção e Descaminho, Editora Avenir, 1978). Autor da caixa, o marceneiro Manoel, o qual, tempo depois da visita de Jango ao Vaticano, procurou Darcy, então chefe do Gabinete Civil da Presidência, e confessou, não sem candura: "No fundo da caixa, entalhei a foice e o martelo". Comentaria Darcy, ao recordar: "Naquele palácio, o único comunista era mesmo o seo Manoel". 



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz