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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

1.4.14

Ato no antigo DOI-Codi tem hino da 'Internacional' e manifesto-oração — CartaCapital

50 anos do golpe

Ato no antigo DOI-Codi tem hino da 'Internacional' e manifesto-oração

Ato para relembrar os 50 anos do golpe de 64 reuniu 600 pessoas no pátio do antigo centro de tortura de número 921 da rua Tutóia

por Marsílea Gombata
publicado 31/03/2014 17:47, última modificação 01/04/2014 09:19

Marsílea Gombata

Evento reuniu ex-militantes, familiares, ativistas e advogados

Chico Buarque e Geraldo Vandré em looping. Cartazes de militantes desaparecidos. Ex-integrantes da luta armada. Advogados de presos políticos. No pátio do que hoje é considerado um dos maiores centros de tortura da história do País - o DOI-Codi de São Paulo - cerca de 600 pessoas se reuniram para lembrar os 50 anos do golpe de 1964 em um ato que contou com apresentações de teatro, música e uma espécie de "oração coletiva", na qual os presentes lembraram em voz alta os 56 nomes daqueles que ali morreram. O clímax ficou por conta da Internacional em alto e bom som, cuja imagem ficou marcada por lágrimas e punhos em riste embalados pelo coro que acompanhava o hino.

Abraçado a colegas de militância, o ex-preso político Ivan Seixas vibrava: "Aqui dentro! Está tocando a Internacional aqui dentro!"

Ao seu lado, Adriano Diogo, atual presidente da Comissão do Estado de São Paulo "Rubens Paiva", tentava conter as lágrimas. "Isso aqui hoje é a Queda da Bastilha. Não tem palavras que expliquem o que aconteceu aqui. Talvez só uma coisa tão sensível quanto a ficção e a arte consigam fazê-lo. Foi algo de outro mundo."

Entre uma apresentação e outra, o deputado estadual pelo PT subiu ao palco com Seixas e a ex-militante do PCdoB Maria Amélia Teles. Acompanhados pelos presentes, leram um manifesto que pedia a punição de torturadores que ali atuaram (como Carlos Alberto Brilhante Ustra e Waldir Coelho), a transformação do local em um memorial, a abertura de todos os arquivos da época e desmilitarização da polícia. O tom do coro era de manifesto e oração.


"Quero que a se apure a verdade para que isso nunca mais volte a acontecer, para que ninguém seja trazido para cá", disse o jornalista Antonio Carlos Fon, que passou ali 17 dias detido sob tortura em 1969. "A gente morre um pouco a cada lembrança do que os militares fizeram neste País, a cada visita a este local."

Um dos responsáveis pelo grupo de trabalho Justiça de Transição do Ministério Público Federal, o procurador da República Marlon Alberto Weichert classificou o ato como uma "vitória consolidada". "Os familiares e vítimas estão invadindo o que era um centro de tortura. É um marco histórico", afirmou. "Em 2008, quando começamos a trabalhar a questão da justiça de transição, isso era um assunto proibido. Hoje, seis anos depois, muitos apoiam a punição aos torturadores. Há uma outra consciência, não apenas jurídica, mas também política e social."

Para Lúcia Paiva Mesquita Barros, irmã do deputado federal Rubens Paiva, morto em 1971, a esperança é que "o passado não se repita". "Quero que pouco a pouco se faça justiça. E justiça é refazer o nome dele", afirmou ela, entre lágrimas e com um cartaz com a foto do irmão.

"História enterrada". Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), o marco dos 50 anos do golpe mostra que o País continua enterrando a sua história. "Cinquenta anos e o Brasil ainda não consegue virar essa página. Sem a revisão da Lei de Anistia não conseguiremos virar essa página. Não por revanche, mas os militares ainda não conseguem fazer a autocrítica e pedir perdão público. Precisamos abrir os arquivos militares."

O antigo DOI-Codi funcionava onde hoje é o 36º Distrito Policial. Ali existe um depósito e uma garagem da Polícia Civil. O complexo é composto de um pátio, antiga entrada dos presos, na Rua Thomas Carvalhal, onde há uma estrutura nova, e outros dois prédios com entrada pelo número 921 da Tutóia – um praticamente abandonado e um outro reformado onde funciona o DP. Neste, onde antigamente ficavam as celas femininas, foi feita uma reforma para o Departamento de Polícia Judiciária da Capital, da 2ª Delegacia Seccional da Polícia.

Logo em frente, a estrutura que abrigava as salas de interrogatório e de tortura ainda é mantida nos padrões da época, mas completamente vazia. Nos três andares do prédio, vultos e gritos são ouvidos com frequência, contam funcionários do DP.

Em uma passagem relâmpago, de menos de 15 minutos, o prefeito Fernando Haddad se disse a favor de transformar o local em memorial da luta contra a ditadura. "Tudo o que puder ser feito para manter viva a memória dos tempos sombrios que vivemos é útil e educativo para a sociedade. Não podemos esquecer o que é não poder se expressar ou não ter o direito de se manifestar."


Ao lado do pai, o líder ecumênico metodista Anivaldo Padilha, o ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha contou que voltar ao local o faz lembrar de como aprendeu cedo o que era a ditadura. "Muito cedo tive de aprender por que eu e minha mãe mudávamos de casa e não tínhamos residência fixa até meus 3 anos de idade, porque só falava com meu pai por carta ou por fita cassete e só fui conhecê-lo quando eu tinha 8 anos."

A sigla DOI-Codi indica o nome do órgão Destacamento de Operações de Informação (DOI) do Centro de Operações de Defesa Interna (Codi), coordenador da repressão política durante a ditadura. O centro é fruto da Oban (Operação Bandeirante), primeira referência da institucionalização da tortura na ditadura que gerou o DOI e exportou uma espécie de tecnologia repressora para outras cidades, como o Rio. "Voltar para esse lugar onde tantos morreram, foram torturados, e mulheres violentadas sexualmente, é dizer: 'Estamos vivos e continuamos a lutar por um Brasil melhor'", afirmou a advogada Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade, ao lembrar que a Oban selou a tática de "esterilização política".

Presa e submetida a choques elétricos no corpo, a ex-integrante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Darci Miyaki contou que, apesar das duras memórias, saía do ato otimista. "É a quinta vez que volto aqui. Cada vez é terrível. Mas hoje foi um misto de alegria e sofrimento. Além de lembrar nosso passado, em um local que não pensava em voltar, ver jovens, partidos, sindicatos e estudantes conosco é uma visão que me enche de esperança."


http://www.cartacapital.com.br/sociedade/no-antigo-doi-codi-chico-buarque-a-internacional-e-um-manifesto-oracao-1139.html

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz