Em São Bernardo, Lula diz que campanha começa neste sábado
Suzana Vier*
No último comício da campanha, em São Bernardo do Campo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, e candidatos da coligação ao Senado, disse que a campanha mal começou e que estará neste sábado (2) ao lado dos militantes em uma caminhada pelo centro de São Bernardo, na região do ABC paulista. "Pra mim, a campanha está começando agora. Vou eu, a Marisa (Letícia, primeira-dama) e a toda a militância para a Marechal Deodoro amanhã", disse, referindo-se a uma rua central do município.
A candidata do partido à Presidência da República, Dilma Rousseff, apesar da ausência, foi lembrada em todos os discursos. Dilma não pôde estar no comício porque participa do último debate dos presidenciáveis na TV, na Rede Globo.
Emocionado e em casa, Lula afirmou que falava em seu nome e de Dilma, mas brincou que "não falaria fino", porque todo mundo conhece sua voz de "taquara rachada". O presidente lembrou histórias e personagens de sua passagem pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e que diante das dificuldades daquela época decidiu que "ninguém mais ousaria duvidar da capacidade de luta dos trabalhadores".
Lula admitiu que muitas vezes acorda no meio da noite pensando que não pode fracassar e apresentou um balanço de seu governo. Destacou a melhora na renda dos trabalhadores, redução da pobreza e a criação de 15 milhões de empregos com carteira assinada. "Pela primeira vez, a classe média é maioria no país e há mais trabalhadores na Previdência que fora [dela]", comemorou.
Para demonstrar as boas chances de Mercadante na disputa ao governo de São Paulo, Lula lembrou da disputa à Presidência em 2006, quando ele cresceu 12 milhões de votos, enquanto "o mesmo adversário" (Geraldo Alckmin) perdeu cerca de três milhões. "Agora ele perderá 12 milhões e você vai crescer o suficiente para vencer a eleição", disse Lula a Mercadante.
No final do discurso, descontraído, Lula lembrou à plateia a sequência dos candidatos durante a votação e brincou com os documentos que devem ser utilizados para participar do pleito. "Vou levar um documento com duas fotos, para mostrar que sou porreta mesmo", salientou.
Aloizio Mercadante aproveitou o último comício antes das eleições de primeiro turno para enfatizar o apoio de Lula e pedir a confiança dos eleitores. "Confiem em mim, como confiaram em Lula."
O candidato também voltou a apontar problemas na segurança pública, saúde, educação e transportes em São Paulo.
Casa invadida
Netinho de Paula (PCdoB), candidato ao Senado por São Paulo, aproveitou o encontro com a militância para, em tom de desabafo, criticar a invasão de sua casa na terça-feira (28). "Hoje o negrão está atacado", informou à plateia. "Pude sentir na pele a perseguição, preconceito, ódio e raiva por parte da elite paulistana e da imprensa que vem fazendo um papel feio", descreveu.
Netinho citou que tem uma "casa linda", obtida com recursos de seu trabalho como cantor e apresentador e lamentou a ação de policiais civis que invadiram sua casa, sem mandado, amedrontando seus filhos e empregados. "Vocês sabem de onde veio meu dinheiro. Vou mostrar que eles estão enganados. Vou ser um bom senador", enfatizou.
Marta Suplicy (PT), candidata ao Senado, desmentiu acusações de que Lula ou o PT queiram acabar com a liberdade de imprensa. Ao contrário, lembrou que o histórico de Lula e de Dilma demonstram o empenho pela democracia e liberdade de expressão.
Sem mencionar nomes, a petista criticou suposta ligação do candidato adversário, José Serra (PSDB), a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) durante votação sobre os documentos necessários para votação no próximo domingo (3). Marta também criticou a invasão da residência de Netinho.
Anfitrião da noite, Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e ex-ministro do governo Lula, disse que a sua tarefa é trabalhar até o último minuto de campanha e não perdeu a oportunidade de brincar sobre uma possível contratação de Lula para jogar no São Bernardo Futebol Clube. "Presidente, você vai poder mostrar sua capacidade futebolística", disse o santista Marinho ao corintiano Lula.
Marinho, como Lula, pediu a participação da população em caminhada no sábado, em São Bernardo.
Orgulhoar
O tempo frio e o risco de chuva não amedrontaram as milhares de pessoas que participaram do último comício da coligação Para o Brasil Seguir Mudando. Guardas-chuvas, blusas e tocas foram necessários para enfrentar a garoa fina que ia e voltava ao longo do evento.
Angelo Rodrigues, espanhol naturalizado brasileiro, de 81 anos, estava orgulhoso de reencontrar Lula. "Conheci as crianças do Lula ainda pequenas. Ajudamos ele e Marisa a confeccionar as primeiras camisetas do PT", conta ao lado da esposa Maria Eci.
"Fico muito feliz com o que o Lula fez, porque se o PSDB tivesse mãos livres teria vendido muita coisa do Brasil. O Lula impediu isso e foi o Estado forte que nos fez resistir à crise [financeira global]", aposta com sotaque espanhol.
Denise Pereira também era só sorrisos. "Eu trabalho hoje porque tive acesso ao programa Primeiro Emprego", comemora.
Para a mãe da jovem, dona Toinha, o mais importante é ver que "os irmãos do Nordeste não vem mais para São Paulo se humilhar com malinha na mão".
Em clima familiar, Ana Paula Silva e Sousa compareceu ao evento com a filha de um ano e seis meses e o marido. Ela explica que é usuária da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do governo federal e considera importante ouvir o que os candidatos propõem. "Eu sempre acompanho, porque sei que tem implicação na minha vida. As Upas, por exemplo, tem bons médicos, atendimento rápido, minha filha é bem tratada", analisa.
* Da Rede Brasil Atual
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