Com discurso afiado, João Pedro Stédile não se esquivou ao apresentar sua posição política e dos movimentos dos quais faz parte – o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do qual foi um dos fundadores, e a Via Campesina. O ativista disse na terça-feira (3), durante a aula inaugural do curso de História da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que apoiará Dilma Rousseff (PT) como candidata à presidência da República.
"Como movimento não temos partido, não devemos aderir ou se opor a um projeto. No entanto, temos que ter a clareza de que uma vitória de Serra (PSDB) seria um inferno para nós, o fim do mundo. Devemos derrotar sua candidatura e incentivar a base para vetar o avanço da direita. Temos que impedir o avanço da direita. Nesse momento, isso significa a eleição de Dilma."
O palestrante começou sua exposição, cujo tema foi Os Movimentos Sociais e a Conjuntura na Latino América, afirmando que existe uma luta de classes permanente nas sociedades capitalistas. Stédile fez uma retomada histórica, mencionando a não-concretização da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como avanço para os movimentos sociais, antes de apresentar sua opinião sobre a conjuntura atual.
Para o ativista, existem três rumos possíveis para os governos latino-americanos atualmente. O primeiro seria o retorno do domínio norte-americano sobre a região. Outros seriam o da integração do capital do continente e um plano de fortalecimento de governos populares, com a concretização da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba). Para o ativista, Serra e Marina Silva (PV) representariam a primeira alternativa, enquanto o plano de governo de Dilma contemplaria parcialmente as duas últimas.
"Hoje percebemos que Lula só ganhou as eleições porque parte da burguesia se dividiu. Ele ganhou as eleições na hora errada. O ideal teria sido ter ganho em 1989, se unindo ao PDT. Depois do governo FHC, Lula ganhou no momento de refluxo dos movimentos sociais. Agora, a burguesia se dividiu novamente. Graças a Deus, senão o Serra estava na frente. Os ventos ainda sopram para nosso lado. Daqui para frente, a discussão será mais ideológica."
Stédile afirmou que a imprensa é "o braço ideológico da direita no Brasil."
"A mídia no Brasil tem um poder de oligopólio da direita nacional. Todo trabalhador que lutar, a mídia vai contra", discursou.
Ele também comentou a posição que o MST e a Via Campesina tomaram em relação ao governo atual.
"Muitos nos chamaram de pelego. Acreditamos que os movimentos sociais devam manter a autonomia. Quando o governo erra, pau neles, quando acerta, palmas. Mas, pergunto, e quem foi para a oposição de Lula, acumulou vitórias?"
Depois da palestra, em entrevista, Stédile afirmou que ocorreram mudanças na demanda pela reforma agrária.
"A luta mudou de patamar. Até o governo Lula, a disputa estava entre o agronegócio e os sem-terra. Agora é por um modelo agrícola."
Foto: João Pedro Stédile palestrou na aula inaugural de História, na UCS, terça-feira (3) | Crédito: Roque Jr., Divulgação/O Caxiense
Publicado às 16h48 de 4 de agosto de 2010.
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