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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

19.6.09

Memórias reveladas

Jornal Correio do Brasil
 
Memórias reveladas

Por Frei Betto - do Rio de Janeiro
 
Na data simbólica de 13 de maio - comemoração da libertação oficial dos escravos -, o presidente Lula tomou uma decisão de inestimável relevância em prol da liberdade de informação e da verdade histórica: enviou ao Congresso projeto de lei para que se tornem públicos todos os documentos e informações concernentes ao período da ditadura militar (1964-1985).

A decisão resulta do meritório empenho do ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, e a cerimônia contou com a significativa presença do ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do governador de São Paulo, José Serra. Ela, ex-presa política, com quem convivi no Presídio Tiradentes, na década de 1970; ele, ex-exilado político. Os dois, virtuais candidatos à presidência da República em 2010.

Na solenidade, Vannuchi frisou que a presença de Dilma e Serra chancelou o acesso à verdade histórica como política de Estado - e não apenas de governo, sujeita a alternâncias eleitorais. Lula caracterizou o ato como "mudança de página na história do Brasil, não para esconder o que está no verso da página, mas para que a história seja contada como ela é ou foi."

A aprovação do Congresso permitirá que se fomente um portal na internet, e qualquer pessoa poderá acessar os documentos disponíveis, o que já ocorre com os arquivos do SNI, do CSN (Conselho de Segurança Nacional) e da maioria dos DOPS estaduais. O cidadão poderá ainda encaminhar ao governo documentos e informações referentes ao período. Assim, se fará luz sobre os anos de trevas que vitimaram milhares de brasileiros(as) com perseguições, prisões, torturas, exílio e banimento, dos quais mais de 500 assassinados e/ou desaparecidos.

Falta as Forças Armadas quebrarem o silêncio quanto à sua atuação nos anos de chumbo. Não é justo que a ação criminosa de militares nos DOI-CODI, nos porões dos quartéis e no combate à guerrilha do Araguaia, seja confundida, hoje, com o conjunto da corporação. Nossas Forças Armadas precisam seguir o exemplo do Chile, da Argentina, do Uruguai e de El Salvador, governados por ditaduras na década de 1970, e que não temeram revelar e apurar as graves violações dos direitos humanos cometidas por oficiais, contribuindo assim para o fortalecimento da democracia. A verdade liberta, diz o Evangelho.

A presidência da República faz a sua parte. Espera-se que o Legislativo e o Judiciário façam a que lhes concerne. Ao Congresso, transformar em lei, o quanto antes, o projeto encaminhado pelo presidente Lula. Ao Supremo Tribunal Federal, julgar se a lei de anistia, de 1979, torna ou não inimputáveis os crimes cometidos, em nome do Estado, pelos algozes do regime militar.

O Brasil inventou uma aberração jurídica: tentar apagar, por um decreto de "anistia recíproca", o período da ditadura. Como se a memória nacional pudesse eclipsar-se por milagre. Os algozes permanecem impunes, enquanto as vítimas carregam o doloroso peso de, até hoje, conviver com danos morais e físicos, ignorar o paradeiro dos desaparecidos e ver seus torturadores debochadamente orgulharem-se dos males causados.

Ainda que setores das Forças Armadas insistam em tapar o sol com a peneira, a memória das vítimas, como frisou Walter Benjamin, é inapagável. Passados 60 anos, as atrocidades do nazismo continuam a vir à tona. No Brasil, cada vítima tem procurado dar a sua contribuição: eventos, mobilizações, efemérides, filmes, minisséries, palestras etc. Incluo-me entre os que fazem da literatura a guardiã da memória.

No próximo mês de junho chegará às livrarias um documento histórico, inédito, que esperou 36 anos para vir a público: "Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco). Trata-se do diário do frade dominicano Fernando de Brito, redigido ao longo dos quatro anos (1969-1973) em que foi submetido a torturas e removido para diferentes cadeias. Não se conhece similar entre as obras publicadas sobre o período.

Em papel de seda, em letras microscópicas, e sob risco de punição, Fernando anotava, dia a dia, o que via e vivia. Em seguida, desmontava uma caneta Bic opaca, cortava ao meio o canudinho da carga, ajustava ali o diário minuciosamente enrolado e remontava-a. No dia de visita, trocava a caneta portadora do diário por outra idêntica, levada por um dos frades do convento.

Nos últimos três anos, cuidei de dar às anotações tratamento literário. Nos episódios relatados, a trajetória dos frades encarcerados se mescla à de personagens que são, hoje, figuras de destaque na história brasileira, como Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Caio Prado Jr., Apolônio de Carvalho, Paulo Vannuchi, Franklin Martins e Dilma Rousseff, para citar apenas alguns.

Está tudo ali: as torturas, os desaparecimentos, a greve de fome de quase 40 dias, e também a convivência dos prisioneiros marcada por momentos de inusitada beleza: as festas de Natal, as noites de cantoria, a solidariedade inquebrantável entre eles.

"Diário de Fernando" revela a saga de uma geração que não se dobrou à ditadura e à qual o Brasil deve, hoje, a sua redemocratização.

Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de Batismo de Sangue (Rocco), entre outros livros. Copyright 2009 - FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=153941

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz