4/11/2007 13:57:09
Por Luis Alberto Gómez de Sousa - do Rio de Janeiro
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Hans Küng é um dos maiores teólogos cristãos da atualidade, valente, ousado, homem de fé e de espiritualidade fortes. Seu giro por várias cidades do Brasil foi um triunfo, com auditórios cheios. Aqui no Rio, foi recebido pela Universidade Candido Mendes, graças ao seu Reitor Candido Mendes, em seu Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião, que dirijo, e pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, no auditório da UCAM, rua da Assembléia 10.
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Ali, centenas de pessoas ouviram em absoluto silêncio sua fala em inglês, com tradução simultânea, de quase duas horas. A série de palestras começou na Universidade Unisinos, em São Leopoldo, dos jesuítas, e depois no Instituto Goethe em Porto Alegre, na Universidade Federal do Paraná, na Católica de Brasília (que não é pontifícia), na Câmara de Deputados, aqui no Rio e na Federal de Juiz de Fora, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa. As PUCs do país não puderam convidá-lo.
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João XXIII o nomeou perito do Vaticano II; no pontificado seguinte, o ex-Santo Ofício de Ratzinger, de quem foi colega na Alemanha, o proibiu de ensinar teologia católica, por suas posições críticas diante da infalibilidade do Papa, do celibato obrigatório, em favor da ordenação de mulheres, propondo rever uma doutrina caduca sobre sexualidade e reprodução humana e abrir uma nova etapa no ecumenismo entre cristãos, assim como no diálogo inter-religioso com outras crenças.
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Escreveu grandes obras sobre o Islã, o Judaísmo e o Cristianismo. Passou a ensinar teologia ecumênica em Tubinga. Ao cumprir cinqüenta anos de sacerdote, escreveu um belo texto: “Porque ser cristão hoje”. Aposentado, está à frente de uma Fundação pela Paz. Durante suas palestras foram expostos, na entrada dos auditórios, doze painéis sobre uma ética da Paz. Dois temas em suas falas: Religião e Ciência, desde o big-bang, até a entropia e o big crush, com uma notável cultura e atualização científicas; e sua luta por um Ethos mundial para a paz entre os homens.
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Lembra as sanções do Vaticano a Leonardo Boff. É tempo de reabrir temas congelados nos últimos anos na Igreja Católica, e sua lucidez será de grande ajuda. Talvez um outro concílio aproveitará seu discernimento. Quando o Vaticano I terminou de repente, pela queda de Roma com a unificação italiana, o grande teólogo inglês Newman , convertido e mal visto por Pio IX, mais tarde feito cardeal por Leão XIII, escreveu a um amigo: “Pio não é o último dos papas...Tenhamos paciência, um novo concílio e um novo papa polirão a obra”.
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Podemos aplicar esse texto aos dois últimos pontificados e, então, a reflexão lúcida e criativa de homens como o suíço Hans Küng, hoje chegando aos oitenta anos, abrirão novos caminhos para uma Igreja Católica que vive, como disse um teólogo brasileiro, um tempo de inverno. O bom papa João XXIII disse que o Vaticano II era “uma flor de inesperada primavera”. D. Hélder sonhou com um Jesusalém II (ver Atos dos Apóstolos sobre o primeiro, cap. 15). Entre 1962 e 1966, ele, Yvan Illich, o grande Alceu Amoroso Lima e eu, no ardor da minha juventude, sonhamos com um Vaticano III. Hans Küng abre caminhos, na profecia dos teólogos, sem medo ou auto-censura.
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Luis Alberto Gómez de Sousa, sociólogo e ex-funcionário das Nações Unidas, é diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes.
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