Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

11.8.07

Le Monde Diplomatique no Brasil

Saiu, finalmente, no Brasil, a edição impressa do Le Monde Diplomatique, a melhor publicação de política internacional do mundo. Fundado há 50 anos por Claude Julien, o Diplô – como é conhecido – se afirmou como o mais importante veículo de política internacional sob a direção de Ignacio Ramonet – seu editor – e de Bernard Cassen.
.
A edição brasileira, publicada graças a um enorme esforço de entidades civis – em que a Polis teve um papel central, sob a direção de Silvio Caccia Bava – chega às bancas com uma tiragem de 40 mil exemplares, na contra-mão da grande mídia oligárquica – que, como se poderia esperar, trata de desconhecer o lançamento do Diplô no Brasil, ao invés de saudá-lo.
.
Na contra-mão porque se lança corajosamente na rua, quando a imprensa tradicional diminui de tamanho – em tiragem, em prestígio e no plano ético -, porque sabe que se soma à imprensa alternativa no Brasil, recentemente consagrada por pesquisa insuspeita da revista Imprensa – em particular Carta Capital, Carta Maior e o blog de Luis Nassif. Porque teve sensibilidade do vazio que existe nas análises de um mundo sobre o qual informa tão mal e de maneira tão deformada a mídia tradicional.
.
Uma vez perguntei ao editor-chefe de um dos jornais mais conhecidos da imprensa tradicional – ele também filho do seu pai, proprietário do jornal – por que a cobertura internacional do jornal era tão ruim. Ele respondeu que era porque a demanda dos leitores não valorizava a cobertura internacional. Argumentei que era um raciocínio circular, que a péssima cobertura não alimentava a demanda. Ele mesmo não havia lido o que eu considerava a notícia mais importante que o seu própio jornal havia publicado com certo destaque naquela semana – a maquiagem dos danos causados numa das guerra imperiais, que os militares dos EUA confessavam terem feito, para influenciarem o governo e a opinião pública, para passarem a idéia de que estavam ganhando a guerra e poderem seguir adiante.
.
E, no entanto, a direita – incluído esse jornal – usam a política internacional como exemplos seletivos do que seriam exemplos de suas teses conservadoras. Para tanto tem que informar mal ao público, tem que omitir informações, tem que ser totalmente parciais em temas como a globalização neoliberal, a China, os EUA, a Venezuela, Cuba, Bolívia, a Argentina, a Coréia do Sul, a Índia, o Equador, entre tantos outros.
.
O Diplô chega na contramão também porque se situa inequivocamente na onda da construção do mundo alternativo. Não por acaso, o editorial de Ramonet denunciando o pensamento único – publicado há dez anos – e convocando à construção de um pensamento crítico e alternativo, faz parte da história da luta anti-neoliberal. Não por acaso, Bernard Cassen foi o grande idealizador do projeto do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Não por acaso, o Diplô conta atualmente com com dezenas de edições nacionais pelo mundo afora, que somam várias centenas de milhares de exemplares, incluindo edições na Argentina e no Chile, às quais se soma agora a do Brasil. Publica, além disso, o caderno Maneiras de Ver, a cada dois meses, um indispensável dossiê sobre temas fundamentais do mundo contemporâneo.
.
A edição brasileira, que deve ser saudada, lida, assinada e propagandeada por todos os que lutam por um outro mundo possível – procurem nas bancas ou em assinaturas@diplomatique.org.br – tem os artigos essenciais da edição mensal francesa e textos produzidos no Brasil. Neste primeiro número, em particular, entrevista con Chomsky sobre a América rebelde; artigo de Cassen contra a globalização do idioma inglês; dossiê de Regis Debray sobre a Palestina; dossiê sobre o conflito entre muçulmanos; artigo sobre o genoma e a biologia como armas de guerra; artigo sobre a segurança alimentar e os direitos humanos; um balanço da esquerda francesa depois das eleições; um artigo sobre a nova América Latina, que a imprensa oligárquica não consegue captar; um artigo sobre o resgate da memória histórica, por John Berger; um debate sobre o etanol; um artigo sobre Sade e o espírito do capitalismo; um sobre a Amazônia e a busca do desenvolvimento responsável; um sobre a redescoberta da literatura indiana; um sobre os intelectuais e a rede mundial do saber, por Pierre Lévy; um artigo de Armand Mattelart sobre a batalha das palavras; um de Leo Ferrez sobre o nosso rosto da periferia.
.
Tudo isso numa bela edição, mais bonita que todas as outras que conheço do velho e cada vez mais novo Diplô, agora, para alegria nossa, também no Brasil. Comprem, leiam, aproveitem, opinem, recomendem, critiquem, debatam, gozem, mas não relaxem, nunca.
.
Benvindo ao Diplô no Brasil.
.
Postado por Emir Sader, 10/08/2007 às 09:24

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz