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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

25.1.17

Gilmar e Michel

Gilmar e Michel

Numa semana Gilmar pega carona de avião com Michel para Lisboa. Na outra Gilmar vai jantar com Michel sem que isso conste na agenda oficial do presidente. Gilmar afirma que tem camaradagem com Michel há 30 anos. A lealdade aos amigos é uma qualidade. As funções públicas, porém, impõem certos rituais. Gilmar Mendes é ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Michel Temer, por força do destino, da Constituição e de algumas maquinações de bastidores, virou presidente da República. Eles ainda são os mesmos?

Não. A velha amizade agora precisa ser enquadrada pelos papeis que encarnam. Gilmar deve julgar Michel no processo das contas de campanha da chapa Dilma/Temer. Manda a regra e o bom senso que se mostrem mais distanciados. Gilmar é o judiciário. Michel, o executivo. Devem representar a separação e a independência dos poderes. Alguém acredita mesmo que na intimidade das conversas de avião e de jantar eles nunca falam do que lhes interessa? Ao não se desgrudar de Michel, Gilmar passa uma mensagem: não está preocupado com as aparências. Ao contrário: legitima a imagem de Michel.

Os sucessivos encontros de Gilmar com Michel sinalizam para quem quiser ver uma única coisa: se depender de Gilmar, Michel ficará no poder custe o que custar. Dilma poderá ser cassada. Michel, não. Pode ser que Gilmar tenha uma cartilha semiótica diferente e pretenda provar que está acima de tudo, de qualquer suspeita e de todas as amizades. A etiqueta dos jogos de poder recomenda que ele e Temer só se encontrem na situação atual em eventos públicos, formais e impessoais.

Há muito que Gilmar se apresenta como um militante político encastelado no STF e no TSE. Vez ou outra, dá opiniões polêmicas defensáveis até por quem não o admira. Em geral, contudo, pega a contramão para defender o indefensável em termos universais. Se todos pedem sorteio urgente para a indicação do sucessor de Teori Zavascki, ele entende que não há necessidade de pressa e que o novo relator pode ser mesmo o futuro ministro indicado por Michel.

No caso, o relatado indicaria o seu relator.

A relação entre Gilmar e Michel é promíscua. Segundo o termo clichê, incestuosa. Se Dilma e Lewandowski ou Dilma e Toffoli se encontrassem dessa maneira despudorada a gritaria da mídia seria ensurdecedora. Lewandowski e Toffoli sempre foram suspeitos de petismo. No STF, no entanto, Toffoli tem sido um fiel escudeiro de Gilmar. O Supremo Tribunal Federal é um universo opaco. Teori Zavascki, ao contrário de Gilmar, só falava nos autos.

Mas cometeu um pecado: deixou o deputado Eduardo Cunha, crivado de acusações, conduzir o impeachment da presidente Dilma, só o afastando, pelas razões que já eram do seu conhecimento e por ele deveriam ser avaliadas, depois do fato consumado. Era sua obrigação salvar Dilma? Não. Talvez fosse sua obrigação impedir que um futuro presidiário, com acusação formada, depusesse uma presidente da República por vingança e conveniência. Agora se diz que ele teria tentado ou pretendido sem sucesso. Pode ser. Não está claro. Nada está claro neste Brasil de Gilmar e Michel.

A proximidade constrangedora de Gilmar e Michel é a cara do Brasil: aqui as aparências não enganam. Revelam tudo.

http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2017/01/9493/gilmar-e-michel/


*Juremir Machado da Silva, nascido em 29 de janeiro de 1962, em Santana do Livramento, graduou-se em História (bacharelado e licenciatura) e em Jornalismo pela PUCRS, onde também fez Especialização em Estilos Jornalísticos. Passou pela Faculdade de Direito da UFRGS, onde também chegou a cursar os créditos do mestrado em Antropologia. Obteve o Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. Como jornalista, foi correspodente internacional de Zero Hora em Paris, trabalhou na IstoÉ e colaborou com a Folha de S. Paulo. Atua como colunista do Correio do Povo desde o ano 2000. Tem 27 livros individuais publicados, entre os quais Getúlio, 1930, águas da revolução, Solo, Vozes da Legalidade e História regional da infâmia, o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras. Coordena o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Apresenta diariamente, ao lado de Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, das 13 às 14 horas, na Rádio Guaíba.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz