Quem está por trás de Yoani Sánchez?
Sozinha, blogueira cubana não teria capacidade financeira e nem técnica para manter seus ataques ao governo de Havana
07/03/2012
Salim Lamrani
La Jornada
Yoani Sánchez, famosa blogueira de Havana, é uma personagem peculiar no universo da dissidência cubana. Jamais nenhum opositor se beneficiou de uma exposição midiática tão massiva e nem de um reconhecimento internacional de semelhante dimensão em tão pouco tempo.
A blogueira Yoani Sánchez, autora do blog Generación Y - Foto: Reprodução |
Após emigrar para a Suíça em 2002, decidiu retornar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, adentrou o universo da oposição em Cuba ao criar o blog Generación Y*, tornando-se uma detratora ferrenha do governo de Havana. Jamais nenhum dissidente em Cuba – quiçá no mundo – conseguiu tantas premiações internacionais em tão pouco tempo, com uma característica particular: tais prêmios deram a Yoani Sánchez dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba o resto de sua vida.
No total, a blogueira foi agraciada com a soma de 250 mil euros, o que significa um montante equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como a França, quinta potência mundial. Ou ainda o equivalente a 1.488 anos de salário mínimo cubano por sua atividade de opositora, já que em Cuba o salário mínimo mensal é de 420 pesos, quer dizer, 18 dólares ou 14 euros.
Wikileaks
Yoani Sánchez mantém estreita relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como indica uma mensagem, classificada como secreta por seu delicado conteúdo, emitido pela Seção de Interesses Norte-Americanos (Sina). Michael Parmly, antigo chefe da Sina em Havana, que se reunia regularmente com Yoani em sua residência diplomática pessoal como indicam documentos confidenciais da Sina, demonstrou preocupação a respeito da publicação dos telegramas diplomáticos estadunidenses pelo Wikileaks: “Ficaria bastante aborrecido se as inúmeras conversas que tive com Yoani fossem publicadas. Ela poderia ter de pagar pelas consequências por toda a sua vida”. Posto isso, a pergunta que vem imediatamente à cabeça é a seguinte: “Por quais razões Yoani estaria em perigo se a sua atuação, como afirma, respeita o marco da legalidade?”.
Em 2009, a imprensa ocidental propagandeou massivamente a entrevista que o presidente Barack Obama havia concedido a Yoani Sánchez, o que foi considerado um feito excepcional. À época, Yoani também havia afirmado haver mandado um questionário similar ao presidente cubano Raúl Castro e que este não havia se dignado a responder a sua solicitação. No entanto, os documentos confidenciais da Sina, publicados pelo Wikileaks, contradizem essas declarações.
Na realidade, descobriu-se que foi um funcionário da representação diplomática estadunidense em Havana quem se encarregou de redigir as respostas para a dissidente e não o presidente Obama. Mais grave ainda, o Wikileaks revelou que Yoani, diferentemente de suas afirmações, jamais mandou um questionário a Raúl Castro. O chefe da Sina, Jonathan D. Farrar, confirmou essa realidade em uma mensagem ao Departamento de Estado: “Ela não esperava uma resposta dele [Raúl], pois confessou que nunca enviou [as perguntas] ao presidente cubano”.
A conta no Twitter
Além do blog Generación Y, Yoani Sánchez dispõe também de uma conta no Twitter e reivindica ter mais de 214 mil seguidores (registrados até 12 de fevereiro de 2012)**. Apenas 32 deles residem em Cuba. Por seu lado, a dissidente cubana segue mais de 80 mil pessoas. Em seu perfil, Sánchez se apresenta do seguinte modo: “Blogueira, resido em Havana e conto a minha realidade em textos de 140 caracteres. ‘Twitto’ via SMS sem acesso à rede”.
Não obstante, a versão de Yoani é dificilmente crível. Com efeito, resulta ser absolutamente impossível seguir mais de 80 mil pessoas só por SMS [mensagens de texto via celular] com uma conexão semanal a partir de um hotel. Um acesso diário à rede é indispensável para tanto.
A popularidade na rede social Twitter depende do número de seguidores. Quanto mais numerosos são, maior é a exposição da conta. Do mesmo modo, existe uma forte correlação entre o número de pessoas seguidas e a visibilidade da própria conta. A técnica que consiste em seguir numerosas contas é comumente utilizada para fins comerciais, assim como pela classe política durante as campanhas eleitorais.
A página www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade Twitter. O estudo do caso Yoani Sánchez é revelador em vários aspectos. Uma análise dos dados da conta Twitter da blogueira cubana, realizado através dessa página, revela a partir de 2010 uma impressionante atividade da conta de Yoani. Assim, a partir de junho de 2010, Yoani se inscreveu para seguir mais de 200 contas Twitter diferentes por dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. A menos que se passe horas inteiras do dia e da noite nisso – o que parece altamente improvável – resulta impossível inscrever-se em tantas contas em tão pouco tempo. Parece, então, que as assinaturas tenham sido geradas por meio de um robô.
Perfis fantasmas
Do mesmo modo, descobre-se que cerca de 50 mil seguidores de Yoani são, na realidade, contas fantasmas ou inativas, que criam a ilusão de que a blogueira cubana goza de uma grande popularidade nas redes sociais. Com efeito, dos 214.063 seguidores da conta @yoanisanchez, 27.012 são “ovos” (perfis sem foto) e cerca de outros 20 mil revestem-se com características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).
Entre as contas fantasmas que seguem Yoani no Twitter, 3.363 não possuem nenhum seguidor e 2.897 só seguem a conta da blogueira, assim como a uma ou duas contas. Do mesmo modo, algumas contas apresentam características bastante estranhas: apesar de não possuírem nenhum seguidor, e seguirem apenas Yoani, já enviaram mais de 2 mil mensagens.
Essa operação destinada a criar uma popularidade fictícia via Twitter é impossível de se realizar sem acesso a internet. Necessita também de um apoio tecnológico assim como de um orçamento. Segundo uma investigação realizada pelo diário mexicano La Jornada, sob o título “El ciberacarreo, la nueva estrategia de los políticos en Twitter”, sobre operações que envolviam os presidenciáveis mexicanos, diversas empresas dos Estados Unidos, Ásia e América Latina oferecem esse serviço de popularidade fictícia (o “ciberacarreo”, algo como um arrastão digital promovido artificialmente) por preços elevados. “Por um exército de 25 mil seguidores inventados no Twitter – afirma o jornal, cobra-se até 2 mil dólares e por 500 perfis manejados por 50 pessoas gasta-se entre 12 mil e 15 mil dólares”.
25 mil euros por mês
Yoani Sánchez envia, em média, 9,3 mensagens [de texto via celular] por dia. Em 2011, a blogueira enviou cerca de 400 mensagens ao mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de um Peso Conversível (CUC), o que representa um total de 400 CUC mensais. O salário mínimo em Cuba é de 420 Pesos Cubanos, o que representa algo em torno de 16 CUC. Todo mês, Yoani gasta o equivalente a dois anos de salário mínimo em Cuba. Assim, a blogueira gasta em Cuba [com o Twitter] uma soma que corresponde, caso ela fosse francesa, a 25 mil euros mensais, ou seja, 300 mil euros por ano. Qual a procedência dos recursos necessários para essas atividades?
Inevitavelmente, outras perguntas surgem: “Como Yoani Sánchez pode seguir a mais de 80 mil contas sem um acesso permanente à internet? Como conseguiu se inscrever para seguir cerca de 200 contas diferentes por dia, em média, desde junho de 2010, com picos que superam 700 contas? Quantas pessoas seguem realmente as atividades da opositora cubana na rede social? Quem financia a criação das contas fictícias? Com que objetivo? Quais são os interesses que se escondem por detrás da figura de Yoani Sánchez?
* Estranhamente traduzido em tempo real em 20 línguas; entre elas, polonês, lituano, grego, búlgaro, coreano, persa e romeno.
** [N.T] Até 27 de fevereiro, data de fechamento desta edição, o número de seguidores já havia aumentado em 7.676, em um período de apenas 15 dias, totalizando 221.739 seguidores.
Tradução: Nélson Norberto
Salim Lamrani, graduado pela Universidade de Sorbonne, é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Descartes e na Universidade París-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Autor de Fidel Castro, Cuba e Estados Unidos (2007) e Dupla Moral. Cuba, a União Europeia e os direitos humanos (2008), entre outros livros. Em 2010, realizou uma longa entrevista – que pode ser acessada em http://www.rebelion.org/ noticia.php?id=103999 – com a própria Yoani, na qual ela nitidamente se esquiva quando confrontada a dar maiores esclarecimentos sobre a sua atividade
http://www.brasildefato.com.br/node/8967
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