Passada a histeria antichavista – depois de terem sido pautados a semana inteira por Hugo Chávez -, a ressaca leva ao reconhecimento de que “algo de importante mudou na América Latina”. Não sabem o quê, como não entenderam porque Lula ganhou as eleições do ano passado e porque Cuba e a Venezuela são os dois únicos países do continente que, conforme a Unesco, terminaram com o analfabetismo.
Como é impossível pensar a América Latina sem a colonização e a escravidão que o capitalismo nos impôs – e portanto, sem pensar o capitalismo – e, atualmente, sem incluir o imperialismo estadunidense, a direita não consegue pensar a América Latina. Como não consegue pensar o nosso continente, tenta descaracterizá-lo: não haveria uma América Latina, como se as distâncias entre o Equador e o Haiti, o México e a Argentina, a Guatemala e o Brasil, fossem maiores das que existem entre a Bélgica e a Itália, Portugal e a Alemanha, a Espanha e a Grécia.Como querem entender a América Latina e o mundo se desconhecem o fenômeno mais abrangente e determinante do nosso tempo – o imperialismo -, não conseguem captar a atualidade do nacionalismo e sua dimensão integradora no continente.
Como não querem resistir ao neoliberalismo, ao contrário dos povos do continente, que reiteradamente têm votado contra os candidatos que pregam esse modelo – tal qual no Brasil -, não entendem o papel do Estado como regulador da economia, como garantia de direitos sociais, como afirmador da soberania, como instrumento da integraçáo latino-americana.
Aconteceram, então, duas reuniões na semana passada no Rio: a que realmente houve e a que foi noticiada pela imprensa oligárquica. Assim como também há duas América Latinas: a real, a de Hugo Chávez, de Evo Morales, de Fidel, de Krichner, de Lula, de Tabaré Vazquez, de Rafael Correa, de Daniel Ortega e dos povos que os elegeram e reelegeram, e a outra, a da direita, com a grande mídia incluída. Logo podem viver novas surpresas, com o Paraguai.
É um continente que não se deixa aprisionar pelos esquemas liberais e eurocentristas, que se rebela, que constrói e reconstrói suas alterantivas de novas maneiras, aprendendo das experiências passadas e refazendo sua história presente. Promovendo as surpresas que fazem da América Latina a nova toupeira do século XXI.
Postado por Emir Sader 22/01/2007 às 15:42
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