pergunta:
"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"
Emir Sader
Ferreira Gullar, vá ler ou cale a boca!
Ferreira Gullar, vá ler ou cale a boca!
Como bem disse meu querido amigo Marcos Marcionilo, é injustificável que um jornal pague a alguém para escrever coisas de que não entende e exibir sem o menor escrúpulo sua sesquipedal ignorância e desinformação. Hoje, na folha de s.paulo (que não leio, já vou alertando), o ressentido-mor Ferreira Gullar, mais uma vez, desfiou seu reacionarismo característico de stalinista senil que se joga sem susto nos lençóis da direita mais abjeta. Um artigo tão absurdo que impede qualquer comentário sensato. Por isso só vou tratar de suas últimas palavras, que são: "O que, porém, não se pode aceitar é que linguistas e gramáticos afirmem que não se deve exigir que se fale e escreva corretamente, quando eles mesmos falam e escrevem conforme as regras gramaticais".
Esse é um argumento idiota, burro, cabotino, mentiroso, falacioso, néscio, vilipendioso, para dizer o mínimo. As pessoas que fazem afirmações assim estão, na verdade, deixando claro que nunca jamais leram um único texto de linguística contemporânea, que não fazem a mais mínima menor ideia do que realmente propõe a educação linguística que se apoia em teorias bem fundadas e em exaustivas pesquisas empíricas. É estupidez calhorda. Uma retórica que cria seus próprios adversários para em seguida esgrimir argumentos vazios contra eles. Conforme escreveu recentemente Sirio Possenti: "Em geral, os que pretendem salvar as línguas têm o vício grave de não citar as fontes das teses que combatem. Nunca se pode saber em que página de qual obra – ou em que texto de jornal ou blog – um destes imaginários inimigos do óbvio escreveram a tese que se lhes imputa". Assim é muito fácil, né?
Uma das mais conhecidas mazelas da história cultural é a distorção sistemática e consciente de ideias revolucionárias que rompem com lugares-comuns arraigados há muitos séculos na mentalidade geral. Ela veio substituir métodos mais descarados de intolerância, como a fogueira da Santa Inquisição. Que história é essa, senhor Giordano Bruno, de dizer que a Terra gira em torno do Sol? Já para a fogueira!
Mas sempre existe a inquisição retórica, a manipulação das ideias para a defesa das próprias causas arcaicas. Darwin jamais disse que "o homem veio do macaco", mas quem se importa em ler os livros dele? Basta que alguém vocifere contra o que ouviu dizer que alguém escutou falar. É a velha história de ouvir cantar o galo sem saber onde e, principalmente, se era galo mesmo ou um simples papagaio querendo se fazer passar por dono do galinheiro. Marx nunca afirmou que "tudo está na economia", mas esse reducionismo burro do marxismo vive solto por aí. Freud não teorizou que "o sexo" está na origem de todo o comportamento humano, mas quem lê Freud?
Nenhum — insisto, repito, reitero e enfatizo: NENHUM — linguista brasileiro escreveu ou afirmou oralmente que a educação linguística não deva permitir o acesso dos aprendizes às formas linguísticas prestigiadas de falar e escrever. Nenhum, nenhum, nenhum. Ninguém que se dê ao trabalho de ler os textos de Ataliba de Castilho, Maria Helena de Moura Neves, Irandé Antunes, Magda Soares, Sirio Possenti, Carlos Alberto Faraco, para citar apenas algumas das personalidades mais atuantes da linguística e da educação no Brasil, vai encontrar nessas obras o menor vestígio de defesa das propostas mentirosas que Ferreira Gullar e outros lhes atribuem com pusilânime leviandade. Nenhum, nenhum, nenhum.
Mas para que ler, não é? Para quê, se o dinheirinho está garantido e basta rabiscar qualquer porcaria atolada no senso comum mais rasteiro e dar a ela laivos de grande preocupação intelectual?
Tem gente que envelhece e fica melhor ainda no que faz: Umberto Eco, por exemplo, que poderia ainda dar muita coisa boa ao mundo. Outras pessoas perdem toda a dignidade e jogam no lixo a própria biografia. Ferreira Gullar é uma dessas. Já que não lê, poderia também não escrever mais. A educação brasileira — que ele finge defender mas, no fundo, nem sabe o que é — ficaria imensamente grata.
Cancion con todos
Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.
Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.
Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz
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