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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

24.4.08

FERNANDO LUGO,UMA VITORIA DO POVO PARAGUAIO

Entre 1750-56 houve a guerra guaranítica no sul do Brasil. Exércitos de Portugal e Espanha, abençoados pelo Vaticano, trocaram Montevideo pelo atual território do Rio grande do sul que era habitado por 600 mil guaranis e Charruas. Os gaúchos verdadeiros que há milênios habitavam aquele território.. Da guerra, sobraram apenas 30 mil. Um parte foi morta e a outra, fugindo da barbárie européia, cruzou o rio Uruguai e foi somar-se a outros parentes guaranis, no territorio do Paraguai. Em 1808-12 implantou-se a Republica no Paraguai e um jovem estadista, Dr França fez reforma agrária, e implementou a primeiras regras republicanas do continente. Foi derrubado pela oligarquia. Entre 1865-70 outro jovem republicano Solano Lopez, implantou a primeira siderúrgica da América do sul, e sonhava com um modelo de industrialização do país. Provocou o império inglês. Que contratou os exércitos argentinos, uruguaios e brasileiros, e fizeram a guerra do Paraguai, tão bem descrita e recuperada pelo nosso historiador Chiavenato. Mataram 90% de todos os homens adultos. Um massacre, para preservar os interesses da indústria inglesa. Como aliás fariam mais tarde também aqui no Brasil com o assassinato de Delmiro Gouveia. O primeiro industrial nacionalista brasileiro. Veio o século XX, e o país foi governado sempre por ditadores. Strossner, de origem alemã e afiliação nazista, governou por 40 anos. E seu partido, o Colorado, governou desde a segunda guerra 1945, até hoje. Dia 20 de abril, houve eleição no Paraguai. Ganhou um bispo da teologia da libertação, líder dos pobres, que fala fluentemente guarani: Fernando Lugo. Nem partido tem. Mas tem o povo e suas forças, que derrotaram os colorados e outro filhote da ditadura militar o general Oviedo. Finalmente, o povo paraguaio retoma as rédeas de seu destino. E nós os brasileiros, estamos histórica, étnica e economicamente vinculados a eles. Cabe a nós, contribuir de todos os modos possíveis, para que o povo paraguaio recupere a dignidade, a justiça, a soberania e melhore suas condições de vida. Os ventos da América latina estão começando soprar a favor dos povos. João Pedro Stédile, membro da coord. nacional do MST e da Via Campesina Brasil. ............................................................................... Que viva Paraguay! (una pequeña crónica guarany) João Alfredo Telles Melo Para Félix Sánchez, João Luis Duboc Pinaud e João Pedro Stedile Escrevo este relato já impactado pelos primeiros resultados que dão a vitória ao ex-bispo Fernando Lugo, da Aliança Patriótica pela Mudança (Câmbio, em espanhol, daí a sigla APC), que atenua o cansaço de um dia que começou às 4 da manhã deste domingo, 20 de abril, para trabalhar como observador internacional nas eleições gerais paraguaias, como um dos representantes indicados pela Via Campesina/MST. Muitos sentimentos me povoaram nesta rápida passagem de um pouco mais de dois dias em Assunción. Ceticismo, um pouco de interesse e, principalmente, de curiosidade me acompanharam desde que saí à tardinha, da sexta, dia 18, de Fortaleza rumo ao Paraguay. Afinal, meu espírito crítico extremamente aguçado me fazia desconfiar de uma aliança de partidos e movimentos de esquerda com um partido autodenominado liberal (que indicou o vice da chapa), ainda que a candidatura de Lugo, um bispo comprometido com a causa dos pobres, militante da Teologia da Libertação, me inspirasse uma simpatia de quem já havia acompanhado com fervor, há quase trinta anos, a Revolução Sandinista da pequenina Nicarágua. Experiência, que, com a participação decisiva da igreja popular, embalou (e depois veio a frustrar) os sonhos de juventude de minha geração. Dentro do avião, no trecho São Paulo/Assunción, ao ler um importante periódico paraguaio, recebo o primeiro choque de realidade: uma nota da associação representativa dos proprietários rurais desancando o programa agrário do movimento "Tekojoja", que dá suporte à candidatura da APC. Ali, os ruralistas, muitos deles certamente de origem brasileira, rechaçavam, virulentamente, as propostas de agroecologia, reforma agrária e agricultura familiar que orientam o programa de desenvolvimento rural de Lugo. A luta de classes irrompia através do lado mais "moderno", do ponto de vista do capital agropecuário, o do agronegócio, que segue, no entanto, extremamente arcaico em sua face socioambiental. O programa de câmbio, no campo, se mostrava para valer e isso já impactava meu olhar e meus sentimentos. No entanto, foi o contato - em que pese o pouco tempo de permanência - com o povo paraguaio que me foi cativando e me desvendando uma realidade até então desconhecida para mim. Chegar ao aeroporto de madrugada, sem ninguém a me esperar, e ter a ajuda, de forma interessada e gentil, de um taxista para me levar a uma pousada, começou a me revelar uma característica tão próxima a meus conterrâneos cearenses, a hospitalidade. Mas, não só. Suas raízes indígenas, a língua guarany, da qual não abrem mão, o orgulho de sua história, o amor a seu país, a vontade de mudança política estiveram sempre presentes nas falas que colhi do povo mais simples de Assunção. Um capítulo à parte, para mim, foi o contato com a língua guarany, que, à maneira dos ideogramas orientais, permite traduções não literais e têm uma riqueza muita larga de significados. Observe-se "Tekojoja", nome do movimento da candidatura de Lugo. Dos paraguaios, ouvi três diferentes traduções: "todos juntos", "estamos (ou vivendo) juntos" e "somos todos iguais", que me pareceu a mais apropriada (embora sem contradição com as demais), pois "joja" significa "paralelo", "no mesmo plano", a dizer que ninguém é maior do que o outro (como que recuperando o "ethos" da república comunista-cristã dos guaranys, de Sepé-Tiaraju). Nessa hora, não dá para esconder uma ponta de inveja por termos perdido quase que completamente, pelo decreto de Pombal, nossa língua geral brasileira, o "nheengatú" (que sobrevive em pouquíssimos recantos do Brasil), de raízes tupi, pela imposição do português como idioma único e oficial. Ouvir deles que seu herói nacional é o "Mariscal (Marechal) López" - o Solano López, pintado como um ditador implacável em meus livros de história do primário - não deixa de nos trazer um certo sentimento de vergonha, pelo que o Brasil, a Argentina e o Uruguay, em sua Tríplice Aliança, fizeram covardemente com esse povo, ao matar centenas de milhares de homens, destruir a nascente infraestrutura do país, golpeando, significativa e fortemente, o desenvolvimento desse país. Nessa hora, é que nosso sentimento de solidariedade emerge com muita força e se fortalece ainda mais pela companhia, multidiversa e multipartidária, dos observadores eleitorais convidados pela APC. Gente de todo o mundo, de partidos de esquerda e centroesquerda, que viemos a Assunção para presenciar o início do que esperamos venha a ser uma verdadeira Revolução Democrática, através da derrota - e agora os resultados se confirmam – de 61 anos de corrupção, violência e exploração do povo guarany pelas elites políticas e econômicas, representadas, principalmente, no Partido Colorado. Agora, os noticiários televisivos confirmam a vitória de Lugo (com o reconhecimento da derrota pelos dois principais adversários, a oficialista Blanca Ovelar e sua dissidência, de corte militarista, o General Oviedo) e o povo já toma as ruas, marchando, com suas bandeiras tricolores e buzinaços, em direção à Praça do Panteón. Estranha – e explosiva – metamorfose! Durante todo o dia, o que vimos foi a presença ofensivamente ostensiva da estrutura do Partido Colorado: carros, camionetas, ônibus, a carregar os eleitores, sem nenhum pudor de portar, inclusive, às portas das seções eleitorais, cartazes, adesivos, bandeiras, demonstrando a prepotência de mais de 60 anos de dominação e corrupção. As aparências – que enganavam o observador mais leigo – escondiam a decisão - já tomada, mesmo que de forma discreta, porém resoluta, pela ampla maioria do povo – de derrotar o regime que lhe infelicitava há décadas. Esse sentimento latente já se manifestara, ali e acolá, quando os fiscais dos partidos de oposição nos procuravam, aos observadores internacionais, para denunciar as mais variadas formas de corrupção eleitoral (tão conhecidas de nós, brasileiros), como as ameaças aos servidores e a compra de votos junto aos eleitores pobres. Na periferia, observamos o caso de mais de quatrocentas famílias que haviam sido pressionadas a votar nos colorados, sob pena de serem expulsas de uma ocupação recente. A preocupação maior, no entanto, era com a fraude, no momento da feitura das atas pelas mesas eleitorais, que funcionariam também como mesas apuradoras. Aliás, só o receio da fraude é quem pode explicar o fato de que, nas pesquisas de boca-de-urna, eleitores de Lugo desacreditarem de sua vitória. No entanto, a ampla maioria de quase dois votos a um, nas urnas da capital, para a candidatura do "Câmbio" ("palavra mágica", no dizer de Lugo, em sua primeira coletiva de imprensa após a eleição), e sua ampla e imediata divulgação, é que veio a impedir qualquer tentativa de corromper o resultado eleitoral. O que vai se passar, em nosso vizinho, a partir de agosto, quando o candidato dessa ampla aliança de partidos e movimentos tomar posse, é a indagação que fazemos os socialistas de todo o mundo que para lá acorremos e nos tornamos testemunhas dessa virada histórica. Como vão se dar as negociações com o governo brasileiro, em torno do preço – atualmente injusto e defasado - da energia de Itaipu, diante do que o programa da APC designa de "soberania energética"? Será possível a construção de um novo modelo de desenvolvimento rural – social e ambientalmente justo e responsável - com a realização de uma reforma agrária ecológica, que golpeie o latifúndio, os transgênicos, os agroquímicos e a monocultura e devolva a terra para os seus legítimos donos? A governabilidade de Lugo vai se sustentar unicamente em sua contraditória frente partidária ou se apoiará na organização e mobilização dos movimentos sociais? O que seria essa "terceira via" entre Lula e Chávez a que o bispo, agora presidente, se referiu quando questionado sobre seu modelo de governo? O tempo – e a luta social – é quem nos dirão. Agora, o que fica em minha memória é a resposta do taxista que me levou ao aeroporto, quando lhe perguntei "Que tal?". Ele me disse tão somente: "Especial!". João Alfredo Telles Melo, é advogado, professor e ex-deputado federal pelo PSOL/CE.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz