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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.4.08

A arte de desconstruir um governo e de construir uma ilusão

ZH não produziu uma só manchete claramente questionadora de alguma política do Governo Yeda ao longo de três meses. Zero de crítica. Para o jornal, a administração Yeda ronda a perfeição, pouco importando que no mundo real arraste-se com um desempenho constrangedor. Já o Governo Lula padece nas manchetes de ZH, embora no mundo real obtenha a aprovação da grande maioria da população e a imagem do presidente seja ótima de acordo com todas as pesquisas de opinião. Ayrton Centeno Expostas nas bancas e nas sinaleiras, apregoadas pela publicidade em cartazes, rádio e TV, percebidas mesmo pelos mais desatentos, as manchetes de capa são o hall, o espaço mais visitado dos jornais. Mesmo quando apenas vislumbrado, captado num relance, pode-se dizer que seu enunciado se aloja, de algum modo, na mente de leitores e de não-leitores. Por conta desta alta visibilidade, sem a pretensão de ciência que não posso ter, resolvi, anotar e catalogar as manchetes de Zero Hora do último trimestre. Sabe-se que, no jornal, a criação de manchetes de capa observa, num processo de defesa e ataque, alguns padrões de conteúdo. A barragem de fogo político e ideológico destina-se, quase sempre, ao Governo Lula. Sob o ataque das letras graúdas também costumam estar a base parlamentar do governo federal, os movimentos sociais, as propostas de superação da desigualdade, o Estado brasileiro, o próprio Brasil como um país fragilizado, indigno de confiança, os aliados do Governo Lula na América Latina, notadamente Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Rafael Correa. Aqui, tenta-se desconstruir o Brasil, Lula, seu governo, seus aliados, suas relações internacionais e seus projetos. O afago benevolente vai para o Governo Yeda Crusius, o agronegócio, as papeleiras, o mercado e o Rio Grande. Aqui, ao inverso, a idéia é de construir o Grande Rio Grande mítico e empreendedor, cavalgando as propostas com o timbre do Piratini ou os planos de indústrias de se instalarem no Estado, muitas vezes montado apenas em intenções. Aqui, constrói-se uma quimera. Alguém poderá dizer que não seria necessário dar-se a este trabalho já que a realidade nos informa disto suficientemente. Não deixará de ter certa razão. Mas custa apenas alguns minutos diários e uma dose de omeprazol para proteger as paredes do estômago. Além do mais, é bom escarafunchar estes escaninhos, saciar a curiosidade e perceber como se traduz em números e percentuais esta engrenagem de demolição e edificação de pessoas, partidos e poderes. Provavelmente embalado pelo ócio de final de ano, comecei a registrar as capas sirostskianas no apagar das luzes de 2007, separando as manchetes em categorias. De pronto, descartei as vinculadas às investidas institucionais da RBS. No período, muitas capas de ZH foram dedicadas a si própria, ou seja, à agenda que implementou com sua campanha de trânsito. Neste movimento, os acidentes, as medidas das autoridades, as cifras de feridos e mortos são apropriados pela campanha e noticiados sob o logo e o slogan correspondentes. Coloquei de lado também àquelas que chamei de neutras. Somadas, as manchetes institucionais, auto-referenciadas, e as neutras são maioria absoluta no trimestre. São neutras - pelo menos dentro do proposto embora, de fato, nunca sejam neutras - geralmente as manchetes relacionadas às festas (Carnaval, Navegantes, Natal, Ano Novo), tragédias, meteorologia, ciência, polícia, esporte, etc. Feita esta depuração e ajustando o foco apenas nas manchetes políticas, ou seja, aquelas que usam um determinado viés para gritar algo associado às disputas de poder na sociedade e que flagram como o veículo se posiciona diante destas mesmas disputas não obstante invoque o véu da imparcialidade, constata-se que 30,2% delas exploraram fatos negativos para o Governo Lula/PT/Aliados/Brasil, ao passo que somente 7,5% trataram de fatos positivos. E, de inhapa, 7,5% das manchetes ainda abordaram negativamente fatos relacionados aos aliados latino-americanos do Governo Lula. Esta é a mão que apedreja. Em contrapartida, a mão que afaga acariciou o Governo Yeda/Aliados/Rio Grande com 40% das manchetes positivas e somente 12,5% das negativas. Como as principais forças que comandam os dois governos são antagônicas, pode-se dizer que ZH prestou um serviço ao governo estadual e aos seus aliados, seja ao enfocar seus temas favoravelmente, seja ao enfocar desfavoravelmente seus adversários, ao publicar praticamente 80% de suas manchetes políticas. Desfavoreceu o Governo Yeda e seus aliados em 20% de suas manchetes. O mais extravagante de tudo é que, excluídas as manchetes referentes às atribulações do pessoal do aprisco da governadora na CPI do Detran, ZH não produziu uma só manchete claramente questionadora de alguma política do Governo Yeda ao longo de três meses. Zero de crítica. De modo que, na avaliação do jornal, a administração Yeda ronda a perfeição, pouco importando que no mundo real arraste-se com um desempenho constrangedor. De outra parte, o Governo Lula padece nas manchetes de ZH embora no mundo real obtenha a aprovação da grande maioria da população e a imagem do presidente seja ótima de acordo com todas as pesquisas de opinião. Este desligamento da realidade exterior a que Zero Hora se entrega – de resto, ao lado do PIG – desnuda um desejo de viver na fantasia autoproduzida. Um desejo legítimo, embora bizarro, se suas consequências se restringissem à pessoa física do dono do diário. O que parece anti-jornalístico e anti-democrático é usar um jornal - que pratica o marketing da pluralidade e da “vida por todos os lados” - para favorecer a visão de um lado só. Para, no limite, apresentar aos outros ficção como se fossem fatos. E fatos como se fossem ficção.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz