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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

17.12.07

Ecologia das armas

2007-12-16 - Central da Periferia
. Estevão Ciavatta
. Quando se fala em segurança pública no Brasil, a gente logo pensa numa favela, traficantes armados, confrontos com a polícia, balas perdidas... É aqui que o bicho pega! Mas não é só no Brasil, não. A periferia é a última fronteira de guerras e disputas de territórios que sempre fizeram parte da história da humanidade.
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Segundo o escritor e urbanista Mike Davis, “se lermos os relatórios do Ministério da Defesa Americano e do Pentágono, o tema mais consistente é o problema de que parte do mundo não está sob controle efetivo, o que há 40 anos era identificado como as florestas da China e do Vietnam. Bem, as novas selvas são as favelas nas cidades terceiro mundo, como na Faixa de Gaza, na Somália e no Haiti”.
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O texto “Ecologia das Armas” foi escrito ainda no primeiro semestre desse ano quando fui convidado pelo AfroReggae a ir conhecer as iniciativas de segurança pública bem sucedidas da Colômbia, o que gerou o filme “O Veneno e o Antídoto: uma visão da violência na Colômbia”. O tema segurança pública se desdobrou no Central da Periferia em uma parceria da TV Globo, Pindorama, Unicef e Viva Rio para trazer dois adolescentes haitianos, que aprenderam português com as tropas brasileiras, para conhecer no Brasil uma outra bem sucedida aproximação entre as forças do Estado e a periferia: o GPAE do Morro do Cavalão, em Niterói. Assim como no último domingo, no próximo, no Central da Periferia, o assunto será segurança pública. O texto também será publicado em duas partes.
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Assim como marcas, armas e palavras, andando pelo Brasil a gente encontra muitas árvores que não são brasileiras. Nos quintais vemos uma mangueira carregada, uma jaqueira centenária, um limoeiro pro suco ou pra salada, uma bananeira, sem falar do sempre presente coqueiro. Todos estrangeiros, muito bem recebidos e adaptados ao clima do Brasil. No entanto, vê-se que a Mata Atlântica foi quase toda derrubada, resultado de mais de 500 anos de uso intensivo e desordenado de nossas terras. Restos frágeis desse ecossistema tão rico, vistos aqui e ali entre vastos pastos de capim colonião, se misturam a todas aquelas árvores já tão brasileiras, formando focos de resistência da vegetação natural. Numa vista d’olhos, o ambiente é muito bonito. É emocionante ver o dendê, o africano, tão bem misturado, por exemplo, à vegetação das terras ao sul de Salvador, Bahia. Mas cadê o jequitibá, o jatobá e a copaíba? Quem sabe delas? Quase ninguém sabe.
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Enquanto isso a pobreza se espalha pelas aglomerações urbanas das nossas capitais e cidades interioranas. Milhares de famílias que viviam do uso da terra buscam uma vida melhor nas cidades, cada um com seu motivo particular, seja a vontade de “ser alguém” na vida, a falta de trabalho e de oportunidades no campo, o desejo dos jovens por novas experiências, ou mesmo a fuga das zonas de fome do país. Você foi a Ouro Preto recentemente? Ou a Teresópolis? Ou a Camaçari? Ou mora numa capital de estado? Então você sabe o que é uma favela.
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Por todo o Brasil, vê-se que o crescimento econômico, infelizmente, não se distribui pelo crescimento populacional das cidades. Em contraposição ao asfalto, às concessionárias de automóveis, aos restaurantes, hotéis e avenidas, as favelas crescem indiscriminadamente nas periferias. O estilo de vida vai se modernizando e uma condição se impõe: a luta no dia-a-dia para ter dinheiro no bolso para pagar a escola, a comida, a diversão, o remédio...
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Mas e a copaíba com isso?
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Bem, a copaíba é uma árvore que ocorre em quase todo o Brasil, do Rio de Janeiro à Amazônia, e produz um óleo que é um santo remédio utilizado como diurético, laxativo, antitetânico, anti-reumático, anti-séptico do aparelho urinário e, principalmente, antiinflamatório e cicatrizante. Para se ter uma idéia de sua eficácia, o óleo de copaíba em 1677 já constava da farmacopéia britânica e, em 1820, da americana.
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No entanto, em 2007, no Brasil, quase ninguém conhece ou viu uma por perto. É verdade que na Amazônia esta árvore ainda é bastante utilizada e também se encontra seu óleo em alguns mercados das capitais nordestinas, mas mais de cem milhões de brasileiros que vivem nas regiões onde outrora vivia a Copaíba, não tem a menor idéia que ela exista. É de se espantar, já que a copaíba tem valor econômico e poderia estar complementando a receita de muitas famílias brasileiras. Ou, se não rendendo dinheiro, ao menos fazendo economizar em remédios nada baratos das indústrias farmacêuticas.
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A conquista portuguesa da Terra de Vera Cruz, através das armas de fogo, se legitimou nos cartórios que surgiam em cada nova vila da administração colonial. O direito à propriedade das terras e ao seu usufruto abriu as portas para que o machado e a moto-serra devastassem as florestas nos séculos seguintes. Mas até os anos 1970 ainda se podia encontrar fortes vestígios de uma cultura da terra, aonde a pobreza e o atraso econômico haviam produzido o milagre da preservação ambiental e cultural no pouco que restava de nossas verdes matas. A partir de então, nos últimos 30/40 anos, só vimos a força do capital econômico construir um novo código de valores onde a universalização dos bens de consumo abriu as portas da esperança a toda uma legião de brasileiros que estavam esquecidos no tempo e no espaço.
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Até 1960, o Brasil tinha uma população predominantemente rural. No recenseamento de 1970 já se constatou o predomínio da população urbana, com 56% do total nacional. Atualmente, 75% da população brasileira vive nas cidades. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a população urbana é de mais de 90% do total. E numa sociedade onde a idéia de progresso está associada à uma imagem de vida urbana, a maioria de nós brasileiros podemos sonhar e, quem sabe, conseguir ter um padrão de vida próximo ao chamado “primeiro mundo”, afinal todos temos as informações do que é possível e de até onde o avanço tecnológico chegou. Mas esse mesmo cenário exige uma dedicação e sorte sobre humanas de quem deseja chegar lá. A questão é que, diferentemente do que pensa a maioria dos brasileiros, inclusive a grande maioria das classes C, D e E, não basta só querer ou se esforçar para sair da pobreza. Hoje, no Brasil, se criou uma impermeabilidade social: o de cima sobe e o de baixo desce. Ser professor primário, por exemplo, que já foi uma opção para se chegar à classe média, hoje é um caminho para as favelas. A realidade é cruel e quem viver verá.
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Balas perdidas voam pelas cidades. E não só nas grandes metrópoles. O interior do Brasil é assolado pela violência urbana. Recente pesquisa mostrou que a cidade mais violenta do Brasil não é nenhuma capital de estado, mas um destino turístico muito conhecido no Brasil: Foz do Iguaçu. No Rio, a outrora pequena Macaé ostenta o título de campeã regional. Mas espera aí! Essa cidade do norte fluminense vem recebendo investimentos desde que se descobriu petróleo por ali! Ela viu sua economia crescer e se há hoje uma certeza nacional é a de que temos que crescer nosso PIB (mais que a Argentina, se possível), que temos que gerar novos empregos para acabar com a violência e a desocupação dos jovens. Ou não? A sabedoria convencional diz que sim mas cabe a pergunta: por quê a violência e a pobreza aumentam proporcionalmente à geração de riqueza? “Ecologia das Armas” continua na semana que vem. Até lá.
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Estevão Ciavatta é diretor geral do Central da Periferia

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz