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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

21.12.06

Melhores e piores de 2006

Bem, demorou, mas acabou o ano. Vamos lá. Se todo mundo faz, por que não nós? Faço minha primeira lista, depois acrescento outros. Façam vocês também. Vale tudo: filmes, CDs, etc.
Melhor derrota: a da mídia oligárquica nas eleições.
Melhor vitória: a de Jaques Wagner na Bahia.
Pior livro: Pornopolítica – da série não li e não gostei.
Melhor livro: Planeta Favela, de Mike Davis.
Pior leitura: prêmio dividido entre Folha de São Paulo e Veja.
Melhor leitura: prêmio dividido entre Carta Capital e Carta Maior.
Melhor programa de televisão: prêmio adiado para 2007.
Pior programa de televisão: Jô – da mesma série não vi e não gostei.
Pior humorista: empatados Chico Caruso e Millôr Fernandes.
Melhor cronista: Luis Fernando Veríssimo.
Maior mico: notícia da queda do avião da Gol não dada pelo Jornal Nacional.
Melhor personagem politico: Evo Morales.
Pior personagem político: FHC.
Melhor vitória esportiva: Internacional contra o Barcelona e seleção de vôlei masculino campeã mundial.
Pior momento esportivo: fiasco da seleção brasileira na Copa do Mundo.
Pior vitória: Itália campeã mundial de futebol.
Melhor cabeçada: Zidane.
Pior cabeçada: Zidane.
Postado por Emir Sader às 07:27

Sermão de um progressista a conservadores desmoralizados

Em um artigo publicado originalmente no Los Angeles Times e reproduzido no Courrier International, Michael Moore se dirige à direita norte-americana, no momento em que é lançado nos EUA seu novo filme, “Sicko”, um documentário sobre a miséria do sistema de saúde estadunidense. Quem sabe possa servir também para a desmoralizada direita brasileira.
"Eu gostaria de mandar um ramo de oliveira. Aqueles de vocês que se dizem conservadores e costumam votar nos republicanos têm passado semanas dolorosas. Tenham confiança em mim, eu sei o que é isso. De fato, nós, do campo oposto, não costumamos conhecer de verdade o que é a vitória... Eu sei que vocês estão desconcertados com os resultados das últimas eleições.
O que eu não quero é que vocês se deixem levar pelo grande pavor que nos invadiu a nós, de esquerda, durante mais de vinte anos. É verdade que acabou a revolução republicana de vocês, mas não desistam. Não se deixem abater. Nem eu, nem os milhões de eleitores que votaram nos democratas não estamos interessados em vingança por todos esses anos do governo de vocês. Ao contrário, quero fazer-lhes doze promessas sobre a atitude que adotaremos em relação à oposição nos próximos anos.
Este é o meu Sermão de um progressista a conservadores desmoralizados:
1. Nós respeitaremos vocês sempre. Nunca, nunca mesmo, nós os trataremos de antipatriotas simplesmente porque vocês não estão de acordo conosco. Mais do que isso, nós os incentivaremos à dissidência e ao desacordo.
2. Nós deixaremos que vocês se casem com quem queiram (e isto apesar de que alguns de vocês consideram o comportamento republicano como “diferente”, até mesmo “imoral”). Com queiram casar não é problema nosso. Amem, apaixonem-se – é um presente maravilhoso.
3. Nós não gastaremos dinheiro dos filhinhos de vocês para nossos caprichos pessoais ou para enriquecer a nossos amigos. São as finanças de vocês e nós as equilibraremos para vocês.
4. Logo, quando fizermos voltar do Iraque nossos filhos e nossas filhas, nós traremos também os filhos e as filhas de vocês. Nós nos comprometemos a nunca mais mandar os filhos de vocês em uma guerra fundada em uma apresentação de Power Point lamentável forjado por pessoas que nunca foram à guerra.
5. Quando nós fizermos dos EUA a última democracia ocidental a oferecer uma cobertura de saúde universal e que todos os norte-americanos se beneficiem de uma ajuda no caso de doença, nós lhes prometemos que vocês também poderão consultar um médico, se puderem pagá-lo ou mesmo se não puderem fazê-lo. E quando a pesquisa sobre células tronco permitir fazer tratamentos e produzir remédios contra as doenças que vocês tenham, nós o faremos de forma que os familiares de vocês e vocês também tenham acesso a esse avanço da medicina.
6. Quando nós despoluirmos nosso ar e nossa água, vocês também poderão respirar esse ar mais puro e essa água mais pura. Quando nós tivermos brecado o aquecimento do clima, vocês não terão mais necessidade de buscar sua futura casa na beira do mar de Yuma, bem no meio do Arizona.
7. Se chegar a acontecer que um assassino mate 3 mil pessoas em nosso país, nós consagraremos todos os nossos meios na sua busca e na sua tradução na justiça. Imediatamente. Nós os protegeremos.
8. Nós não olharemos jamais o que vocês fazem em privado ou o que acontece no ventre de vocês. O que vocês fazem como adultos responsáveis é problema de vocês. Nós continuaremos a calcular a idade de vocês a partir da data de nascimento de vocês, não a partir da data da concepção.
9. Nós não tomaremos os fuzis de caça de vocês. Mas se vocês têm necessidade de um fuzil de assalto ou de uma pistola para matar um pássaro ou um veado, é porque vocês não são bons caçadores e deveriam buscar um outro esporte. Enquanto isso, por dever de igualdade, não armaremos os veados.
10. Quando aumentarmos o salário mínimo, isso corresponderá também aos empregados de vocês. Eles usarão esse dinheiro para comprar mais, o que significa que vocês serão reembolsados! E quando as mulheres forem finalmente pagas da mesma forma que os homens, nós faremos de forma que as mulheres de direita também se beneficiem.
11. Nós respeitaremos as crenças religiosas de vocês, mesmo que vocês não às coloquem em prática. Nós faremos tudo para promover os aspectos mais audaciosos das crenças religiosas de vocês – “Felizes os que buscam a paz, pois eles serão chamados de filhos de Deus”, “Amai aos vossos inimigos”, “É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus” e “Tudo o que vocês fizerem a um desses pequenos que são seus irmãos, é a mim que vocês fazem”. Nós faremos saber aos povos dos outros país que Deus não bendiz apenas os EUA, que ele bendiz todo o mundo. Nos desencorajaremos a intolerância e o fanatismo religioso – começando por tirá-lo da nossa própria porta.
12. Nós não toleraremos os políticos corruptos e que desrespeitam a lei. E nós prometemos levar nossa perseguição aos políticos corruptos começando por nosso próprio partido. Se nós não cumprirmos com esse compromisso, nós contamos com vocês para nos advertir. O simples fato de estar no poder não nos dá o direito de fechar os olhos se nosso partido comete desvios. Obrigado por realizarem o grande dever que incumbe a uma oposição leal.
Se eu assumo todos esses compromissos com vocês, é porque este país é também de vocês. Vocês são tão norte-americanos como nós. E estamos todos no mesmo navio. Obrigado por estes anos vividos a serviço do país e obrigado por nos terem dado a oportunidade de ver que nós podemos melhorar, mesmo que apenas um pouco, a sorte de nossos 300 milhões de compatriotas – e do resto do mundo.
E agora, recuperem-se e vão beber um Frapuccino.
Postado por Emir Sader
18/12/2006 às 07:38

Obituário com hurras -

Por Emir Sader
O poeta uruguaio Mario Benedetti escreveu um poema intitulado "Obituario con hurras", dedicado a Ronald Reagan. Seus versos seguem atuais para falar da morte do ditador Augusto Pinochet.
11/12/2006 22:03

15.12.06

OBITUARIO CON HURRAS

Mario Benedetti
Vamos a festejarlo
vengan todos los inocentes
los damnificados
los que gritan de noche
los que sueñan de dia
los que sufren el cuerpo
los que alojan fantasmas
los que pisan descalzos
los que blasfeman y arden
los pobres congelados
los que quieren a alguien
los que nunca se olvidan
vamos a festejarlo
vengan todos
el crápula se ha muerto
se acabó el alma negra
el ládron
el cochino
se acabó para siempre
hurra
que vengan todos
vamos a festejarlo
a no decir
la muerte
siempre lo borra todo
todo lo purifica
cualquier día
la muerte
no borra nada
quedan
siempre las cicatrices
hurra
murió el cretino
vamos a festejarlo
a no llorar de vicio
que lloren sus iguales
y se traguen sus lágrimas
se acabó el monstruo prócer
se acabó para siempre
vamos a festejarlo
a no ponermos tibios
a no creer que éste
es un muerto cualquiera
vamos a festerjarlo
a no volvermos flojos
a no olvidar que éste
es un muerto de mierda

11.12.06

Augusto Pinochet: epitafio para un tirano

Opiniones
El general asesino y traidor falleció en el Día Internacional de los Derechos Humanos Mario Amorós Rebelión
En enero de 1978 un tribunal italiano condenó a un policía llamado Eugenio D'Alberto por proferir una "ofensa imperdonable" a sus superiores: les había llamado "Pinochet". El juez dictaminó que este término era una "calificación injuriosa", ya que les acusaba de ejercer el mando con "métodos de naturaleza autoritaria y represiva" (Azócar, Pablo: Pinochet, epitafio para un tirano. Cuarto Propio, Santiago de Chile, 1998). A su muerte, 33 años después del golpe de estado que le instaló de manera ilegítima y brutal en el poder, Pinochet es repudiado como uno de los símbolos universales de la cobardía y la traición e incluso en Chile ha perdido numerosos apoyos desde que se descubrió que, además de ser el máximo responsable de crueles y masivas violaciones de los derechos humanos, saqueó los fondos públicos en proporciones multimillonarias.
Sin embargo, en su "legado" hallamos las claves que nos explican la situación actual de Chile. Al adelantarse en más de un lustro a Margaret Thatcher y Ronald Reagan en la aplicación del proyecto neoliberal, la dictadura de Pinochet condenó a la miseria a amplias capas de la población: en 1990, al ceder el poder al presidente Patricio Aylwin tras perder el plebiscito de 1988, el 45% de la población vivía en condiciones miserables. Aún hoy, a pesar de la reducción de la extrema pobreza, Chile es uno de los países donde la brecha social es más acentuada y donde la indefensión de los trabajadores frente al poder económico es mayor, puesto que está vigente el Código del Trabajo de 1980. Asimismo, las transnacionales del cobre, la pesca y la madera depredan los principales recursos naturales del país en virtud de su alabada "apertura" económica y la educación y la sanidad públicas han sufrido las consecuencias del "tsunami" neoliberal.
Por otra parte, y a pesar de los notables avances derivados de su histórica detención en Londres el 16 de octubre de 1998, la impunidad continúa vigente, gracias esencialmente al decreto-ley de amnistía de 1978, y la inmensa mayoría de los asesinos y torturadores goza de plena libertad. Durante los tres lustros de la interminable transición chilena sólo 46 personas han sido juzgadas y condenadas en firme por las violaciones de los derechos humanos y de ellas 24 ya han recobrado la libertad porque recibieron penas muy livianas. Los tres gobiernos anteriores al actual de Michelle Bachelet promovieron la elaboración de tres informes sobre los crímenes de la dictadura, pero no procuraron que sus responsables fueran juzgados, al contrario se empeñaron y se empeñan en garantizar su impunidad, desde las exitosas gestiones para lograr el retorno del tirano de Londres a, por ejemplo, el indulto en 2005 de Manuel Contreras Donaire, uno de los asesinos del sindicalista Tucapel Jiménez en 1981, por el presidente Ricardo Lagos.
Además del modelo neoliberal y de la ominosa herencia de la impunidad, Pinochet lega unas Fuerzas Armadas con privilegios inadmisibles en un régimen democrático y, aunque algunos de ellos han sido anulados por reformas constitucionales, todavía se apropian del 10% de los beneficios de la venta del cobre (la gran riqueza del país) y conservan una capacidad de intervención en la escena política considerable. Tampoco hasta el momento los militares han admitido su grave responsabilidad en la destrucción de la democracia el 11 de septiembre de 1973 y en la masacre del movimiento popular que sostuvo al Gobierno constitucional del Presidente Salvador Allende. Porque, como sostiene el sociólogo Tomás Moulian, "no tienen conciencia del daño que causaron, creen que esos asesinatos fueron necesarios, creen que formaron parte de la guerra por la civilización, contra el marxismo, que era el mal".
No obstante, Pinochet ha fallecido a los 91 años de manera muy diferente a la que soñó: salvado de sentarse en los tribunales por demente, abandonado por la mayor parte de sus fieles (desprovistos también del argumento de la supuesta "austeridad prusiana" del general), repudiado por la conciencia democrática de la humanidad y procesado en distintas causas judiciales por violaciones de los derechos humanos.
La dictadura que encabezó fue uno de los capítulos más oscuros y tenebrosos de la historia americana del siglo XX. Porque destruyó un esperanzador proceso de cambio social en democracia, porque refundó el país a partir de los dogmas neoliberales y porque de manera cruel masacró a miles de personas e institucionalizó la tortura, hasta el punto de que el 13 de noviembre de 1974 el tirano aseguró a los obispos Fernando Ariztía y Helmut Frenz en referencia al cura español Antonio Llidó, secuestrado por la Dirección de Inteligencia Nacional (DINA) el 1 de octubre y desaparecido tres semanas después: "Ése no es un sacerdote, es un marxista y a los marxistas hay que torturarles para que hablen. La tortura es necesaria para acabar con el comunismo".
La geografía de la memoria histórica en Chile tiene al menos dos visitas inexcusables. Por una parte, el impresionante Memorial levantado en el Cementerio General de Santiago en recuerdo de las 3.197 personas oficialmente asesinadas o hechas desaparecer por la dictadura, con el nombre de Salvador Allende en el centro. Y por otra, Villa Grimaldi, un nombre que por sí solo condensa todo el indescriptible horror de la dictadura de Pinochet, un lugar donde cinco mil "prisioneros de guerra", de la guerra que el tirano se inventó, fueron torturados de manera atroz y de donde al menos 226 personas fueron hechas desaparecer, probablemente al ser lanzados sus cuerpos al océano en helicópteros militares por agentes de la DINA.
Alejandra Holzapfel, una militante del Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) que fue torturada y violada en Villa Grimaldi cuando tenía 19 años, que incluso fue ultrajada después con perros en otro centro de detención de la DINA, asegura, en una metáfora de la suerte del pueblo chileno, que ha podido reconstruir su vida: "Ahora los que fuimos vejados y maltratados estamos sanos, tenemos vidas y familias normales, tenemos hijos y nietos, trabajamos. Yo todavía no pierdo las esperanzas, creo que va a llegar un momento en que vamos a construir una sociedad más justa, más solidaria, llena de amor".
Testimonios como éste y la lucha de la izquierda chilena por la construcción de una alternativa socialista al modelo neoliberal (impuesto por la dictadura y mantenido de manera acrítica por la Concertación) constituyen la auténtica derrota histórica de Pinochet y su legado.

Pinochet, mucho peor que un simple dictador: el primer gobernante que puso en práctica el neoliberalismo

http://www.telesurtv.net/
ConTexto
Juan Torres López
Rebelión

Se suele presentar a Pinochet como un dictador más de los tantos que han sembrado de muerte y desgracias la historia latinoamericana pero no conviene equivocarse.

El militar chileno, traidor a su gobierno legítimo, sanguinario desde joven y mentiroso siempre, fue, sobre todo, el instrumento necesario para poner en marcha y experimentar el proyecto neoliberal que los grandes centros del poder económico mundial diseñaban para recobrar las posiciones que les había hecho perder la gran crisis de los años sesenta y setenta.

El agotamiento del modelo económico y la fuerza que el pleno empleo había dado a las clases trabajadoras de los países occidentales minaba las tasas de beneficio, mientras que la presencia referencial de la antigua Unión Soviética mostraba al mundo entero que, por muy imperfecta que apareciese, había una alternativa efectiva al capitalismo.

A principios de los años setenta la situación se hizo especialmente problemática y desde Estados Unidos se comenzó a urdir una estrategia que se basaría en cuatro grandes procesos: una amplísima reconversión tecnológica (que lideraron las grandes empresas multinacionales), un sustancial cambio de coordenadas en la política económica (que planificó el equipo liberal del Presidente Nixon), una auténtica catarsis social mediante la generación planificada del desempleo (cuya otra cara sería la caída brutal de los salarios) y el endeudamiento generalizado (cuya contraparte sería una altísima retribución de los capitales gracias a los tipos de interés mucho más elevados) y una ofensiva ideológica y política (la ''revolución conservadora'') que abanderarían Ronald Reagan, Margaret Tatcher y el Papa Juan Pablo II.

Pero ese plan, cuyas estrategias y contenidos fueron solidificando a lo largo de la década de los setenta, era intrínsecamente conflictivo. Entre otras cosas, suponía desactivar la resistencia sindical, silenciar las reivindicaciones obreras, poner en marcha novedosas formas de regulación económica a través de las privatizaciones y de la liberalización de la industria y los servicios, obtener recursos para financiar y apoyar el gasto que iba a suponer a las empresas la reconversión tecnológica para lo que había que desmantelar el Estado y el gasto público y social, cambiar el discurso del bienestar por el del individualismo, desarticular las instituciones de diálogo y coordinación internacional...

Era, en consecuencia, un proyecto complejo y difícil, arriesgado y de casi imposible implantación simultánea en todo el planeta. Para ponerlo en marcha con éxito convenía actuar preventivamente en tres frentes fundamentales.

En primer lugar, bloqueando o incluso eliminando el papel referencial de la Unión Soviética, lo que llevó a diseñar planes de desestabilización en los países socialistas más sensibles a la atracción occidental, como Polonia y, al mismo tiempo, a dar un acelerón en la carrera armamentista que liquidara las posibilidades de desarrollo de la ya por sí enferma economía soviética.

En segundo lugar, abortando cualquier otro experimento de cambio social, por muy tímido o reformista que fuese, como el que se estaba llevando a cabo en Chile bajo el mandato del Presidente Salvador Allende.

Finalmente, se hacía necesario experimentar, en la medida de lo posible, las medidas más radicales de la estrategia liberalizadora. Unas medidas que en aquel tiempo sólo sostenía una minoría exigua de los economistas teóricos y prácticos más renombrados y sobre cuyos resultados sociales y económicos cabían todavía muchas dudas. Ese era el caso, por ejemplo, de la privatización de los sistemas de pensiones públicas o de la reducción radical del gasto público, pasos imprescindibles para que el capital privado pasara a disponer de fondos y rentabilidad suficientes en la coyuntura que se avecinaba.

A lo largo de la década de los setenta se fueron urdiendo todos esos procesos que culminarían con la llegada de Tatcher y Reagan al poder y con la elección del cardenal polaco Karol Woijtyla como máximo dirigente de la Iglesia católica.

La coordinación entre ellos, las reuniones mantenidas en instituciones y foros diversos, la similitud de los discursos que se fueron fraguando gracias a sus intervenciones públicas y la coincidencia de las orientaciones estratégicas que proyectaban esos tres dirigentes mundiales son bien conocidas y han sido amplísimamente documentadas.

Pero como acabo de señalar, el éxito final de ese proceso no hubiese sido posible sin las experiencias previas, sin los ensayos y sin el ejercicio de desmovilización que se llevó a cabo, principalmente, en el Chile fascista de Pinochet.

Es precisamente por eso que el auténtico papel histórico de Pinochet no puede ser entendido solo en su lectura nacional o como mera expresión del militarismo cesarista que inspiró tantas dictaduras latinoamericanas, e incluso ni siquiera sólo en términos de representar, como en tantas otras, a los sectores más privilegiados y reaccionarios de su país frente a la experiencia progresista de la Unidad Popular.

El dictador chileno mostró bien pronto que no actuaba solamente como el típico matón cuartelero sino que su régimen respondía, sobre todo, a una doctrina y a un proyecto económicos novedosos.

Así, Pinochet fue el primer gobernante en poner en marcha procesos de liberalización y privatización y no es casualidad que contara desde el principio con la simpatía y el apoyo de los liberales más preclaros de su tiempo, como Hayeck o el recientemente fallecido Milton Friedman.

Hayeck fue entrevistado en 1981 por el diario chileno El Mercurio y sus declaraciones dejaban ver claramente la naturaleza experimental de la dictadura chilena y el beneplácito que le daban los intelectuales que estaban dando apoyo ideológico al proyecto de implantación del neoliberalismo: ''Mi preferencia personal –dijo el Premio Nobel- se inclina a una dictadura liberal y no a un Gobierno democrático donde todo liberalismo esté ausente''.

Por su parte, Milton Friedman había visitado mucho antes Chile donde fue recibido con ''cálida hospitalidad'' según sus palabras. El propio Pinochet le pidió consejo y Friedman le envió una larga y cariñosa carta de apoyo en la que, además de darle recomendaciones, le reconocía su papel de adalid del neoliberalismo: ''Estoy conciente de que su gobierno ya ha dado pasos importantes y planea otros futuros en orden a reducir las barreras al comercio internacional y a liberalizarlo, y que, como resultado de ello, la ventaja competitiva real de Chile se refleja mejor en éste hoy que en las décadas pasadas (…)''. En otro momento, Friedman calificó el golpe de Estado como ''no más que un bache en la ruta'', ''un período de transición'' para lograr un crecimiento económico sostenido.

La pretensión neoliberal de la dictadura ha sido reconocida ampliamente. Así lo hace, por ejemplo, Jesús Piñera, que fue primero Ministro de Minería (devolviendo a la propiedad privada este sector estratégico) y luego ministro del Trabajo y Previsión Social y como tal artífice de la privatización del sistema chileno de pensiones, una privatización ejemplar para los liberales y desastrosa para los trabajadores, algo hasta tal punto sabido que el propio Pinochet no la aplicó a los militares y policías. En su artículo "Milton Friedman y sus recomendaciones a Chile" lo dice claramente: ''Las ideas de Milton Friedman fueron claves en la Refundación de Chile''.

Otro economista liberal de Chicago y una de las personalidades económicas más importantes de la administración norteamericana en los últimos decenios, George Shultz (al que significativamente se le ha llamado "el hombre del modelo chileno de fascismo"), también reconoció que detrás del golpe de Pinochet había todo una primicia del experimento neoliberal. En una entrevista con la televisión PBS el 2 de octubre del 2000, habló de la situación de Chile: ''Las Fuerzas Armadas tomaron el poder, y no cabe duda que hicieron cosas innecesariamente brutales en el proceso; pero, no obstante, lo tomaron. . . Hubo una gente en Chile que vino a conocerse como los 'Chicago Boys'; estudiaron economía en la Universidad de Chicago. . . Así, de forma gradual evolucionó en Chile una economía al estilo de la Escuela de Chicago. Y funcionó''.

El carácter precursor de lo que hizo Pinochet en Chile, no limitándose a establecer una dictadura al viejo uso en un país de la periferia sino experimentando el modo de civilización que se quería imponer más tarde a todo el mundo, fue lo que hizo que, a pesar de tener sus manos ensangrentadas y de ser un ladrón y un vil asesino, gozara del apoyo y la amistad de los principales gobernantes de su época, de Tatcher, de Reagan y, por supuesto, de la jerarquía católica que, con honrosas excepciones como las del cardenal Silva Henríquez, bendijo una y mil veces a la dictadura chilena.

El apoyo de Juan Pablo II y el Vaticano a Pinochet bien fue evidente. Durante la visita del Papa a Chile (y a diferencia de lo que el polaco solía hacer cuando se enfrentaba a teólogos de la liberación, dirigentes de la izquierda y políticos progresistas en general cuyas manos, sin embargo, nunca estuvieron llenas de la sangre que corría por las de Pinochet) no salió de su boca ni una sola palabra de condena de la dictadura ni de los continuos atentados contra los derechos humanos que de modo bien evidente se cometían en Chile. Siendo los crímenes de la dictadura harto evidentes, no cabe sino pensar que, con su silencio, Juan Pablo II los justificaba o legitimaba.

El teólogo católico Juan José Tamayo dice en su artículo "Los hombres de Pinochet en el Vaticano" que ''la estrategia seguida por el Vaticano en el caso de Pinochet me parece ética y evangélicamente injustificable'', y muy expresivamente expresa lo que entonces ocurría: ''una dictadura apoya y legitima otra dictadura''.

No se trata de hacer juicios de intenciones, ni tan siquiera es necesario interpretar la naturaleza del silencio papal ante los crímenes de la dictadura chilena pero sí hay que afirmar con toda rotundidad que Juan Pablo II fue cómplice de Pinochet en la misma medida en que ambos estaban comprometidos con un proyecto político evidente y en que ambos fueron operadores singulares de la puesta en marcha del neoliberalismo, uno como avanzadilla en Chile y otro en todo el mundo.

En definitiva, la historia política de Augusto Pinochet no es la de un dictador más de la periferia, sino la de un precursor del neoliberalismo. Y, por esa condición, legitimado, aplaudido y protegido por los mismos que más tarde lo pusieron en marcha en otros lugares.

Conviene saberlo y subrayarlo porque es imprescindible saber que el origen del neoliberalismo está lleno de sangre inocente, que es intrínsecamente contrario a la libertad y a la dignidad humanas, y que es desastroso en sus resultados económicos y sociales, como lo fue en Chile, en donde la economía y los beneficios crecieron pero con la mayor desigualdad de su historia, con la pobreza más elevada y con tremenda frustración social y personal.

No es casualidad, precisamente por eso, que la historia personal del propio dictador sea como la del neoliberalismo: mentirosa y corrupta. No es casualidad que el primer gobernante neoliberal fuese un dictador, un traidor a su patria y un ladrón de bienes públicos. Como no es casualidad que quienes tanto hablan de derechos humanos lo aplaudieran y protegieran, mostrando de esa forma la cínica forma de entender la justicia y el derecho del neoliberalismo.

Es una desgracia decirlo pero es algo que no podemos olvidar: desaparece Pinochet pero queda gran parte de su obra. Por eso lo respetan tanto y por eso lo protegieron en vida.

Pero sea como sea, al final de su vida quedó ya todo evidente. Supimos desde el principio que fue un traidor y un asesino; más tarde se descubrió que, además, fue un ladrón. Ahora van a saber quién fue hasta los mismísimos demonios. Nunca mejor dicho, porque será al infierno donde acuda si es que de verdad hay justicia eterna.

Juan Torres López es catedrático de Economía Aplicada en la Universidad de Málaga (España) y colaborador habitual de Rebelión. Su página web es www.juantorreslopez.com.

5.12.06

Chávez emprende gira latinoamericana tras su proclamación como presidente reelecto

Hugo Chávez, quien por tercera vez fue elegido presidente de Venezuela, visitará esta semana Brasilia, Buenos Aires y Cochabamba. También anunció que se reunirá con el presidente electo de Nicaragua, Daniel Ortega, quien llegó al país suramericano este martes.
El presidente venezolano, Hugo Chávez, emprenderá esta semana una gira por Latinoamérica, que incluye Brasil, Argentina y Bolivia, y, probablemente, Uruguay, para afianzar las relaciones bilaterales y consolidar la integración regional.
Esta será la primera gira internacional que realizará Chávez luego de haber sido reelegido presidente para el período 2007-2013.
El primer destino del periplo de Chávez será Brasilia, ciudad a la que prevé arribar el miércoles en la noche para establecer una serie de reuniones, la principal de éstas con el presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva.
En la jornada de trabajo del jueves, Chávez tiene pautado hacer una revisión de los ''convenios'' bilaterales, entre los que destacan el energético, y su ''grado de avance''.
''Revisiones rápidas y puntuales para fortalecer la integración latinoamericana'', precisó el gobernante en conferencia de prensa ofrecida en el Palacio de Miraflores luego de que fue proclamado como presidente reelecto.
Bueno Aires será el segundo destino de Chávez, quien se entrevistará con su par argentino, Néstor Kirchner.
''Luego seguiremos a Buenos Aires, pasado mañana (jueves), estaremos con (Néstor) Kirchner celebrando, seguramente una buena copa de vino de allá degustaremos, y a trabajar, a trabajar, a trabajar'', afirmó el gobernante, de acuerdo con las agencias internacionales de noticias.
La tercera estación de su gira podría ser Uruguay, para conversar con el presidente Tabaré Vásquez, aunque esta visita no está confirmada aún.
El presidente venezolano también confirmó que asistirá a la Cumbre de la Comunidad Sudamericana de Naciones, evento que se realizará entre el jueves y viernes en la ciudad boliviana de Cochabamba.
Reunión con Daniel Ortega
También anunció que este martes se reunirá con el presidente electo de Nicaragua, Daniel Ortega, quien llegó al final de la tarde al aeropuerto Internacional Simón Bolívar, a unos 25 kilómetros de Caracas.
''Hoy llega Daniel Ortega, por cierto, tenemos el tiempo limitado (para una rueda de prensa) para ir a recibir al camarada comandante presidente socialista Daniel Ortega, que nos honra con su visita a Venezuela'', dijo Chávez.
Fidel Castro se recupera favorablemente
El gobernante venezolano, además, leyó un mensaje de felicitación que le fue enviado por el presidente cubano, Fidel Castro, y aseguró que los trazos de la firma del líder antillano le permiten decir que éste se está recuperando.
''No tengo duda de la recuperación de Fidel'', destacó, y se mostró complacido por la mejoría que experimentaría la salud del líder cubano, quien se encuentra recuperándose de una intervención quirúrgica que le fue practicada a finales de julio pasado por problemas intestinales.
Reforma constitucional en 2007
En la rueda de prensa de este martes, el gobernante también anunció que al regresar de su periplo nombrará la comisión que se encargará de hacer una revisión a la Carta Magna desde ''la primera y hasta la última'' letra, para luego proponer una reforma constitucional.
Recordó que esa propuesta de reforma deberá ser aprobada por el pueblo en un referendo, por lo que ''el año que viene pudiéramos estar yendo a referendo para estar haciéndoles algunos cambios''.
También designará otras comisiones para revisar las diversas estrategias y políticas en distintas áreas, pero especialmente las referidas a la pobreza y la corrupción.
''Estas comisiones se dedicarán a evaluar las actividades en los sectores, tanto político como social y económico, y el resultado de esas evaluaciones se reportará en mejoras a nuestro proceso de inclusión de carácter socialista'', de acuerdo con la prensa local.
No obstante, sostuvo que mantendrá las políticas económicas y sociales, que después de varios años ahora es cuando están generando éxitos y avances.
Chávez precisó que se mantendrá el control de cambio de divisas extranjeras.
05/12/06 - 16:10 CCS http://www.telesurtv.net/

TURBULÊNCIAS MEXICANAS

O México já não está tão longe de Deus, desde que as relações do governo com a Igreja Católica – que havia encabeçado as principais mobilizações contra a Revolução Mexicana, no começo do século passado – se normalizaram. Embora agora o México esteja mais longe dos EUA, com a construção do muro na fronteira entre os dois países – em que há mais mortes anualmente do que em toda a existência do Muro de Berlim.
Em condições dramáticas, assumiu o novo presidente mexicano, com uma vitória muito questionada pelas acusações de fraude, tendo recebido pouco mais de 30% dos votos, em um país que enfrenta grandes mobilizações populares contra sua posse, ao mesmo tempo que o estado sulista de Oaxaca continua imerso em um processo de rebeldia e de ingovernabilidade. É difícil imaginar como será o desempenho de Felipe Calderón nos 6 anos de mandato que tem pela frente, com pouca legitimidade e um país convulsionado.
Vicente Fox, eleito em 2000, assumiu a presidência com um apoio eleitoral inquestionável e uma expectativa favorável de que se dariam transformações democráticas, com o fim do Estado construído em mais de 8 décadas pelo PRI. Fox manteve o mesmo aparato estatal, se aliou ao PRI e fracassou. Conseguiu eleger seu sucessor, mas nas condições mencionadas – uma vantagem de pouco mais de 200 mil votos, sem que se tenha feito a recontagem eleitoral, que poderia desfazer as dúvidas sobre as acusações de fraude, em um país conhecido por elas.
Quando fez a opção de assinar um Tratado de Livre Comércio com os EUA, em 1994, o México esperava receber os fluxos positivos do desenvolvimento econômico de duas potências globalizadoras – EUA e México. Porém, nesse mesmo ano, o México inaugurou a modalidade de crises financeiras trazidas pelo neoliberalismo, o que levou Washington a mobilizar imediatamente um empréstimo gigante, para acudir ao governo mexicano. Nesse mesmo momento se dava a sublevação dos zapatistas em Chiapas.
As promessas dessa forma de integração subordinada à globalização se resumiram a que o México passasse a ter mais de 85% do seu comércio exterior com os EUA e que se instalassem muitas fábricas na fronteira com esse país, para explorar a mão de obra barata. Mesmo enquanto funcionou, estes investimentos não se estenderam ao conjunto do país e, mesmo explorando força de trabalho de mulheres e de crianças, esses capitais encontraram melhores condições na China e abandonaram o México.
Calderón aliou-se ao PRI e tenta obter um apoio parlamentar que lhe blinde contra as mobilizações populares e as instabilidades econômicas. Seu discurso mais à direita do de Fox se traduziu em um ministério ainda mais conservador, em um continente em que as conseqüências negativas dos modelos econômicos vigentes tem levado à formação de uma opinião pública mais à esquerda – de que as recentes eleições de Daniel Ortega na Nicarágua e de Rafael Correa são as expressões mais recentes. Pode-se esperar que o México seja um dos cenários de maiores turbulências nos próximos anos.
Postado por Emir Sader às 09:11

30.11.06

O LONGO CICLO ELEITORAL LATINO-AMERICANO

Com o triunfo de Rafael Correa no Equador e as reeleições praticamente asseguradas de Hugo Chávez e de Nestor Kirchner, se conclui o longo ciclo eleitoral latino-americano, iniciado com o triunfo de Evo Morales na Bolívia, em dezembro de 2005. Seguiu-se com as eleições de Michele Bachelet no Chile, de Oscar Arias na Costa Rica, de Alan Garcia no Peru, de Lula no Brasil, de Álvaro Uribe na Colômbia, de Daniel Ortega na Nicarágua, e de Felipe Calderón no México.

São 11 eleições, incluindo os países de maior peso no continente – Brasil, México, Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru –, das quais quatro foram reeleições – Lula, Uribe, Hugo Chávez, Kirchner –, duas mais continuações dos governos anteriores – Calderón e Bachelet, com três mudanças significativas de políticas – Bolívia, Equador, Nicarágua.

O pólo que prioriza os processos de integração regional viu a incorporação da Bolívia e do Equador – talvez até mesmo da Nicarágua, mantendo o Brasil, a Argentina e a Venezuela, enquanto o pólo favorável aos tratados bilaterais manteve a Colômbia, o México e o Chile, ganhando o Peru e a Costa Rica. (Ainda que a nova maioria democrata no Congresso dos EUA questione os tratados que estão por ratificar com a Colômbia e o Peru, deixando aberta esta possibilidade.)

Poderia parecer, aritmeticamente, um resultado empatado. No entanto, se fortaleceu o bloco favorável aos processos de integração regional. As vitórias de Lula, de Kirchner, de Hugo Chávez consolidam o eixo fundamental nesses processos, que ganham alguns anos para avançar na consolidação, extensão e aprofundamento no Mercosul, na Comunidade Sul-Americana de Nações, na Alba. O ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul e a reunião de Córdoba expressam novo dinamismo do acordo, com a integração da Bolívia e a aproximação de Cuba. A participação do Equador bloqueará a formação de um bloco andino favorável ao livre comércio, além das mencionadas dificuldades trazidas pela maioria protecionista democrata no Congresso dos EUA.

Além disso, a vitória de Calderón foi muito questionada no México e tanto nesse país quanto na Colômbia – com Lopez Obrador e com Carlos Gaviria – a esquerda teve um desempenho muito bom, situando-se como a segunda força política nesses países. Da mesma forma a disputa no Peru foi acirrada, com a candidata abertamente neoliberal – Lourdes Flores – ficando fora do segundo turno.

Estas observações configuram um desgaste significativo da votação dos partidos que defendem programas neoliberais, com expansão do voto à esquerda – mais radical nos casos da Bolívia, do Equador e da Venezeula -, mais moderada nos casos do Brasil, da Argentina e da Nicarágua.

O triunfo de Rafael Correa no Equador é a culminação das mobilizações populares que, em abril deste ano, impediram que o país assinasse um tratado de livre comércio com os EUA. Ainda assim, Álvaro Novoa pretendia retomar essa via, fazendo com que, em parte, o segundo turno tivesse sido um plebiscito sobre o futuro do Equador. A vitória de Correa consolida a opinião majoritária dos equatorianos de crítica às vias adotadas pelos três últimos presidentes eleitos, todos derrubados por mobilizações populares, por tentar manter o modelo neoliberal.

O cenário político continua favorável à esquerda no continente – que, agora, ainda pode contar com eventuais defecções no outro campo, especialmente do governo de Alan Garcia, pela resistência democrata no Congresso dos EUA -, que pode aproveitar para consolidar e principalmente avançar decididamente no caminho da integração latino-americana.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/ Postado por Emir Sader às 08:22

22.11.06

LULA E A ESQUERDA

22 de novembro de 2006
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
58 milhões de brasileiros preferiram correr o risco de votar num governo que os pode desiludir a votar num que, de saída, já não os ilude
DEPOIS DA inesperada fragilidade revelada no primeiro turno, a vitória retumbante de Lula no segundo deixou o mundo estupefacto. É um acontecimento político notável, e o mérito cabe por inteiro a Lula. Só ele poderia reacender o entusiasmo da mobilização em milhares de militantes magoados e desiludidos pelos desacertos da sua política durante o primeiro mandato. Mas as razões do seu êxito são bem mais profundas e merecem reflexão.
A vitória de Lula representa um "choque de realidade" para as elites políticas que governaram o Brasil até 2002. A distância e a arrogância que as separam do país real e a acumulação histórica de ressentimento que isso criou entre as classes populares não lhes permitiram aproveitar as fragilidades do candidato Lula. 58 milhões de brasileiros, na sua maioria pobres, preferiram correr o risco de votar num governo que os pode desiludir a votar num governo que, à partida, já não os consegue iludir.
É inescapável a perplexidade causada por duas enormes dissonâncias cognitivas reveladas nessas eleições. A primeira consiste na discrepância entre a dramática polarização política, sobretudo no segundo turno, e as diferenças moderadas entre as duas propostas políticas, sobretudo se tivermos em conta as políticas do primeiro mandato de Lula e se descontarmos o tema privatizações.
A segunda reside em que o candidato que conquistou o voto e o coração de milhões de pobres é o mesmo que recebeu efusivas e cúmplices felicitações de Bush, a quem só interessa o bem-estar dos ricos e dos muito ricos.
Essa foi a única eleição recente na América Latina em que o candidato de esquerda não sofreu a interferência da embaixada norte-americana. Significam essas dissonâncias que alguém está a enganar alguém? Não necessariamente. A razão para elas está no fato de a distância que separa as elites oligárquicas das classes populares não ser apenas econômica, apesar de esta ser enorme num dos países mais injustos do mundo. É também cultural e racial.
Isso explica o êxito da política simbólica de Lula, a sua capacidade para ampliar o impacto político de medidas relativamente tímidas, devolvendo a auto-estima a milhões de brasileiros humilhados não apenas pela fome mas também pelas barreiras no acesso à educação e pelo racismo insidioso da suposta democracia racial.
Graças a tal capacidade, medidas não originariamente de esquerda, como o Bolsa Família, puderam ser constitutivas de cidadania social, e pequenas transferências de renda puderam ser transformadas em mudanças qualitativas. Tudo isso foi possível devido a uma sutil inversão do sinal político: atribuído por Lula, o Bolsa Família foi entendido pelos brasileiros como "isso é o mínimo que vos devo"; fosse atribuído por um presidente de direita, dissesse o que dissesse, seria sempre entendido como "isso é o máximo que vos devo". Essa inversão escapou aos analistas políticos. O segundo mandato de Lula terá de ser diferente do primeiro. Com a lucidez habitual, Tarso Genro formulou o óbvio, que, em política, é quase sempre tabu: a era Palocci acabou. Só que acabou já há tempo, pelo menos desde que, no final de agosto, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social aprovou por unanimidade os "Enunciados da Concertação". Entre eles, a baixa da taxa de juros para níveis médios internacionais nos próximos cinco anos e a duplicação da parcela da renda nacional apropriada pelos 20% mais pobres nos próximos 15.
A partir de 1º de janeiro, Lula terá de começar a preparar o pós-lulismo: uma forma de governação de esquerda que não dependa da capacidade de um líder carismático para disfarçar com o discurso da antipolítica a incapacidade para substituir a velha política por uma nova. Essa nova política tem de ser preparada de modo consistente, e o primeiro passo é certamente a reforma do sistema político e a reforma do Estado. Só elas permitirão concretizar as políticas de justiça social, cultural e racial em que os brasileiros depositaram a sua esperança.
Mas tudo isso só acontecerá se os brasileiros não se limitarem a esperar. E tudo leva a crer que assim sucederá. A plataforma política dos movimentos sociais -"Treze Pontos para um Projeto Popular para o Brasil"- apresentada a Lula em 19/10 é um sinal de que o tempo dos cheques em branco acabou e de que a luta contra a cultura política autoritária terá de ser travada com decisão para impedir que o golpismo ocorra, mesmo que a coberto da lei (exemplo grotesco dessa possibilidade é a vergonhosa sentença judicial contra o grande intelectual e democrata Emir Sader). Algures, entre os enunciados de concertação e os 13 pontos, a governação do segundo mandato será uma nova era.
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, 65, sociólogo português, é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Escreveu, entre outros livros, "A Gramática do Tempo: para uma Nova Cultura Política" (Cortez, 2006).

20.11.06

MAIS ALÉM DO POPULISMO

19 / 11 / 2006
TARSO GENRO
Ao contrário do que recomenda
o populismo, Lula e o PT
promoveram a incorporação dos
"de baixo" na democracia
O RESULTADO do processo eleitoral no segundo turno das eleições, no qual o presidente Lula obteve 61% dos votos, e o seu adversário, menos votos do que no primeiro turno, enseja uma reflexão mais além dos efeitos que advirão dos próximos quatro anos. Trata-se do tema da integração socioeconômica e política do país como provável "comunidade de destino" (nação), já referida por Caio Prado Junior e por Florestan Fernandes.
Longe de uma "conspiração", o apoio que a maior parte da imprensa deu ao candidato da assim chamada "elite paulista", na verdade, revelou o débil estágio de integração sociopolítica do país. E ainda um descolamento da parte mais avançada do capitalismo brasileiro do resto do Brasil.
Descolamento político, de uma parte, porque o seu candidato não conseguiu, a partir de São Paulo, falar para o país. Descolamento econômico, de outra parte, porque a sua visão de mercado está mais balizada pelos consultores de risco das agências privadas do que orientada pela necessidade de expansão do mercado capitalista "clássico", produtor de bens de consumo de massas, no caso do Brasil, de educação, de comida e de roupa decente para todos.
Ao longo deste ano, sustentei que não mais seriam aplicáveis, no Brasil, os critérios de análise do mercado financeiro para orientar o eleitorado por dois motivos fundamentais.
Primeiro: embora os "analistas de risco", como é seu dever profissional, queiram sempre transitar os interesses de seus clientes, o mercado financeiro concreto se move balizado pela "segurança". Comparativamente aos países emergentes, o Brasil conquistou a condição de país "seguro".
Segundo: a política externa brasileira soube nos colocar numa relação privilegiada, inclusive com capacidade de dialogar lealmente com os EUA de Bush, sem provocações e sem humilhações, o que tornou desinteressante, para o império, qualquer tentativa de desestabilização do Brasil.
Onde está, então, o descolamento? A tese do "choque de gestão" não tem significado em dois terços do país, onde a máquina pública ainda não exerceu, para as grandes massas, as funções públicas mais elementares. A tese de que o governo Lula era "corrupto" se chocou com a realidade do combate frontal à corrupção pelo próprio governo. A tese da "incompetência" do presidente se esfarelou no cotidiano dos "de baixo", que melhoraram um pouco a sua vida, mas cuja melhora foi sentida numa escala sem precedentes, dentro da democracia.
É também um equívoco político e conceitual classificar a vitória de Lula como uma vitória do populismo. Não só porque os movimentos sociais não estão "enquadrados" pelo Estado ou pela figura pessoal do presidente mas também porque, em nenhum momento, a sua campanha mobilizou massas organizadas ou informes contra "os ricos".
Ao contrário, quem tentou formar um espírito de corpo irracional e odioso contra Lula e o PT a partir das inseguranças e do moralismo das classes médias, altas e remediadas foram os setores mais direitistas do campo adversário.
O populismo não incorpora as massas populares no jogo democrático, volta-as contra as instituições formais do Estado. E, ao contrário do que recomenda o populismo, Lula e o PT promoveram a incorporação dos "de baixo" na democracia para promover a integração social do país por meio de um grande mercado de massas. Um mercado no qual o consumo popular ascendente ajude a eliminar a exclusão e a miséria e permita que todos se sintam pertencentes a um projeto democrático de nação.
Mais além do populismo, mas também mais além da "utopia" de direita do já velho neoliberalismo.
Agora, trata-se de criar condições para responder ao "déficit" de integração nacional que foi flagrado na maciça preferência que as regiões mais pobres do Brasil tiveram em relação à candidatura Lula, apesar da boa votação de Lula obtida no segundo turno nos Estados do Sul.
As políticas de inclusão no consumo básico e na educação devem ser somadas a grandes políticas de desenvolvimento regional, promovidas pelo Estado como indutor e organizador do crescimento sustentável.
TARSO FERNANDO HERZ GENRO , 59, advogado, é ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Foi ministro da Educação (2004-2005), ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (2003-2004) e prefeito de Porto Alegre pelo PT (1993-96 e 2001-02). É autor de "Utopia Possível" (Artes e Ofícios), entre outros livros.

18.11.06

UM SAMBA POPULAR

17/11/2006 Vozes da imprensa aparecem para atacar-me tentando manchar minha trajetória e minha atuação política e intelectual. Indago: por que eu, de repente, sou projetado à pauta da imprensa? Sempre tratei de pautar minha atividade de forma discreta, pois acredito que o mais importante são as idéias e as possibilidades de diálogo com as forças sociais, políticas e culturais, em defesa de um outro mundo possível.
Indago também: por que o editor de Política da Folha de S. Paulo utiliza dois artigos seguidos sem sequer escutar as pessoas que ataca? Ele, que escreve uma vez por semana, se deu ao trabalho de utilizar a metade dos artigos que publica no mês para tentar me desqualificar, levantando ataques infundados e com linguagem grosseira – no que foi acompanhado por uma colunista do caderno de cidades.Nenhuma solidariedade diante do processo do presidente do PFL, apenas ataques. Que se voltaram também contra a Boitempo e sua editora, Ivana Jinkings, cujo trabalho editorial é reconhecidamente de alta qualidade, com a publicação de alguns dos melhores autores nacionais e estrangeiros, em meio a um universo completamente comercializado e mercantilizado.
Por que a imprensa opta por essa pauta, quando deveria estar preocupada em fazer um balanço autocrítico da pior cobertura – e a mais violenta – de uma campanha eleitoral? Vendo que as suas “verdades” não foram aceitas pela maioria, por que não abre um período de reflexão e de debate para compreender os motivos que levaram os leitores a se apoiarem na mídia alternativa? Uma parte importante da resposta a essas interrogações certamente pode ser encontrada na constatação evidente de que ela perdeu a capacidade que julgava ter de “fabricar consensos” – na expressão de Chomski –, definindo a pauta sobre o que o país deve discutir, decidindo a versão e elegendo os bons e os maus em cada tema.
No lugar de uma justa cobertura, optou por reviver um anacrônico lacerdismo, com insinuações golpistas, ecoando a exortação de que estava na hora de o poder voltar às mãos tucano-pefelistas antes mesmo do sufrágio popular, no pior estilo da imprensa que preparou a opinião pública para o golpe militar.
E incomodam, sobretudo, as manifestações de apoio que recebemos – não pessoalmente, mas como vítima daquele processo –, a ponto de que os artigos mencionam o manifesto, mas o jornal, reiterando a linha de editorializar todo o noticiário, nunca o publicou ou se referiu à extensão desse apoio – chega a 15 mil assinaturas – ou ao peso dos que o assinam.
Fosse pela Folha, os seus leitores não saberiam que manifestaram sua solidariedade pessoas como Antonio Candido, Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo, Francisco de Oliveira, Eduardo Galeano, Perry Anderson, István Mészáros, Leonardo Boff, entre tantos outros. Ao que tudo indica, incomoda que um personagem a quem querem desqualificar com linguagem indigna de qualquer debate de idéias receba solidariedade tão ampla e qualificada, enquanto os articulistas têm de se limitar a extremismos verbais e a carreiras sem nenhuma presença intelectual, com artigos descartáveis.
O mais importante é que algo novo acontece no Brasil, e os setores conservadores resistem a aceitar. Não possuem mais o monopólio do discurso e agora tem de dividir o espaço com a imprensa crítica, como Carta Capital, Carta Maior, Brasil de Fato, Caros Amigos e tantas outras publicações que formam o público-leitor, assim como vários blogs que trabalham nessa mesma direção.
Ataques pessoais fazem parte dessas tentativas de desqualificação, para tentar mostrar que não haveria nenhum comportamento possível que não o da submissão aos interesses criados, que fizeram do Brasil o campeão mundial da desigualdade. A existência de um pensamento que sustenta esse quadro social somente será abalada com transformações que atinjam os privilégios seculares dos setores protegidos pela mídia oligopolista.
O processo e o ataque desses setores embutem um recado: todos os que mantiverem o pensamento crítico e autônomo podem sofrer pesadas conseqüências, da desqualificação à perda do cargo obtido por concurso e mesmo à prisão. É um recado também para a universidade pública: silenciem!
Os esclarecimentos das acusações feitas por essa nova direita – com cheiro claramente bushista, de pensamento único – podem ser encontrados na página do projeto Outro Brasil.
Os chacais – como os chamava Julio Cortázar – seguirão atacando, mas a caravana passa, com a força do povo, e seguirá adiante, construindo um novo país e um outro mundo possível, com a força do pensamento crítico, das forças sociais, políticas e culturais comprometidas com um Brasil e um mundo livres das oligarquias e do monopólio do dinheiro, das armas e da palavra.
A caravana passa, com a força do povo, e segue adiante, fortalecida com as belíssimas vitórias conseguidas, apoiada na massa pobre da população que nunca acreditou nessa mídia, que nunca vacilou na sua decisão de apoiar a construção de um Brasil melhor, mais humano, solidário e democrático. Apoiada na altivez e na dignidade da intelectualidade crítica e independente, que acredita na força das idéias e na força do povo.
Já está passando, “nesta avenida, um samba popular”.
Postado por Emir Sader às 18:56 http://agenciacartamaior.uol.com.br/

17.11.06

INTELECTUAIS E VIDA PÚBLICA

17/11/2006 O sociólogo francês Pierre Bourdieu considerava que não se deveria aceitar falar na televisão ou no rádio, se não fosse por um tempo longo, sem interrupções. Alegava que a pressa e a velocidade são inimigas da verdade. Qualquer forma de síntese adaptada aos tempos midiáticos teria todas as possibilidades de falsificar a verdade, de tanto vulgarizá-la, para que coubesse no formato proposto pelas televisões e rádios comerciais.Ao se expor um pensamento que se contraponha à corrente dominante de idéias - papel essencial de um intelectual - exige-se pelo menos o tempo necessário para desarticular o pensamento dominante para, em seguida, expor uma interpretação alternativa. No entanto, se começamos a responder a algum repórter sobre um tema qualquer, dizendo: "Há três aspectos que devem ser ressaltados sobre esse problema..." - o repórter já morre de medo, imaginando que a resposta levará 15 ou 20 minutos, totalmente inviáveis para o ritmo das emissoras comerciais.
A palavra intelligentsia, de origem russa, designava, no final do século XIX, o intelectual crítico, independente, que defende os interesses públicos, com linguagem acessível. Correspondia a toda uma geração de escritores, pensadores, artistas, que defendiam o povo russo, lutavam contra o czarismo, a repressão, a censura.Essa combinação havia tido em Emile Zola uma expressão significativa na França, na defesa do caso Dreyfuss - o primeiro grande movimento de mobilização da opinião pública que reverteu uma aparente unanimidade originalmente construída. O "Eu acuso" foi uma diatribe expressa em um pequeno órgão alternativo, que se tornou modelar em termos de luta da minoria contra uma falsidade transformada em consenso, imposta e assumida pela grande maioria dos franceses da época.
A passagem do reino da palavra escrita para o reino da imagem, do livro para o filme, do jornal para a TV, mudou os termos do problema, sem afetar seu conteúdo. Surgiu o "intelectual midiático", conectado com novas modalidades editoriais - como a auto-ajuda, o esoterismo e outras formas vulgarizadas de enfoque -, que ocupam um lugar importante em um país em que três quartos das pessoas são analfabetas funcionais. Isto é, em que têm dificuldades ou impossibilidade de ler um texto, compreendê-lo e responder, necessitando de personagens como a de Fernanda Montenegro no filme "Central do Brasil" para entender e responder uma carta.
Um intelectual tem que se adaptar à difícil arte de dizer coisas com um mínimo de consistência e coerência em um tempo curto e cercado de comerciais, de noticiários compostos freqüentemente por uma enxurrada de notícias fragmentadas e sem explicações - se quiser aceitar esse desafio. Impossível não é, embora seja certo que a pressa e a velocidade são inimigas da verdade. O problema é a proliferação de personagens que protagonizam o que tão bem Jaguar chamou de "rebeldes a favor", com uma linguagem contundente, que dá a impressão de que serão críticos, independentes, mas se revelam altamente conservadores, retrógrados e no mais das vezes ignorantes, manipulando algum verniz de saber.
O compromisso do intelectual da esfera pública é com a verdade, com a independência do seu pensamento e a autonomia em relação às estruturas de poder vigente. Além de abordar temas transcendentais e buscar fazer chegar a verdade aos que mais necessitam da verdade -nas palavras de Brecht - aos marginalizados, aos discriminados, aos humilhados, aos explorados, aos ofendidos, aos dominados.
Postado por Emir Sader às 08:22 http://agenciacartamaior.uol.com.br/

FRASES....

"Não existe nenhum grupo que não seja político.
Ou se está a favor da sociedade desigual ou se está contra.
Não tem como ficar isento."
(Frei Betto)
"Nada mais político do que dizer que a religião não tem a ver com política."
(Ghandi)
"O respeito pela pessoa humana deve estar presente em todos os lugares."
(Frei Oswaldo Rezende)
"A vida vale a pena pela luta que fazemos."
(Frei Betto)

15.11.06

FREI TITO

Nascido em Fortaleza, Frei Tito foi dirigente regional e nacional da JEC (Juventude Estudantil Católica). Em 1965, ingressou na Ordem dos Dominicanos, sendo ordenado sacerdote em 1967, e também foi aluno de Filosofia da USP.
Foi preso pela segunda vez no dia 4 de novembro de 1969, em companhia de outros padres dominicanos acusados de terem ligações com a ALN e Carlos Marighela.
Frei Tito foi torturado durante 40 dias pela equipe do delegado Sérgio Fleury. Foi transferido depois para o Presídio Tiradentes, onde permaneceu até dia 17 de dezembro. Nesse dia, foi levado para a sede da Operação Bandeirantes (DOI-CODI/SP), quando o Capitão Maurício Lopes Lima, disse-lhe: ''Agora você vai conhecer a sucursal do inferno''. E foi o que ocorreu. Torturado durante dois dias, pendurado no pau-de-arara, recebendo choques elétricos na cabeça, órgãos genitais, nos pés, mãos, ouvidos, com socos, pauladas, ''telefones'', palmatórias, ''corredor polonês'', ''cadeira do dragão'', queimaduras com cigarros, tudo acompanhado de ameaças e insultos. A certa altura, o Capitão Albernaz ordenou-lhe que abrisse a boca para receber a hóstia sagrada, introduzindo-lhe um fio elétrico que queimou-lhe boca a ponto de impedi-lo de falar.
Banido do país, deixou uma carta ao companheiro Vanderley Caixe, também na prisão: "companheiro, aqui ou no exterior estaremos sempre lutando pela liberdade e o socialismo." / Em 13 de janeiro de 1971, quando do seqüestro do embaixador da Alemanha no Brasil, viajou para o Chile e depois para a Itália e a França. Após algum tempo, instalou-se na comunidade dominicana de Arbresle, tentando desesperadamente lutar contra os crescentes tormentos de sua mente, abalada profundamente pela tortura. Já no exílio, foi condenado pela 2ª Auditoria a pena de 1 ano e meio de reclusão, em 23 de fevereiro de 1973.
No dia 7 de agosto de 1974, com 31 anos de idade, Frei Tito enforcou-se, pendurando-se em uma árvore.

12.11.06

A mídia perdeu as eleições

MARCOS ROLIM / Jornalista
Há um interessante debate no país sobre a conduta da mídia nas últimas eleições que, infelizmente, ainda não mereceu a atenção de muitos veículos de comunicação. Compreende-se. Certos grupos podem oferecer destaque a qualquer assunto, por mais irrelevante que seja, mas não julgam pertinente debater seus próprios compromissos ou condutas. O Observatório Brasileiro de Mídia realizou estudo sobre a posição de 14 colunistas, de cinco entre os mais importantes jornais brasileiros: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense, quanto aos quatro principais candidatos à Presidência, apontando que o número de menções negativas a Lula foi quase quatro vezes superior às menções críticas para Geraldo Alckmin. Merval Pereira e Miriam Leitão, ambos da Globo, foram os recordistas nas críticas a Lula e, ao mesmo tempo, os que mais isentaram Alckmin. A Globo, aliás, arquivou reportagens sobre o envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas e só foi superada no quesito parcialidade pela fábrica de maldades em que se transformou a (ex) revista Veja. Alguns dos melhores jornalistas brasileiros, como Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim, têm insistido nesta crítica. Nassif publicou em seu blog um texto cujo título é "Réquiem do jornalismo"; enquanto Amorim escreveu em seu site "Conversa afiada" artigo em que condena o que chamou de "golpe de Estado que levou a eleição para o segundo turno". A conduta da imprensa brasileira ao longo de toda a campanha não considerou importante avaliar até que ponto o candidato Alckmin, por exemplo, poderia sustentar a idéia de um "Brasil decente". Se a ética política foi um tema central no debate eleitoral e se Lula tinha muitas explicações a oferecer neste ponto, tudo se passou como se Alckmin estivesse imune às demandas por moralidade e fosse, implicitamente, uma resposta a elas. O resultado foi que a classe média ouviu uma história pela metade. Por isso, a interpretação dos resultados eleitorais que deram a Lula uma votação consagradora foram, quase que naturalmente, associados à ignorância e ao clientelismo. O fenômeno, entretanto, é bem mais complexo. Cito, neste particular, a opinião do diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, que disse: "(...) Ganhou o voto de quem se sentiu satisfeito com o que está vivendo e convencido de que os pecados de Lula e do PT só serão resolvidos quando todo o sistema político mudar. Ganhou, portanto, um voto concreto e informado, o inverso do que imaginam alguns analistas, que mais tendem a repetir estereótipos que a criticá-los" (...). "Tenho acompanhado a eleição desde muito cedo e com diversos instrumentos de pesquisa. É, para mim, muito claro que foram os eleitores de "classe média", de maior escolaridade e renda, muitos vivendo em cidades grandes e modernas, os que mais tenderam a ser 'manipulados'. Foram eles os que mais se revelaram propensos a votar segundo a informação recebida, de maneira acrítica e, muitas vezes, superficial. Ou seja, cada vez que alguém se inflamava contra a ignorância dos pobres, dirigia mal suas baterias". Nesta discussão, não seria demais lembrar Paulo Virilio, para quem a mídia contemporânea é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra. Tudo se passa, então, como se a crítica à imprensa fosse, em si mesma, um "atentado à liberdade de expressão". Algo que o filósofo resume com uma única palavra: cinismo. A mesma conduta, aliás, dos que hoje silenciam sobre a absurda condenação de Emir Sader. (A propósito, os que não sabem sobre o que ocorreu com Sader, podem encontrar informações em http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirSecao&id_secao=13). Enfim, para futuras eleições, será que a mídia (impressa e eletrônica) adotará comportamento verdadeiramente jornalístico, de modo a extrair dos candidatos o sumo do que efetivamente tenham para apresentar como programa de governo? Ou ainda estaremos, para sempre, condenados a votos oriundos de "crenças", "simpatias", "rancores", "assistencialismos", "promessas vãs", "elite vs. povo", "direita vs. esquerda" e outros clichês que mobilizam "torcedores" e potencializam a "cegueira" de parte a parte, fazendo da escolha verdadeiro "arrastão"? Em nome de uma suposta (e sagrada) liberdade de expressão, a mídia tudo podia. Por que esse princípio sacramentado [o da liberdade de expressão] não serve também para proteger Emir Sader do mandonismo dos "donos do poder" (como dizia Faoro)? Eles tudo podiam em nome da tal liberdade de expressão, ou de imprensa - como, às vezes, preferem. A seu bel-prazer, a mídia caluniava, mentia, distorcia, manipulava - note que me utilizo aqui do tempo pretérito, como que a marcar o passado e sinalizar o porvir, o daqui para frente. Também a seu bel-prazer, elegia governadores, prefeitos, deputados, presidentes (quem não se lembra do "fenômeno" Collor?) etc - elegia até um poste, dizia-se. Também a seu bel-prazer cassava os mandatos de governadores, prefeitos, deputados, presidentes (Collor, também nesse caso, nos serve como exemplo) etc. Construía e destruía famas, reputações. A mídia tocava a sua flauta, e nós, os ratinhos enfeitiçados, a seguíamos diligentes, comportados - muitas vezes, rumo a nossa própria desgraça. Impunha-nos suas verdades. Não mais. A grande mídia, e é essa a grande novidade, já não mais detém o monopólio da opinião pública. Já não nos guia em direção ao precipício, como se cegos fôssemos.

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz