O México já não está tão longe de Deus, desde que as relações do governo com a Igreja Católica – que havia encabeçado as principais mobilizações contra a Revolução Mexicana, no começo do século passado – se normalizaram. Embora agora o México esteja mais longe dos EUA, com a construção do muro na fronteira entre os dois países – em que há mais mortes anualmente do que em toda a existência do Muro de Berlim.
Em condições dramáticas, assumiu o novo presidente mexicano, com uma vitória muito questionada pelas acusações de fraude, tendo recebido pouco mais de 30% dos votos, em um país que enfrenta grandes mobilizações populares contra sua posse, ao mesmo tempo que o estado sulista de Oaxaca continua imerso em um processo de rebeldia e de ingovernabilidade. É difícil imaginar como será o desempenho de Felipe Calderón nos 6 anos de mandato que tem pela frente, com pouca legitimidade e um país convulsionado.
Vicente Fox, eleito em 2000, assumiu a presidência com um apoio eleitoral inquestionável e uma expectativa favorável de que se dariam transformações democráticas, com o fim do Estado construído em mais de 8 décadas pelo PRI. Fox manteve o mesmo aparato estatal, se aliou ao PRI e fracassou. Conseguiu eleger seu sucessor, mas nas condições mencionadas – uma vantagem de pouco mais de 200 mil votos, sem que se tenha feito a recontagem eleitoral, que poderia desfazer as dúvidas sobre as acusações de fraude, em um país conhecido por elas.
Quando fez a opção de assinar um Tratado de Livre Comércio com os EUA, em 1994, o México esperava receber os fluxos positivos do desenvolvimento econômico de duas potências globalizadoras – EUA e México. Porém, nesse mesmo ano, o México inaugurou a modalidade de crises financeiras trazidas pelo neoliberalismo, o que levou Washington a mobilizar imediatamente um empréstimo gigante, para acudir ao governo mexicano. Nesse mesmo momento se dava a sublevação dos zapatistas em Chiapas.
As promessas dessa forma de integração subordinada à globalização se resumiram a que o México passasse a ter mais de 85% do seu comércio exterior com os EUA e que se instalassem muitas fábricas na fronteira com esse país, para explorar a mão de obra barata. Mesmo enquanto funcionou, estes investimentos não se estenderam ao conjunto do país e, mesmo explorando força de trabalho de mulheres e de crianças, esses capitais encontraram melhores condições na China e abandonaram o México.
Calderón aliou-se ao PRI e tenta obter um apoio parlamentar que lhe blinde contra as mobilizações populares e as instabilidades econômicas. Seu discurso mais à direita do de Fox se traduziu em um ministério ainda mais conservador, em um continente em que as conseqüências negativas dos modelos econômicos vigentes tem levado à formação de uma opinião pública mais à esquerda – de que as recentes eleições de Daniel Ortega na Nicarágua e de Rafael Correa são as expressões mais recentes. Pode-se esperar que o México seja um dos cenários de maiores turbulências nos próximos anos.
Postado por Emir Sader às 09:11
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