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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

29.1.16

JESUS, "o homem embriagado com a Palavra"


JESUS, "o homem embriagado com a Palavra"


Adroaldo Palaoro


"Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca" (Lc 4,22)

"Nós somos palavra". Somos feitos para a comunhão, para unir as nossas vidas. É graças à força das palavras que derrotamos o silêncio angustiante da solidão, derretemos o gelo da indiferença, criamos pontes, abrimos horizontes e chegamos a lugares jamais imaginados ou tocados pelos nossos pés. Quando não existe a troca de palavras, ditas e ouvidas, a vida é mutilada nas suas expressões mais vitais, as espirituais. Talvez porque sejam a mais genuína invenção humana.

A palavra tem os atributos divinos. Os próprios textos sagrados nos dizem que "Deus é Palavra" e, em Jesus, ela se faz carne. Chegada a plenitude dos tempos, Deus disse sua Palavra definitiva e insuperável em Jesus. Ele, em sua vida e missão, prolonga a Palavra criativa de Deus; começa a falar uma Palavra sedutora a partir da margem geográfica, cultural, religiosa e econômica. Palavra encarnada, Jesus sintoniza e ajusta sua palavra à palavra do Pai.

Com sua vida e sua palavra, Jesus interrompe o discurso dos especialistas sobre Deus. A surpresa, o desapontamento e o conflito que Jesus provocou, ensaiam cada dia novas palavras e novos gestos. Seu ensinamento, cheio de "autoridade" introduz uma perspectiva nunca ouvida antes; apresenta uma alternativa que as pessoas mais simples do povo entendem como revelação do Pai aos pequeninos.

No encontro com a realidade dos pobres e excluídos, Jesus extrai palavras significativas, previamente cinzeladas e incorporadas no seu interior, onde elas revelam dinamismo, sentido e alteridade; sua palavra brota de uma vida interior fecunda e conduz a uma vida comprometida. A partir das periferias do mundo surge um canto de vida nova, a sabedoria oculta a muitos sábios e expertos. É uma sabedoria que vem de Deus, desconcertando a sabedoria exibida a partir do centro.

Suas palavras revelam uma força "re-criadora", que é o sentido belo do viver; através delas Jesus põe em movimento a realidade, reconstrói pessoas feridas em sua dignidade, comunica saúde onde há enfermidade, faz emergir a vida onde impera a morte.

As palavras têm um peso no anúncio e na atividade missionária de Jesus; não são neutras. Como um raio x que transpassa, as palavras proferidas por Ele iluminam os recantos mais profundos do ser humano; como um refletor em noite escura, ela reacende a esperança onde tudo já perdeu o sentido; como a chuva em terra seca, ela desperta novidades na vida, sacode as consciências adormecidas, põe em questão as atitudes de indiferença e de fechamento...

É extraordinário perceber como as palavras ditas com cuidado e amor (pedagogia de Jesus) produzem efeitos benéficos para o ser humano. Suas palavras são bem-aventuradas, pois são capazes de fazer crescer, sustentar, edificar as pessoas para o convívio social, humano-afetivo, espiritual. São palavras que trazem luz e calor, infundem confiança e segurança. Suas palavras jamais deixam as coisas como estão. Elas não se limitam a transmitir uma mensagem; elas tem uma força operativa, desencadeiam um movimento...

É preciso, a partir do encontro com Jesus Cristo, "sentir" a palavra que proferimos a cada instante; verificar se a palavra pronunciada procura traduzir a palavra interior, se sabemos "empalavrar", ou seja "pôr em palavras" nossa realidade interior e exterior. Desde o nascimento até à morte, continuamente estamos "empalavrando" nossos sentimentos, sonhos, aspirações... A palavra abarca todas as expressividades humanas. Ela não se reduz à oralidade: a gestualidade, a linguagem corporal, a presença solidária e compassiva... tudo isso também forma parte da palavra humana. Os comportamentos éticos e os valores também são formas de "empalavramento".

As palavras são, ao mesmo tempo, pensamento, ação, sentimento... Não possuímos nada que tenha, ao mesmo tempo, o poder e a leveza das palavras. Em todos os lugares aonde vamos somos cercados por elas; palavras murmuradas com suavidade, proclamadas em altas vozes ou berradas irritadamente; palavras faladas, recitadas ou cantadas; palavras em sites, em livros, em muros ou no céu; palavras de muitos sons, muitas cores ou muitas formas; palavras para serem ouvidas, lidas, vistas ou olhadas de relance; palavras que oscilam, que se movem devagar, dançam, pulam ou se agitam. As palavras podem mudar a vida, para o bem ou para o mal. Há palavras que ferem e há palavras que curam. Há uma palavra que constrói e uma que destrói, uma palavra que comunica calor e luz, outra que semeia frieza, uma que infunde confiança, outra que arrasa...

As palavras nos tocam e nos modelam; às vezes, elas nos tocam como brisa suave, outras vezes como punhais, mas sempre nos deixando marcas profundas de estímulos ou de desânimo: sentimentos de alegria ou tristeza, de paz ou inquietação, de fé ou descrença, de amor ou ódio...

Há uma palavra pela qual tudo começa e recomeça, outra pela qual tudo termina, deixando o silêncio atrás de si. Depois de certas palavras, não resta mais nada a dizer.

Todos conhecemos pessoas destruídas pelas palavras, como também pessoas reconstruídas, recriadas pelo toque das palavras. A palavra tem uma força reconstrutora.

As palavras perdem força e criatividade quando não nascem do silêncio. O mundo está repleto de "papos" vazios, confissões fáceis, palavras ocas, cumprimentos sem sentido, louvores desbotados e confidências tediosas, palavras enfeitadas e vazias, sem alma, nem paixão. Vivemos cercados de "palavras vãs". Às vezes temos a sensação de que as palavras nos saturam: nas aulas, na televisão, nos jornais, nas liturgias, na Internet, nas redes sociais... há demasiado palavrório. Carecemos de poesia.

Sem dúvida, em nossa sociedade pós-moderna, a palavra cada vez tem menos relevância, cada vez é menos significativa. Elas são atrofiadas, manipuladas ou submetidas a um violento esvaziamento de significados, segundo nossa conveniência. Vivemos hoje uma "crise gramatical", ou seja, temos cada vez menos palavras. O leque de palavras carregadas de sentido é muito limitado. Daí a dificuldade de encontrar palavras para nomear a experiência de Deus, para expressar as grandes questões da vida, para dar sentido a uma busca existencial.

Vivemos tempos de "fratura da palavra" e, portanto, "fratura de sentido". E a raiz disso tudo está na carência de uma interioridade, lugar da gestão das palavras de sabedoria que inspiram nossa vida.

Quem sabe articular silêncio e palavra é um verdadeiro artífice da vida.

Texto bíblico: Lc. 4,21-30

Na oração: Percorrer as palavras proferidas, normalmente, ao longo do dia: são palavras que elevam? curam? animam? Palavras marcadas pela esperança? Palavras carregadas de sentido? Palavras criativas?

Cave palavras nas minas do seu silêncio, e deixe que o Espírito diga a "palavra" misteriosa, diferente, reveladora de sua verdadeira identidade. Somente o silêncio poderá gerar "palavras de vida".

- Busque palavras nas profundezas de seu interior, palavras carregadas de sentido e de ânimo.

- Crie silêncio para poder dialogar com seu eu profundo, para ver o que há atrás de suas palavras, de seus

sentimentos, de suas intenções... Silêncio para tentar ir ao coração de sua verdade.

Pe. Adroaldo Palaoro sj


28.1.16

Papel de los intelectuales...

Vídeos:

Álvaro García destaca el papel de los intelectuales revolucionarios

Publicado em 13 de dez de 2014

Álvaro García Linera, vicepresidente de Bolivia, destacó la labor de los intelectuales revolucionarios que ayudan a entender el mundo para transformarlo y usan la creatividad para entender el mundo y encontrar los elementos que permiten transformar, revolucionarlo. "El mundo no solamente cambia con discursos, sino es un tema de los esquemas que tenemos en el alma", dijo García Linera en la clausura del Décimo Encuentro de Intelectuales en Defensa de la Humanidad. teleSUR


Los intelectuales tenemos que salir de la academia: García Linera

Publicado em 13 de dez de 2014

"Nos estamos jugando la vida de la revolución latinoamericana en Venezuela", apuntó Linera, quien participa en el Encuentro de la Red de Intelectuales, Artistas y Movimientos Sociales en Defensa de la Humanidad, que culmina este sábado en la ciudad de Caracas. En los últimos 200 años Venezuela ha tenido un papel fundamental en la construcción de nuestro continente. En 1800 cuando las fuerzas libertarias se consolidaron y expandieron desde los llanos venezolanos para llevar la bandera libertaria al resto del continente, y marcaron el destino emancipativo de América Latina, 200 años después le va a tocar otra vez a Venezuela, marcar el destino de gobiernos progresistas y revolucionarios. teleSUR



http://videos.telesurtv.net/video/325399/alvaro-garcia-destaca-el-papel-de-los-intelectuales-revolucionarios




http://www.telesurtv.net/

teleSUR tv




Vamos ao que interessa

28/jan./2016, 7h00min

Vamos ao que interessa (por Guilherme Cassel)

Desde 2003, 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema no Brasil. A taxa de pobreza extrema que era de 7,6% em 2004, caiu para 2,8% em 2014. A taxa de pobreza, no mesmo período, foi reduzida de 22,3% para 7,3%. O Coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, caiu de 0,535 para 0,494, também entre 2004 e 2014, sendo que os principais beneficiados foram os 10% mais pobres da população.

No meio rural, as transformações foram ainda mais significativas: a pobreza extrema caiu de 21,8% em 2002 para 7,6% em 2014 (65,2% de redução) e a pobreza que em 2002 alcançava 49% da população rural foi reduzida para 20,2% em 2014 (59,7% de redução).

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que em 2002 era 0,683 passou para 0,755 em 2014, registrando o maior índice de crescimento na América Latina. O índice de Pobreza Multidimensional que era de 4% em 2006, caiu para 2,9% em 2013 (PNUD, 2015).

No que diz respeito ao acesso à educação, os dados de 2014 são mais do que animadores quando mostram o número de crianças e jovens que estão na escola: 98,5% das crianças entre 6 e 14 anos ; 84,3% dos jovens entre 15 e 17 anos; 82,7% das crianças entre 4 e 5 anos e 30% dos jovens entre 18 e 24 anos.

As informações não são parte de um press release da Presidência da República nem tampouco de um panfleto do PT, elas estão no site da FAO, que como sabemos é uma organização que faz parte da ONU. O Documento se chama "Superación Del Hambre Y De La Pobreza Rural – Iniciativas Brasileñas" e tem por objetivo compartilhar com o mundo as experiências vitoriosas de políticas públicas que foram e continuam sendo implementadas no Brasil, com resultados tão significativos em tão curto espaço de tempo.

Penso que ESTA É A AGENDA OCULTA DA POLÍTICA BRASILEIRA. Somos uma nação que demorou 500 anos para enfrentar o tema civilizatório do enfrentamento da pobreza e da redução das desigualdades e quando fizemos, fomos capazes de realizar essa tarefa com enorme criatividade e eficiência. De 2003 a 2014, criamos estruturas e tecnologias que garantiram que um conjunto de políticas públicas tivesse o resultado esperado, chegando no público-alvo desejado e mudando para melhor as condições de vida daqueles que, historicamente, estavam condenados à pobreza e ao esquecimento.

É claro que ainda há muito caminho pela frente, mas não podemos perder de vista que são estas estruturas e estas tecnologias que a elite quer desmontar. Foi preciso mais de dez anos de muito trabalho e acúmulo para implementarmos o Ministério do Desenvolvimento Social com seu Cadastro Único e sua Busca Ativa, por exemplo. Assim como foi o tem sido trabalhoso fortalecer o Ministério do Desenvolvimento Agrário com suas políticas de Seguro Agrícola e seu Sistema de DAPs ( Declaração de Aptidão de Produtor). Estas estruturas e tecnologias são conquistas nossas; são o nosso jeito genuíno de governar e é nosso dever mantê-las e fortalecê-las. Não é à toa que o discurso do equilíbrio fiscal a qualquer custo vem sempre acompanhado da retórica da diminuição do tamanho do estado que, por conseqüência, sempre acaba tendo como alvos prioritários os Ministérios que cuidam da pobreza (MDS), da Agricultura Familiar (MDA), das mulheres, dos negros e dos índios e das populações tradicionais. Acabar com essas estruturas significa, ao fim e ao cabo, garantir que parte significativa do orçamento público seja abocanhada pelos de sempre: os rentistas, os latifundiários, os bancos e os grandes capitalistas.

Também é preciso compreender que as políticas públicas voltadas para a inclusão social e redução das desigualdades, desenvolvidas nos três primeiros governos do PT, tiveram sucesso porque estavam articuladas com uma política econômica coerente com esses objetivos. A queda da taxa de juros, especialmente em 2011-2012, o controle da inflação, a valorização do salário mínimo e das aposentadorias e a oferta massiva de crédito pelos bancos públicos, drenou recursos para os mais pobres ao diminuir o ganho dos especuladores.

Por que tudo mudou tão de repente? Não sei responder e os argumentos que chegam do Governo não me parecem suficientes. O que me parece claro, é que a Agenda Real que está em disputa no país é interromper ou dar prosseguimento a uma caminhada de inclusão social e redução das desigualdades. E como sabemos, decidir para um lado ou para outro vai sempre significar escolher quem vai ficar com a maior fatia do orçamento público.

Nessa conjuntura tão deformada onde parece que oque está em jogo é saber quem roubou mais, seria importante que a esquerda acordasse e fizesse o que a FAO/ONU já está fazendo: destacar os avanços das políticas públicas de inclusão social e combate à desigualdade e exigir para além da sua continuidade, o fortalecimento das suas estruturas e o aumento da sua participação no orçamento público. Uma agenda consequente e civilizatória.

.oOo.

Guilherme Cassel é ex-Ministro do Desenvolvimento Agrário.


http://www.sul21.com.br/jornal/vamos-ao-que-interessa-por-guilherme-cassel/


27.1.16

Por que a desigualdade é muito pior que a corrupção

Por que a desigualdade é muito pior que a corrupção. Por Paulo Nogueira


Postado em 26 jan 2016
Isso tem que acabar: desigualdade social

Isso tem que acabar: desigualdade social

É desanimador ver que, numa pesquisa, os brasileiros disseram que o maior problema nacional é a corrupção.

Só pode ser o resultado da intoxicação mental provocada pela mídia.

No mundo, a maior tragédia é a desigualdade. Isto já se tornou um consenso. Do Papa a líderes políticos que se reúnem em lugares como Davos, é unânime a opinião de que não existe nada mais premente para o futuro da humanidade do que reduzir a iniquidade.

E no Brasil, um país assolado por uma desigualdade abjeta há séculos, este não parece ser um problema grave.

Ora, ora, ora.

Quantas vezes você viu jornais e revistas fazerem uma campanha por uma sociedade mais igualitária?

Nunca.

Quantas vezes você vê denúncias de corrupção, todas, aliás, voltadas contra um lado só, e muitas delas sem nenhuma consistência?

Inúmeras.

Isso ocorre por uma conveniência mesquinha das famílias que controlam a imprensa. Elas são beneficiárias da desigualdade. Lucram com ela, e copiosamente. A família mais rica do Brasil é a Marinho.

Atacar a desigualdade significa extirpar privilégios dos barões da mídia e da classe que representam e defendem.

Portanto, nem uma palavra.

Focar na corrupção é desviar o foco da real tragédia brasileira.

Não que a corrupção seja desimportante. Mas é cínico não dizer que a corrupção, numa sociedade, é tanto maior quanto mais iníqua ela é.

Não à toa, os países menos corruptos do mundo, os escandinavos, são também os mais igualitários.

Não se tolera, ali, roubalheira. Apanhado, você vira um pária. Um sistema igualitário simplesmente não pode ser erguido com corrupção. O fundamento dele é a transparência, a integridade, a frugalidade – tudo, enfim, que se opõe à corrupção.

Quantos dias duraria no cargo, na Escandinávia, um político do naipe de Eduardo Cunha depois de pilhado em flagrante? Não dá para falar em dias, e sim em horas.

Que a mídia jamais tivesse combatido a desigualdade é compreensível.

O que realmente não dá para entender é que o PT tenha sido tão tíbio, em seus anos de poder, em catequizar os brasileiros sobre os horrores de uma sociedade injusta.

Compare com a pregação contínua do Papa Francisco. Já na escolha do nome Francisco o papa promoveu a ideia da igualdade. Francisco não perde uma chance de denunciar a desigualdade.

Tivesse o PT feito o mesmo, não teríamos hoje uma nação tão entorpecida em relação ao que Rousseau chamou de "extremos de opulência e miséria".

Tantos bilhões investidos em publicidade em jornais e revistas, e nunca o governo fez uma campanha vigorosa contra a desigualdade.

Perdemos todos.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

26.1.16

Tipo um mini Fórum Social Muncial


Síntese do Programa:

~ Transformações socioeconômicas e ético-culturais

~ Projetos de nação

~ Prática transformadora

~ Mídia, educação e cidadania

~ Bioética. Cuidado com a vida. Biopoder. Saúde pública. Ética planetária.

~ Sociedade sem exclusão

~ Sociedade sustentável

~ Mundo do trabalho

~ Economia solidária

~ Democracia e participação

~ Questões de gênero e minorias

~ Espiritualidade libertadora

 

Programa completo em https://goo.gl/GOn8Cp

Inscrições: Curso completo (mais em conta): até 14/03/2016. Etapas isoladas: até a semana de cada uma, dependendo da disponibilidade de vagas.

Horário: Sábado manhã e tarde + domingo manhã

Investimento: Curso completo: R$ 60 por etapa. Etapas isoladas: R$ 80 por etapa


Mais informações: https://goo.gl/rc1ugg.

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fepoliticaetrabalho@gmail.com

(54) 3211-5032

25.1.16

Papa apoia ativistas argentinos em processo contra Monsanto

Papa apoia ativistas argentinos em processo contra Monsanto

De acordo com o serviço informativo da Santa Sé, Francisco escreveu a uma das ativistas do movimento, Vanessa Sartori, agradecendo "todo o bem" que aquele organismo está a procurar fazer, na defesa dos interesses da comunidade local.

22 de janeiro de 2016 14h48

Da Página do MST 

O Papa Francisco manifestou o seu apoio à causa de um movimento ambientalista argentino, que desde 2012 luta contra a construção de uma fábrica de milho transgénico numa povoação da província de Córdoba.

De acordo com o serviço informativo da Santa Sé, Francisco escreveu a uma das ativistas do movimento, Vanessa Sartori, agradecendo "todo o bem" que aquele organismo está a procurar fazer, na defesa dos interesses da comunidade local.

"À senhora, à sua família e à comunidade paroquial de Malvinas Argentinas envio as minhas preces e bênçãos", refere o Papa.

No centro desta questão está a povoação de Malvinas Argentinas, onde a empresa multinacional Monsanto, a "maior corporação agrícola do mundo", pretende construir uma fábrica de milho transgénico "a poucos metros das residências e escolas do bairro" de Vanessa Sartori.

A 10 de janeiro, a jovem tinha escrito ao Papa Francisco alertando-o para o problema – a Monsanto "promete trabalho e progresso" para as pessoas locais, "mas é falso", frisa a ativista.

Em vez de alimentos, a fábrica produziria "biocombustível e utilizaria milhões de litros de água e pesticidas", numa clara ameaça para a população e para o ambiente.

Por agora, "a justiça argentina suspendeu a construção, considerando-a uma violação da lei nacional do meio-ambiente", mas o processo ainda não terminou.


Estamos vendo a construção de um Estado de Direito “fast food”

25/jan./2016, 7h45min

Estamos vendo a construção de um Estado de Direito "fast food"

Por Tarso Genro

"No Rincão Velho um dia anunciei ao meu querido amigo Oscar Pardo: prepara-te. Vamos nos casar. Correu ao seu quarto e voltou com uma escopeta na mão. Entendeu que íamos caçar". (Adolfo Bioy Casares, "Memórias", anunciando a um amigo o seu casamento com a escritora Silvina Ocampo)

Neste emaranhado de informações vazadas, notícias verdadeiras e manipuladas, avaliações do comportamento dos agentes públicos envolvidos na operação "lava-jato", creio que faz falta um debate de princípios. Um debate – tanto do ponto de vista jurídico como político – para situar a guerra política que estamos vivendo, no interior do Estado de Direito, na sua fase histórica de Estado Democrático e Social. Estado, este, que adquiriu sua elaboração doutrinária mais complexa, após as derrotas das diversas formas de fascismo depois da Segunda Grande Guerra.

Como diz Lenio Streck, no seu brilhante "Jurisdição Constitucional e Hermenêutica", "nem tudo está perdido, a Constituição ainda constitui", e prossegue: "o Direito, enquanto legado da modernidade – até porque temos uma Constituição democrática – deve ser visto hoje como um campo necessário de luta para a implantação das promessas modernas". Este pequeno ensaio quer saudar esta visão e, ao mesmo tempo, contribuir para que as lutas que se travam hoje no Brasil, contra a corrupção, não redundem como na Itália, na transferência do poder político de Estado para esquemas de corrupção que tenham na sua vanguarda um esquema ainda mais complexo e poderoso, como aquele que levou Berlusconi ao poder, por quase uma década: a irmandade siamesa da grande mídia, as agências de risco e o capital financeiro especulativo.

Os processos político-judiciais em andamento no Brasil desenham um duplo cenário e ensejam várias possibilidades de desenlace: são – ao mesmo tempo – um momento revelador positivo da nossa trajetória republicana, porque é um fato real a existência de organizações criminosas dilapidando o Estado; e também são um momento de constrangimento do Estado, para que ele não prossiga na promoção da efetividade da agenda constitucional dos direitos sociais, que os credores da dívida pública veem como uma ameaça ao seu direito de recebê-la.

A "midiatização" do Processo Penal, que vincula politicamente o Judiciário como instituição, a grande mídia e a direita política (ramificada em todos os partidos com forte representatividade eleitoral), compõem o cenário onde as coisas, até agora, estão se resolvendo, pois o Estado Democrático e Social de Direito – tal qual foi aqui foi constituído – é um bloqueio à agenda do capitalismo financeiro global. A via mais eficaz para derrotá-lo, desconstituindo-o em termos programáticos e impugnando as suas promessas, é através da luta contra corrupção: uma luta meritória para um objetivo espúrio. Salvá-lo, iria requerer o seu aprofundamento no respeito aos direitos fundamentais e na resposta concreta aos direitos sociais, via que não foi escolhida, até agora, pelos governos sob ataque.

Para que essa análise não seja distorcida, quero sustentar que tanto as investigações do Ministério Público, bem como a direção processual dos casos – ainda em exame, pelo Poder Judiciário – não podem ser vistos como uma "conspiração da direita", contra os governos de esquerda (na sua acepção tradicional), instalados no país depois de 2002. Nem eram tanto "governos de esquerda", nem os processos arremeteram somente contra pessoas mais à esquerda, no espectro político tradicional desta. Mais corretamente, pode-se dizer que são ações que surgiram, combinando um avanço republicano das instituições – a partir da luta contra a corrupção centenária (fundamentadas na defesa da legalidade) – com a conveniência de ajudar a derrotar o desenvolvimento da democracia social no Brasil, promovido pela Constituição de 88.

A mesma Constituição que edificou os direitos sociais programáticos e limitou-os, por proibições constitucionais, que só permitem a implementação dos direitos fundamentais e sociais pelas tortuosas formas tradicionais do velho Estado de Direito, verticalizado, não participativo e propício para ser controlado pelas velhas oligarquias e corporações. Lula está sendo cercado – não Fernando Henrique nem Aécio – porque teve a capacidade de movimentar esta máquina, dentro da ordem, para diminuir a distância entre ricos e pobres no país, o que permitiu a evolução democracia social, ainda que sob controle das grandes fortunas, não da cidadania comum.

Duas grandes falácias, porém, estão na base desse movimento político e jurídico. Elas marcarão – independentemente dos seus resultados – a nossa história para sempre. A primeira falácia, é que os processos judiciais em curso obedecem ao princípio da "neutralidade formal do Estado", portanto estão sendo encaminhados dentro do "Direito vigente". Ora, nenhum Estado, democrático ou não, é "neutro", pois verdadeiro conteúdo da vida constitucional de um Estado não está naquilo que a norma constitucional ordena ou outorga, como direito ou pretensão de direito, mas está naquilo que a sua Constituição proíbe, onde o Estado declara, portanto, a sua "não neutralidade".

O sentido concreto desta afirmação é que, embora possa se desejar que toda a norma constitucional seja norma jurídica, nem toda o é: algumas são programáticas, outras são princípios formais, outras são inaplicáveis. E são assim – programáticas ou inaplicáveis – porque a sua força normativa e influência direta, na vida do cidadão concreto, é barrada, formal e materialmente, pelas proibições, contidas na mesma Constituição. Se o Estado fosse "neutro", o direito de propriedade seria tão viabilizado como a proteção dos direitos fundamentais e, mais ainda, o aparato estatal permaneceria inerte – o que seria ruim – perante os supostos ou reais crimes atuais, como o fez perante pessoas dotadas dos mesmos direitos, prerrogativas e deveres, em outros momentos.

O que determina, portanto, o ativismo judicial em curso – com seus problemas e méritos – é o ambiente democrático, a política (que não é neutra), que penetra em todos os poros do MP e do Poder Judiciário. E estes, no momento que passam a identificar uma "classe política" a ser vigiada e punida (não propriamente os criminosos que estão na política), tornam-se – eles mesmos – uma classe política especial. "Classe" dotada de poderes políticos excepcionais, que formula o axioma que estão "acima da política", tornando-se, desta forma, corregedores da democracia, a partir de um suposto "clamor público", que lhes estimula a novas interpretações da Constituição e das leis penais: abalam o garantismo e, às vezes, até invertem o ônus da prova nos processos criminais.

O Estado Social e Democrático de Direito é a formulação mais avançada do Estado de Direito, que pretende equilibrar a "democracia política" e os direitos "sociais e fundamentais", com a trama normativa e prescritiva do Direito Constitucional, que é, ao mesmo tempo, programa e norma, prescrição e proibição, já uma nova utopia moderna, portanto, sob o assédio universal da destruição das suas funções públicas.

Os processos em curso promovem, como estão sendo geridos até agora, um "empate estratégico", entre o avanço de uma ordem mais republicana e um retrocesso autoritário, desta mesma ordem, em função dos instrumentos que estão sendo usados na sua implementação. Este "empate" ainda não está resolvido, pois ele se decide, não nos Tribunais, mas no terreno político, e o próprio MP e os Juízes, ainda não estão cooptados, majoritariamente, para o novo sentido que está sendo dado às suas funções de revisores da ordem jurídica democrática, sem serem mandatados pelo detentor da soberania: o povo constituinte.

A segunda falácia é a comparação da "lava-jato" com a "Mãos-Limpas" (ou a "Tangentópoli") italiana. As grandes operações policiais contra a elite que tinha dirigido o Estado italiano no pós-guerra (até os anos 90) foram promovidas contra todos os partidos e líderes, que passaram pelos sucessivos governos italianos no pós-guerra, ao contrário do que ocorre em nosso país, cuja seletividade só não é mais forte em função da socialização da informação feita pelas redes.

Os processos dos anos 90 sucederam ações duríssimas contra a Máfia, então dirigidas pelos juízes Borselino e Falcone, na década anterior (e pelo Chefe dos fiscais, Rocco Chinnici), todos posteriormente assassinados pelos grupos criminosos que combateram. Eis a diferença substancial: a pauta do combate à criminalização do Estado, promovida por estes heróis assassinados, ficou como exemplo para as novas gerações de juízes e fiscais, que não foram orientados pela grande mídia, nem homenageados por ela, para começar o seu trabalho de apuração "direcionado", dos crimes contra o Estado, mas foram motivados pelo exemplo dos seus antecessores.

Segundo as investigações de Borselino e Falcone, a Máfia – com as suas devidas variações regionais – mantinha uma estreita relação com as mais importantes lideranças da democracia cristã da Itália, que se projetaram para os demais partidos de Governo, até a chegada de Berlousconi ao poder, glorioso "renovador" da política italiana. Neoliberal, autoritário e corrupto, que veio de fora da "classe política", para ocupar funções de Governo.

Pier Luigi Zanchetta, num estudo das perspectivas judiciais e políticas, abertas com aqueles processos na Itália, mostra (1995) que a "Tangetopoli" começa quando amadurecem as condições políticas e econômicas que abalam o pacto de "não beligerância" entre a Magistratura e o Poder Político. Pacto este, já também debilitado pela presença ativa no Sistema de Justiça italiano de Juízes e Fiscais simpatizantes do Partido Comunista Italiano ou, pelo menos, independentes das oligarquias da democracia cristã. São novos quadros, originários de correntes ideológicas e políticas, que não tiveram responsabilidades significativas no governo nacional, depois da estabilização posterior ao fascismo.

A utilização, que estes fizeram da imprensa, "manipulando-a" – como diz o Juiz Moro elogiosamente no seu "Considerações sobre a Operação Mani Pulite", também nada tem a ver com o que ocorre no nosso país, pois aqui há uma mão inversa, não observada inocentemente por Moro: a imprensa é que estimula ou "limita", a ação da Polícia e do Sistema de Justiça, usando prebendas publicitárias que outorga a quem atende a suas "denúncias", transformando estas autoridades em uma "longa manus", não só da sua ação destrutiva da esfera da política (na qual a mídia oligopolizada institui a pauta que lhe interessa), mas também edifica ou destrói lideranças públicas, segundo a sua visão de Estado e projeto político.

A mudança dos critérios interpretativos das normas jurídicas do Processo Penal e do Direito Penal, a relativização do garantismo e a anulação concreta da presunção da inocência, não só pelos vazamentos seletivos, mas também pela voz pública dos Juízes, Procuradores e Delegados de Polícia -antecipando convicções sobre os processos judiciais e investigações em curso- configuram o erguimento de uma nova ordem, dentro da mesma ordem.

É uma mudança, porém, que atinge os "fundamentos" de qualquer Constituição democrática, a saber: o princípio da igualdade formal e o princípio da inviolabilidade dos direitos. Os atuais réus, dentro da mesma ordem jurídica, não estão tendo o mesmo direito à ampla defesa, que tiveram os outros réus, que lhes precederam, processados sobre os mesmos temas, porque os processos atuais viraram espetáculos políticos da mídia partidarizada e instrumentos de liquidação de uma facção política, quando se sabe que a delinquência contra o Estado, está dentro de todas as facções. Nem estão tendo, estes réus, o direito de aguardar, para cumprir suas penas, que as suas sentenças transitem em julgado.

O que estamos vendo é a construção de um Estado de direito "fast food", para adaptar a ordem política às necessidades do capital financeiro das agências de risco, que só não aceita a corrupção dos outros. Na verdade, o objetivo estratégico de todo este movimento, que traz no seu início a marca generosa e republicana do combate à corrupção – independentemente da consciência dos seus protagonistas – passou a ser chegar a um governo capaz de decapitar o Estado Democrático e Social de Direito, dada a sua incapacidade (verdadeira) de, ao mesmo tempo, pagar a dívida financeira legítima e ilegítima, e também pagar a dívida social, reconhecida na Constituição social e democrática que escolhemos em 88. Para cumprir com estas promessas, os contratos da dívida deveriam, em algum dia, serem revistos, nas suas partes ilegítimas e ilegais.

Norberto Bobbio diz que a "ética da convicção" não coincide com a "ética da responsabilidade", pois aquela é uma ética dos princípios e esta é uma ética "dos resultados". Esta distinção, que atravessa a história da filosofia moral, desafia tanto os dirigentes políticos como os "operadores do direito", em cada momento das suas vidas. A primeira pode levar a um fanatismo repugnante, que descarta o homem concreto e celebra o homem abstrato, aplicando mecanicamente os princípios, independentemente das particularidades e até mesmo singularidades de cada situação vivida.

A segunda pode levar ao pragmatismo extremo, na busca de um resultado que viola princípios e desliga-se hoje, portanto, do conjunto de valores construídos na modernidade democrática e no humanismo revolucionário das Luzes. Tudo indica que predomina, no atual jacobinismo dos Juízes e do Ministério Público, esta segunda hipótese. Até onde chegarão, depende mais da ação política na sociedade do que dos resultados, já antevistos, da maioria dos processos penais em curso. É bom ser pessimista, mas também não perder a esperança.

(*) Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.

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A piscina e a universidade

24/jan./2016, 8h40min

A piscina e a universidade


Por Selvino Heck


Val toma coragem e entra pela primeira vez na piscina da mansão da família de classe média alta onde é empregada doméstica há mais de década. Enquanto bate com pés e pernas na água rasa da piscina (que foi esvaziada porque nela a filha tinha entrado, empurrada pelo filho do dono e amigos), Val tira o celular do bolso e telefona para a filha Jéssica, desejando feliz Ano Novo – 'Sabe filha onde estou na agora?' – e, toda orgulhosa e feliz por sua coragem, faz 'chap, chap' na água, para a filha ouvir o barulho inédito.

Essa história e cenas são do filme 'Que Horas ela Volta?'. Val, a empregada doméstica, veio de Pernambuco, onde deixou uma filha. Jéssica, sua filha, vem inesperadamente a São Paulo para fazer vestibular de arquitetura na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), e recorre à mãe na sua chegada à cidade grande (fica alguns dias com mamãe, que dorme na casa dos patrões, até achar um lugar seu para ficar). Fazia dez anos que mãe e filha não se viam, não se encontravam, quase desconhecidas uma da outra. Val, submissa empregada doméstica, Jéssica, jovem vestibulanda, senhora do seu destino.

A entrada na piscina era o sinal da libertação. Estava terminando a submissão de quem não podia sentar à mesa dos patrões, de quem dormia no quarto da empregada, de quem não podia mexer no sorvete exclusivo do filho do patrão, mesmo que lhe fizesse todos os agrados durante todo tempo, ele, no cotidiano, mais filho da empregada que de sua mãe biológica.

A piscina é o desejo e prazer secretos dos quais a empregada não podia usufruir. Uma das primeiras recomendações de Val para Jéssica, quando esta chega a São Paulo, é de nunca entrar na piscina. 'Não é para o nosso bico.'

Assim como a Universidade nunca foi o espaço, embora desejado, das filhas das empregadas domésticas. Ainda mais a celebrada FAU! Aliás, no filme, é fantástica a forma como Val, a empregada doméstica, conta para a patroa a nota da filha no vestibular – 68, 68, fala ela da nota da filha, como se fosse algo mágico ou extra-terrestre. Enquanto o filho da patroa, consolado pela empregada, não é aprovado e vai fazer um estágio na Austrália.

Val 'invade' a piscina. Jéssica 'invade' a Universidade, que nunca esteve aberta para os filhos da periferia, como a piscina sempre esteve proibida para os empregados.

No Fórum Social de Educação Popular, em janeiro, em Porto Alegre, no Encontro Educação Popular e Universidades: Experiências e Desafios, Boaventura de Sousa Santos, da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), disse: "Educar é construir consciências que representam o mundo como seu, representar o mundo como próprio."

Val, que saiu de Pernambuco para sobreviver, submeteu-se a um mundo ao qual apenas servia docilmente, sem questionar sua ordem e sua hierarquia, porque estas eram as possibilidades colocadas. Uns mandam, outros obedecem. Uns são mais, outros são menos. Um mundo que não era seu, embora o construísse todos os dias para os outros.

Jéssica teve acesso à escola em Pernambuco, onde um professor de história (não por acaso Pernambuco, terra de Paulo Freire, não por acaso um educador popular) abriu-lhe os olhos da consciência social. Quando lhe perguntam sobre o porquê de fazer vestibular para arquitetura, ela responde que é para melhorar o mundo.

Os dois mundos, o de Val e o de Jéssica, se encontram, confrontam-se e descobrem a possibilidade histórica de dialogar. Jéssica passa no vestibular. Val pede demissão do emprego. Acontece uma síntese, uma nova síntese libertadora.

As transformações dos últimos anos no Brasil estão precisando de uma nova síntese, Seus personagens principais, o povo que só trabalhava e mal sobrevivia, que só trabalhava para os outros e não tinha direitos reconhecidos, que só recebia salário no final do mês, quando recebia salário e quando tinha emprego. E o povo trabalhador que tem direitos, não só à casa, mas também aos benefícios de uma vida digna, direito à cultura, à escola e à Universidade, direito ao trabalho e ao lazer andando de avião pela primeira vez.

A história não para felizmente. Os tempos são de mudança. Para não haver retorno ao neoliberalismo conservador e concentrador de renda, o futuro e o novo precisam aproveitar os avanços das últimas décadas na América Latina, incluir o protagonismo dos novos sujeitos de direitos, como Jéssica e Val, numa educação emancipatória, desenvolver o projeto de mudança a partir das práticas e experiências solidárias acontecidas e vividas e da consciência que trazem junto.

A piscina e a Universidade devem estar acessíveis a todas e todos, se o outro mundo possível for de igualdade, justiça social, distribuição da renda, da riqueza e do poder. Se assim não for, não é 'o outro mundo possível'.

O Fórum Social Temático, o Fórum Social de Educação Popular, o Fórum Mundial de Educação, a Tenda Paulo Freire, tantos outros eventos e mobilizações acontecidos em Porto Alegre, são a (re)afirmação, no contexto histórico de uma Val e de uma Jéssica, de um outro mundo possível.

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Selvino Heck é Diretor do Departamento de Educação Popular e Mobilização Cidadã Secretaria Nacional de Articulação Social Secretaria de Governo da Presidência da República

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“O Brasil está no momento em que a Jessica caiu na piscina e a dona Bárbara está lá berrando”

 22/jan./2016, 21h43min

"O Brasil está no momento em que a Jessica caiu na piscina e a dona Bárbara está lá berrando"

Cine debate do filme Que horas ela volta? teve presença da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, da diretora do filme, Anna Muylaert, da presidenta da UNE, Carina Vitral e da ccordenadora nacional do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Xica da Silva. (Foto: Mariana Carlesso/Sul21)

Cine debate do filme "Que horas ela volta?" teve presença da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, da diretora do filme, Anna Muylaert, da presidenta da UNE, Carina Vitral e da ccordenadora nacional do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Xica da Silva. (Foto: Mariana Carlesso/Sul21)

Marco Weissheimer

Por vezes, alguns filmes têm a virtude de capturar um momento, um sentimento, uma atmosfera de um período histórico de uma sociedade ou de um país. O filme "Que horas ela volta?", de Anna Muylaert, é um exemplar dessa espécie seleta, conforme ficou mais uma vez demonstrado no Fórum Social Temático de Porto Alegre. Filas se formaram desde às 13 horas desta sexta na Casa de Cultura Mário Quintana para garantir um lugar na exibição-debate programada para o Teatro Bruno Kiefer. Após a exibição do filme, um debate reuniu Anna Muylaert, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, e a coordenadora nacional do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Xica da Silva.

"O Brasil está no momento em que a Jessica caiu na piscina e a dona Bárbara esta lá berrando: sai daí! sai daí! Mas acho que não tem mais volta. Uma vez que se adquire consciência de algo, não é possível retornar. Não se trata de dinheiro, mas sim de consciência. Esse filme fala de pequenas coisas que, por sua vez, falam de grandes coisas. E o Brasil ainda tem muitas coisas do passado que precisam ser atualizadas". A fala da diretora Anna Muylaert sobre o sentido de "Que horas ela volta?" resume bem a poderosa conexão que as pequenas e as grandes coisas têm no filme. Um pote de sorvete, uma piscina, um jogo de xícaras, um suco de lima da pérsia: pequenas coisas como estas compõem uma narrativa que falam do Brasil da desigualdade social, do racismo, do machismo e da segregação.

Promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, a exibição do filme, seguida de debate, lotou completamente o Teatro Bruno Kiefer, dentro da programação do Fórum Social Temático Porto Alegre. O público, formado majoritariamente por jovens, muitos deles universitários, ilustrou uma das ideias centrais do filme: há um país novo nascendo que convive ainda com muitas sombras e monstros cuja origem remonta a um Brasil arcaico, mas que resiste em desaparecer. Esse público também foi representativo de uma das personagens centrais do filme, Jessica, filha de Val, empregada da família de Bárbara.  "O Brasil está mudando mesmo para melhor e o número de Jessicas só vai aumentar. Acredito que essa é a única porta possível de transformação para o Brasil: a educação e o direito à cidadania", disse Muylaert.

Anna Muylaert: "A ideia de uma elite privilegiada e de uma maioria desprivilegiada não é nada chique e nunca será. O Brasil sempre será um país atrasado enquanto durar essa mentalidade

Anna Muylaert: "A ideia de uma elite privilegiada e de uma maioria desprivilegiada não é nada chique e nunca será. O Brasil sempre será um país atrasado enquanto durar essa mentalidade". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

"Que horas ela volta?" foi lançado na Europa e despertou reações de ceticismo em relação a algumas cenas, relatou a diretora. "Mas isso existe mesmo? A pessoa fica sentada e pede 'me dá um copo d'água'? Isso é da época do meu tataravô". Anna Muylaert respondia que isso ainda existe, sim, e que o Brasil está precisando atualizar essas regras de comportamento de séculos atrás. "O país está atravessando uma fase de transição. Expliquei a eles que tivemos há alguns anos a eleição do primeiro presidente oriundo das classes de baixa renda, que foi o primeiro a olhar para essa questão e conseguiu produzir uma guinada histórica no navio, que ainda é muito pequena perto do que precisamos fazer, mas que deixou sementes para um novo Brasil e para uma ideia de nação. Nós vivemos muitos anos sem que o Brasil pudesse ser chamado de nação na medida em que ele não protegia os seus próprios filhos. A ideia de uma elite privilegiada e de uma maioria desprivilegiada não é nada chique e nunca será. O Brasil sempre será um país atrasado enquanto durar essa mentalidade", assinalou.

Anna Muylaert explicou que procurou não fazer julgamentos individuais no filme, mas sim mostrar o esquema geral de um jogo social. "Eu procurei não julgar, nem mesmo os patrões. É verdade que, em determinados momentos, dona Bárbara tem certas atitudes que são difíceis de não julgar. Doutor Carlos é um cara liberal, pode até ser alguém de esquerda. Mas essa cultura separatista é muito profunda. Como a Jéssica pergunta para a Val: em que livro você leu isso? A gente toma essas regras na mamadeira, tendo nascido na cozinha ou na sala. O filme tentou tirar essas regras de baixo do tapete e colocá-las em cima da mesa para que todo mundo pudesse olhar e ver se essas regras ainda estão valendo tanto para um lado como para outro".

Tereza Campello: "Filme mostra a transição difícil que a sociedade brasileira vive, com a presença de um stress entre o que já mudou e o que ainda não mudou, entre a noite e o amanhecer". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Tereza Campello: "Filme mostra a transição difícil que a sociedade brasileira vive, com a presença de um stress entre o que já mudou e o que ainda não mudou, entre a noite e o amanhecer". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

A ministra Tereza Campello disse que a decisão de exibir o filme e convidar a diretora Anna Muylaert para um debate nasceu de uma avaliação de que esta atividade seria uma oportunidade para discutir o que é mesmo o Fórum Social Mundial. "Eu tive a alegria de ajudar a construir a primeira edição do Fórum, há 15 anos, e olhar esse filme é, de certa forma, dizer: sim, é possível construir outro mundo. Ele mostra a transição difícil que a sociedade brasileira vive, com a presença de um stress entre o que já mudou e o que ainda não mudou, entre a noite e o amanhecer. É nesta hora do lusco-fusco que os monstros todos aparecem. Os monstros da nossa sociedade vieram à tona e o filme mostra esse momento de stress, de ruptura e da dificuldade do novo nascer, ainda convivendo com tantas coisas velhas. A Jessica é este novo. A gente acaba chorando não só porque o filme é lindo, mas porque ele cavoca um monte de coisas lá dentro da gente".

Na avaliação da ministra, o Brasil vive hoje uma disputa, onde os que eram privilegiados olham a chegada da população de baixa renda como uma ameaça aos seus privilégios. "A disputa por uma vaga na universidade representa essa disputa que a sociedade vive hoje", assinalou. "Essa é quinta vez que vejo o filme. Para mim, o que é mais revelador está relacionado às duas mulheres nordestinas, que vieram para o sul deixando seus filhos com parentes, para cumprir trajetórias completamente diferentes. Uma naquela condição de retirante e a menina Jessica vindo para se colocar fora do lugar. O que desestrutura e incomoda a família é que ela está fora da ordem e chega para quebrar aquela ordem que existia. O que eu acho mais importante no filme é que a Jessica não é uma história única e diferente. Certamente nós temos um monte de Jessicas aqui. Todos os dias a gente vê jovens do Bolsa Família, filhos de mulheres do Bolsa Família, jovens de baixa renda que chegaram à universidade. Nós não temos apenas centenas de Jessicas, temos Jessicas passando em primeiro lugar para Medicina, como aconteceu agora no Ceará. Creio que isso é o mais forte hoje no processo de transformação que está em curso no Brasil".

Carina Vitral: "Há muito tempo que o movimento estudantil tem consciência que a universidade é um espaço estratégico e que o povo precisa estar dentro dela". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Carina Vitral: "Há muito tempo que o movimento estudantil tem consciência que a universidade é um espaço estratégico e que o povo precisa estar dentro dela". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

A presidenta da União Nacional de Estudantes (UNE), Carina Vitral, destacou que o filme tem um significado histórico para o movimento estudantil brasileiro que luta, há décadas pela democratização da universidade. "A UNE está completando 80 anos este ano e, desde que ela foi fundada, a principal pauta do movimento estudantil sempre foi a democratização da universidade. A universidade é um instrumento de poder ideológico muito forte. Há muito tempo que o movimento estudantil tem consciência que a universidade é um espaço estratégico e que o povo precisa estar dentro dela". E, às veze, conforme lembrou Anna Muylaert, a universidade é mais inacessível do que a piscina da casa da família onde Val trabalha.

"Que horas ela volta?", disse ainda a presidente da UNE, é um alento para todos os que lutam. "O filme mostra que a nossa luta está transformando o Brasil. Essa mudança está apenas começando, mas estamos conseguindo mudar a nossa realidade e isso é mostrado no filme com muita doçura, beleza e bom humor. Na minha visão, ele mostra também esses dois Brasis que ainda convivem e que tem uma marca geracional muito forte. Há o Brasil de ontem, representado pela Val, que é um país de muita exclusão social e desigualdade, e o Brasil da Jéssica, que é um novo país representado por uma jovem mulher nordestina de cabeça erguida. Esse novo Brasil é representado pela fala da Jessica que diz: eu não me considero melhor do que ninguém, mas também não me considero pior do que ninguém".

Xica da Silva: "O filme coloca o bode na sala e cutuca todo mundo. Ele incomoda, mas é um incomodamento bom". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Xica da Silva: "O filme coloca o bode na sala e cutuca todo mundo. Ele incomoda, mas é um incomodamento bom". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Mediadora do debate, Xica da Silva, coordenadora nacional do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, ficou emocionada com a cena na qual Val presenteia a patroa com um jogo de xícaras e com o desprezo como Bárbara tratou o presente. "A minha patroa fez aniversário e eu dei de presente a ela um jogo de copos lindo. Paguei um dinheirão na época. Ela disse que iríamos guardar os copos para um dia especial. Mas eles acabaram sendo usados pelas empregadas da casa mesmo. Eu olhava para aqueles copos com tanta tristeza. Eles não usavam os copos nem para tomar água na cozinha. Eu me emocionei muito porque a minha vinda aqui não estava nada planejada, foi de última hora".

Xica da Silva começou a trabalhar como babá aos 12 anos de idade, sofreu assédio sexual do patrão, foi vítima de violência doméstica e cárcere privado por parte de seu ex-companheiro, mas deu a volta por cima, separou-se e hoje é chefe de cozinha formado pelo Serviço Nacional do Comércio (Senac). Para ela, o filme coloca o bode na sala e cutuca todo mundo. "Ele incomoda, mas é um incomodamento bom. Eu mudei a minha maneira de pensar depois que eu vi o filme. E, a cada vez que vejo de novo, descubro uma nova abordagem, uma nova reflexão. É um filme que provoca reflexões de vários ângulos e para o bem. Para mim, de ensino fundamental incompleto, formada na faculdade da vida, é um filme que mostra como as coisas são e a realidade que está caminhando para o futuro".

Foto: Guilherme Santos/Sul21

Foto: Guilherme Santos/Sul21

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz