por jpereira — Última modificação 07/03/2007 18:18
Para grande parte das mulheres, a participação no 8 de Março é a primeira experiência em algum movimento
Débora Dias, 07/03/2006, de Fortaleza (CE)
Tecelãs e costureiras ganham as ruas por pão e paz na Rússia de 1917. Feministas buscam igualdade, direito ao prazer e de decidir sobre o próprio corpo na década de 1960. Camponesas ocupam a empresa Aracruz, em defesa do meio ambiente, contra o desemprego, êxodo rural e a concentração fundiária no Brasil em 2006. O Dia Internacional da Mulher transforma-se em marco de conquistas e reivindicações construídas ao longo da história. Tempo de memória das que revolucionaram a política, a estética, os costumes e defenderam a liberdade na arte, na imprensa ou nas fábricas. Em meio às diferenças e interesses específicos, a data unifica urbanas, rurais, lésbicas, negras, intelectuais...
Controvérsias sobre as origens da comemoração à parte, a professora titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, Joana Maria Pedro, ressalta: mais importante é como o movimento de mulheres se apropriou do Dia, oficialmente criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975. Naquele ano, o direito de manifestação pública era legitimado pelo organismo internacional. "Esse respaldo foi importante em um momento de ditadura no Brasil, quando se realizar manifestações era algo complicado", observa Joana.
O momento é de visibilidade e legitimação. Durante pesquisas com camponesas cearenses, Dolores observou que essa é uma oportunidade de muitas saírem do espaço privado para o público e se iniciarem na agenda de discussões políticas. Nas passeatas organizadas na sede dos municípios, aquelas que ficam na zona rural ganham as ruas, se fazem vistas. "É um espaço legítimo. Quando elas passam por essa experiência, geralmente, não tem retorno".
Resistência
A opressão se torna impulso para a reação das mulheres em diferentes tempos. Seja nas fábricas do século XIX por redução da jornada de trabalho ou nos campos brasileiros contra o latifúndio, o avanço do agronegócio, o cultivo de produtos transgênicos. Em terrenos difíceis, elas levantam bandeiras pelo direito ao voto, contra a pobreza, em oposição à ordem estabelecida. Rompem as convenções.
Um desafio duplo para as socialistas que lançaram as sementes das transformações políticas e pela libertação feminina em ambientes tradicionalmente masculinos. Encontram resistência no mundo de fora e entre os próprios companheiros. "Para muitos comunistas, a luta feminista só atrapalhava a luta geral do proletariado. Tirava forças da luta principal", aponta o escritor Vito Giannotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação. Partido e sindicato, ele lembra, eram "coisas de homem".
Mesmo em terreno desfavorável, ainda no fim do século XIX, mulheres, como Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontaï e Clara Zetkin, deixam marca na organização feminina e nas forças revolucionárias. Divórcio, aborto, libertação econômica e emancipação sexual são temas lançados em meio ao conservadorismo, inclusive dos socialistas. Elas ousavam nos estudos teóricos, na militância política, sem perder a perspectiva subjetiva das relações humanas. Como ensina o ideal de Rosa em "viver cada momento da vida em humana plenitude".
Para grande parte das mulheres, a participação no 8 de Março é a primeira experiência em algum movimento
Débora Dias, 07/03/2006, de Fortaleza (CE)
Tecelãs e costureiras ganham as ruas por pão e paz na Rússia de 1917. Feministas buscam igualdade, direito ao prazer e de decidir sobre o próprio corpo na década de 1960. Camponesas ocupam a empresa Aracruz, em defesa do meio ambiente, contra o desemprego, êxodo rural e a concentração fundiária no Brasil em 2006. O Dia Internacional da Mulher transforma-se em marco de conquistas e reivindicações construídas ao longo da história. Tempo de memória das que revolucionaram a política, a estética, os costumes e defenderam a liberdade na arte, na imprensa ou nas fábricas. Em meio às diferenças e interesses específicos, a data unifica urbanas, rurais, lésbicas, negras, intelectuais...
Controvérsias sobre as origens da comemoração à parte, a professora titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, Joana Maria Pedro, ressalta: mais importante é como o movimento de mulheres se apropriou do Dia, oficialmente criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975. Naquele ano, o direito de manifestação pública era legitimado pelo organismo internacional. "Esse respaldo foi importante em um momento de ditadura no Brasil, quando se realizar manifestações era algo complicado", observa Joana.
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A simbologia desse dia ganha força, ao mesmo tempo em que fortalece as lutas. De acordo com a socióloga Maria Dolores Mota, grande parte das mulheres, da área urbana e rural, participa pela primeira vez de algum movimento durante o 8 de Março. "É uma data inaugural, tem efeito mobilizador e reconstrutor de histórias individuais e coletivas", acrescenta ela, que é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família (Negif) e professora do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O momento é de visibilidade e legitimação. Durante pesquisas com camponesas cearenses, Dolores observou que essa é uma oportunidade de muitas saírem do espaço privado para o público e se iniciarem na agenda de discussões políticas. Nas passeatas organizadas na sede dos municípios, aquelas que ficam na zona rural ganham as ruas, se fazem vistas. "É um espaço legítimo. Quando elas passam por essa experiência, geralmente, não tem retorno".
Resistência
A opressão se torna impulso para a reação das mulheres em diferentes tempos. Seja nas fábricas do século XIX por redução da jornada de trabalho ou nos campos brasileiros contra o latifúndio, o avanço do agronegócio, o cultivo de produtos transgênicos. Em terrenos difíceis, elas levantam bandeiras pelo direito ao voto, contra a pobreza, em oposição à ordem estabelecida. Rompem as convenções.
Um desafio duplo para as socialistas que lançaram as sementes das transformações políticas e pela libertação feminina em ambientes tradicionalmente masculinos. Encontram resistência no mundo de fora e entre os próprios companheiros. "Para muitos comunistas, a luta feminista só atrapalhava a luta geral do proletariado. Tirava forças da luta principal", aponta o escritor Vito Giannotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação. Partido e sindicato, ele lembra, eram "coisas de homem".
Mesmo em terreno desfavorável, ainda no fim do século XIX, mulheres, como Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontaï e Clara Zetkin, deixam marca na organização feminina e nas forças revolucionárias. Divórcio, aborto, libertação econômica e emancipação sexual são temas lançados em meio ao conservadorismo, inclusive dos socialistas. Elas ousavam nos estudos teóricos, na militância política, sem perder a perspectiva subjetiva das relações humanas. Como ensina o ideal de Rosa em "viver cada momento da vida em humana plenitude".
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