E a coragem...
"É muito fácil servir à Palavra sem perturbar o mundo: uma palavra muito espiritualizada, uma palavra sem nenhum compromisso com a história, uma palavra capaz de ressoar em qualquer parte da Terra porque não pertence a nenhuma parte do mundo. Uma palavra assim não cria nenhum problema, não dá origem a nenhum problema. O que causa conflito e a perseguição, o que distingue a Igreja genuína, é a Palavra que, ao arder como a Palavra dos profetas, proclama e acusa (...) esse é o árduo serviço da Palavra. Mas o Espírito de Deus acompanha o profeta, o pregador, porque ele é Cristo, que continua a proclamar o seu Reino para as pessoas de todas as épocas." Óscar Arnulfo Romero
Em texto anterior (Não chora, menina.), afirmamos que a Escola de Formação, Fé, Política e Trabalho da Diocese de Caxias do Sul (EFFPT) estava sendo forçada a parar e ainda não tínhamos oficialmente a informação nem os motivos desta decisão.
Sendo assim, a partir de nossas condições, buscamos um encontro com nosso coordenador de pastoral padre Leonardo Pereira e posteriormente em 23 de dezembro de 2022 com nosso bispo D. José Gislon para entendermos melhor sobre esta determinação, bem como tentar demovê-lo.
Nesta reunião foi dito que em função da diminuta participação de inscritos e do clima de conflito vivido pela nossa sociedade decidiram "pausar" a escola em 2023 para melhor analisar e organizar e retomá-la, talvez, em 2024.
A título de exemplo, mas guardadas as devidas e necessárias proporções interpretaríamos como se diante da descoberta de alguns poucos padres pedófilos e do desleixo com as finanças paroquiais decidissem, em pleno Ano Vocacional, proibir qualquer oração e ação que despertasse a vocação sacerdotal na Diocese.
Evidentemente estas justificativas, no nosso entender, não se sustentam, uma vez que somente com organização, esclarecimentos, conhecimentos poderemos sanar estes conflitos, uma vez que o "campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim com as esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a Igreja se faz presente somente por eles." (Documento de Aparecida 174).
Acreditamos firmemente que usamos de todos os argumentos possíveis para manter a EFFPT, mas não obtivemos uma resposta positiva por parte da Diocese, e desta forma corremos o risco de trancar a sete chaves a "aplicação criativa do rico patrimônio que contém a Doutrina Social da Igreja (DA 100 e).
Talvez por querer evitar as discussões mais aprofundadas do mundo atual no dizer do padre Alfredo Gonçalves acaba-se por optar em'navegar nas ondas aparentes dos modismos apresentados pela mídia católica, quase que inteiramente descompromissada com o aspecto social, para evitar mergulhos mais profundos na realidade dura, fragmentada emutilada da população. "
Pedimos então que fizessem um comunicado público envolvendo também nosso parceiro desde sempre que é o Instituto HumanitasUnisinos (IHU) já que o convite para a participação nesta Escola partiu de forma oficial da Diocese. Comunicado este que até o presente momento não aconteceu e é por isso que tornamos público este texto.
De parte da EFFPT estamos em contato com os assessores previamente agendados e comunicando os fatos ocorridos e que neste ano de 2023 a Escola não acontecerá de forma que vinha ocorrendo tradicionalmente. "Quanto mais dignos forem os propósitos a cumprir, mais ridículos parecem os propósitos não cumpridos. " (Mário Benedetti).
O papa Francisco exorta "nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna " e nos lembra que o "cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar." (EG 116)
Nos parece que estas palavras não têm encontrado eco junto as pessoas com poder decisório.
O futuro? Ainda não temos as certezas, as luzes que o momento exige, mas estamos discutindo, avaliando junto aos diversos movimentos, pastorais, associações qual a melhor forma de manter viva esta chama afinal de contas o "cristianismo exige que Jesus seja conhecido por meio de sua vida narrada e testemunhada nos Evangelhos. Somente através desse conhecimento poderemos também crer nele a ponto de amá-lo, a ponto de confessá-lo como "Senhor", "filho de Deus", "Salvador", e assim chegar à fé em Deus, ao conhecimento do Deus vivo e verdadeiro. É por isso que acredito ser um grave risco "deificar" Jesus antes de conhecer a concreta existência humana. " Enzo Bianchi
José Antonio Somensi (Zeca)
(Aluno da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho desde 2005)
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