No próximo domingo, os brasileiros terão a oportunidade de derrotar nas urnas o golpe que começou a ser gestado logo após as eleições de 2014. Dilma Rousseff venceu no voto, mas não levou. Aproveitando-se da instabilidade semeada pela Lava Jato, Dilma teve o governo sistematicamente sabotado, com o apoio de um expressivo grupo de parlamentares fisiológicos. A mídia, por sua vez, não hesitou em apoiar o impeachment fraudulento de uma presidente honesta, com base na esfarrapada justificativa das pedaladas fiscais – que jamais configurou crime, como reconheceu mais tarde o ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Em meio aos protestos pela queda de Dilma, havia todo tipo de gente. Muitos, insatisfeitos com a crise, não percebiam que ela era agudizada pela sabotagem do Congresso ou pela irresponsável atuação da chamada República de Curitiba, que, sob o pretexto de combater a corrupção na Petrobras, arrastou gigantes da construção civil e do setor de óleo e gás para a bancarrota. Além dos iludidos, havia também aqueles que ocuparam as ruas para manifestar saudosismo pela ditadura. Eram os que clamavam por uma "intervenção militar constitucional", eufemismo para golpe armado, e seguiam trios elétricos para cultuar seu "Mito" - um histriônico e irrelevante deputado que aprovou dois projetos ao longo de 27 anos e dedicou seu voto pelo impeachment de Dilma ao torturador Carlos Brilhante Ustra. A despeito da farsa lavajatista, Lula liderava todas as pesquisas de intenção de voto para a Presidência em 2018 até ser preso, sem provas. Na verdade, seguiu na dianteira das sondagens mesmo encarcerado. Não fosse a consumação desse segundo golpe, dificilmente Jair Bolsonaro teria chegado ao poder. Ele próprio reconheceu isso e, em retribuição, nomeou o ex-juiz Sergio Moro como ministro da Justiça. Bolsonaro não cumpriu a promessa de erradicar a corrupção. Ao contrário, seu governo se notabilizou pela rapinagem até na compra de vacinas, sem mencionar as propinas em barras de ouro cobradas por pastores lobistas. Cumpriu, porém, outras tantas juras que a mídia, ao fazer "uma escolha difícil" em 2018, dizia ser apenas conversa fiada para a militância. Assim, converteu o seu governo em um reduto de fanáticos religiosos e generais incompetentes, incapazes de evitar a falta de oxigênio em Manaus mesmo recebendo alertas com 10 dias de antecedência e de entregar remessas de vacinas no endereço correto. Ao cabo, o Brasil concentrou mais de 10% das mortes por Covid-19 no mundo, embora represente apenas 2,7% da população mundial. O País retornou, ainda, ao vergonhoso Mapa da Fome da ONU. Em muitos momentos, o povo permaneceu passivo diante dos ataques aos seus direitos e à própria democracia. Demonstra, porém, estar disposto a derrotar o golpe nas urnas, dando ampla vantagem a Lula nas pesquisas. Na prática, o ex-presidente tem grandes chances de vencer no primeiro turno. Eis a oportunidade histórica reservada aos brasileiros em 2 de outubro. |