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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

5.4.20

Fim de um mundo (por Manuel Castells)

Fim de um mundo
por Manuel Castells

Publicado em: abril 4, 2020

Manuel Castells (*)

A equipe de gestão da crise sanitária nomeada por Trump elabora, como outros países, modelos para prever a evolução da epidemia. Segundo suas projeções, se não se fizesse nada (ou seja, se fosse seguida a opinião do presidente há cerca de um mês), poderia haver algo entre 1,6 milhões e 2,2 milhões de mortos por Covid-19 nos Estados Unidos. Para ter uma ideia da magnitude desses números basta comparar com os 400 mil soldados norte-americanos que morreram na atroz Segunda Guerra Mundial. No entanto, com medidas de confinamento estrito nos próximos 30 dias, acreditam que poderão reduzir essas mortes a algo entre 100 mil e 200 mil pessoas nos próximos meses. Claro que esperam rebaixar a cifra, mas ainda em seu nível mais baixo, com dezenas de milhões de contagiados, os Estados Unidos aparecem agora como o epicentro da epidemia.

As conseqüências humanas são horríveis. Mas, além disso, as conseqüências econômicas e sociais desta tragédia alcançarão o conjunto de um planeta globalizado cujo centro segue sendo os Estados Unidos. Por que, de repente, ocorreu essa evolução catastrófica da epidemia que estava localizada na China e na Coréia? Pela mesma razão pela qual a epidemia se tornou pandemia: nossa interconexão global, o tráfego constante de pessoas e mercadorias entre todos os países, com muitos destes intercâmbios tendo por origem e destino as grandes metrópoles norte-americanas. Além disso, no interior dos Estados Unidos milhões de passageiros circulam diariamente em aviões que formam a mais densa rede de tráfego aéreo do planeta. Não há trens, os ônibus são para os pobres e as viagens de longa distância em automóveis se limitam aos períodos de férias. E os aviões são um meio patógeno para toda classe de vírus e também para este. A Babel do século XXI, em suas múltiplas megalópoles é, paradoxalmente, o território mais vulnerável do planeta. Ainda que veremos em seguida o que vai ocorrer na África, América Latina e Índia.

Mas há mais elementos importantes neste cenário: o péssimo sistema de saúde pública estadunidense, com milhões de pessoas sem cobertura, no qual coexistem a melhor tecnologia médica do mundo (para aqueles que podem pagar) com uma medíocre medicina semi-pública, onde os hospitais cobravam, até bem pouco tempo, 3 mil dólares por um teste de coronavírus. Também influi o desleixo dos responsáveis políticos, incapazes de reagir a tempo, desdenhando as advertências que chegavam da China. Diziam: aqui não é a China. Isso é verdade, mas o vírus não sabe disso. Trump se referia a ele como o "vírus chinês". Agora virou uma questão de vida ou morte para o seu país. E é isso de fato. Da diferentes atitudes de responsáveis regionais resultam grandes diferenças na expansão do contágio. A Califórnia e o estado de Washington, com governadores democratas progressistas, adotaram medidas de confinamento há um mês. As escolas e universidades fecharam e adotaram o ensino online. Eventos desportivos e espetáculos foram suspensos.

Enfim, fizeram o que fizemos em nosso país gradualmente. Nova York e sua área metropolitana foram os mais lentos em reagir. Além disso, é o principal nó dos fluxos globais que convergem nos Estados Unidos. Nova York se converteu na Wuhan dos Estados Unidos. Mas que ninguém tenha a ideia de pedir o confinamento territorial. Cada estado da União tem autonomia quase total para aplicar suas próprias medidas. E como o vírus não conhece fronteiras vai se expandindo sem obstáculos, contagiando outras áreas metropolitanas, porque a estrutura espacial funciona por relações inter-metropolitanas, não por contiguidade territorial. Em uma situação de extrema emergência, o governo federal poderia impor uma política centralizada, mas é improvável. Ao invés disso, estados e municípios suplicam ao governo ajuda financeira, militar ou de equipamentos. Trump ordenou às fábricas de automóveis que passassem a fabricar respiradores, tão escassos como no resto do mundo, mas no momento se pratica uma política seletiva nos hospitais, reservando-os aos que se podem salvar e transferindo-os para distintas regiões conforme a morte se desloca. Enquanto isso, a ciência trabalha para encontrar remédios e uma vacina. Mas ainda está longe.

O colapso sanitário se estende à economia. E, daí, à economia mundial, à produção dependente de cadeias globais de produção, ao consumo, com demanda decrescente pelo confinamento e pelo medo do futuro, aos investimentos, apesar da taxa de juro de 0% do Federal Reserve (o Banco Central norte-americano), porque a incerteza é absoluta, e aos mercados de commodities, com preços despencando, sobretudo do petróleo, porque Rússia e Arábia Saudita escolheram esse momento para um duelo suicida entre quem pratica o preço mais baixo. Isso seria bom para nós, se pudéssemos viajar.

A OCDE estima que, nos países desenvolvidos, cada mês de confinamento reduz o crescimento do PIB em dois pontos. Calculem. Entramos, sem dúvida alguma, em uma profunda e larga recessão mundial que se converterá em uma crise financeira pior que a de 2008 porque as empresas voltaram a se endividar pensando que de novo tudo era brincadeira. Em meio a tudo isso, e apesar de tudo, a China deteve a expansão do vírus (que segue à espreita todavia) e ainda vai conseguir crescer 2%, indicando uma mudança fundamental da hegemonia mundial. Não é o fim do mundo. Mas é o fim de um mundo. Do mundo no qual estávamos vivendo até agora.

(*) Doutor em sociologia pela Universidade de Paris, é professor nas áreas de sociologia, comunicação e planejamento urbano e regional e pesquisador dos efeitos da informação sobre a economia, a cultura e a sociedade. Artigo publicado originalmente em La Vanguardia.

Tradução: Marco Weissheimer

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https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2020/04/fim-de-um-mundo-por-manuel-castells/  

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz