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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

27.10.24

Boletim Internacional: Uruguai vai às urnas com chance de volta da esquerda ao poder



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Yamandú Orsi e Álvaro Delgado. Fotos: Eitan ABRAMOVICH / AFP

Uruguai vai às urnas com chance de volta da esquerda ao poder

O primeiro turno da eleição presidencial e a votação de plebiscito acontecem no próximo domingo 27

por André Lucena

Enquanto os países ocidentais sentem na pele os riscos do desmonte das instituições democráticas – basta observar os casos de Brasil e Estados Unidos, com as passagens de Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump pelo poder -, o quase sempre tranquilo Uruguai parece olhar o fenômeno como se fosse imune a ele.


É com esse típico clima ameno que os uruguaios vão às urnas no próximo domingo, dia 27, para definir o seu próximo presidente.


Já no passado recente, as mudanças de eixo no poder – da centro-direita para a centro-esquerda, e vice-versa – não representaram, necessariamente, transformações profundas nas bases sociais e políticas do Uruguai. Pelo contrário: a continuidade em certas políticas, apesar das mudanças naturais no poder, é uma marca do país vizinho.


Isso não acontece por acaso. Tradicionalmente, o país de cerca de 3,5 milhões de habitantes costuma ser visto como um bastião democrático na América Latina. Índices democráticos usados como referência para a literatura – como os da revista The Economist e os da organização Latinobarómetro – costumam apontar o Uruguai como a democracia mais sólida da região.


No pleito deste ano, a esquerda uruguaia poderá voltar ao poder. É isso, pelo menos, o que apontam as principais pesquisas de intenção de voto no país vizinho. O principal nome do campo ideológico é o de Yamandú Orsi, ex-prefeito da pequena cidade de Canelones, que é apoiado pelo ex-presidente José Mujica [2010-2015].


Mujica, aos 89 anos e se recuperando de um tratamento contra o câncer, chegou a fazer uma participação em um ato de campanha, nesta semana, em Montevidéu. Bastante emocional, o ex-presidente fez um discurso em tom de despedida da vida política, dizendo que "os melhores dirigentes são aqueles que deixam um grupo que os supera com vantagem", em referência a Orsi.


Orsi lidera uma corrida que poderá terminar no próximo domingo, mas, caso vá para o segundo turno, a união de forças de centro-direita do país pode atrapalhar os seus planos. Algo, aliás, semelhante ao que aconteceu no pleito de 2019, que elegeu Luis Lacalle Pou como novo presidente.


Lacalle Pou não pode se candidatar ao cargo, uma vez que, no Uruguai, os mandatos presidenciais duram cinco anos e não há reeleição. Neste ano, o atual mandatário apoia o seu ex-secretário da Presidência, Álvaro Delgado.


Em caso de eventual segundo turno entre Delgado e Orsi, o destino dos votos de um outro candidato poderá ser importante para definir o pleito: os do ultraliberal Andrés Ojeda, que tem pouco mais de 10% das preferências. Caso seja necessário, o segundo turno está marcado para o próximo dia 24 de novembro.


Reforma da Previdência


Não é o caso de dizer que a votação do próximo domingo deverá tratar de um tema tão ou mais importante do que o próximo presidente, mas, certamente, os uruguaios terão que lidar com um assunto de primeira ordem: a aceitação ou não de uma proposta de reforma da Previdência.


A ideia foi colocada na mesa pela principal central sindical do Uruguai, a PIT-CNT. Por isso, a próxima votação eleitoral também virá com a votação de um plebiscito sobre a reforma.


Basicamente, o texto propõe três mudanças centrais. A primeira é fazer com que a idade mínima para a aposentadoria no país vizinho seja de 60 anos, reduzindo a idade mínima atual, que é de 65 anos.


A segunda é fazer coincidir o valor mínimo da aposentadoria ao salário mínimo, o que ainda não é uma realidade por lá. O mínimo no Uruguai é de 22,2 mil pesos mensais - cerca de 583 dólares, atualmente.


A terceira é pôr fim aos fundos privados de Previdência, que, no Uruguai, complementam o sistema público. No país, eles são conhecidos como Afaps e administram as aposentadorias de cerca de 1,6 milhão de trabalhadores.


A proposta é uma resposta, ainda que tardia, à reforma da Previdência aprovada no ano passado, quando, por exemplo, a idade mínima subiu de 60 para 65 anos.


Que Lacalle Pou seja contra a proposta atual - ele diz que "o que se propõe é perigoso" e faria "o sistema ser insustentável" - não é nenhuma grande surpresa, mas o grande debate sobre o tema está sendo tratado no amplo bloco de centro-esquerda uruguaio, conhecido como Frente Ampla.


O grupo até concorda com a necessidade de se reformar o sistema, mas não há consenso sobre como isso pode ser feito. Mesmo líderes históricos como Mujica reconhecem que o fato de o Uruguai ter a população mais velha do continente exige ajustes no sistema. E que, na prática, a aprovação da reforma proposta exigiria uma outra reforma no futuro breve, o que seria inviável.


O Uruguai tem uma expectativa de vida de 78,1 anos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Já há alguns anos, a população do país deixou de crescer, algo que deve acontecer no Brasil apenas em algumas décadas. Nessa marcha, os custos previdenciários crescem e deverão seguir crescendo.


A campanha de Yamandú Orsi, por exemplo, tem evitado tratar da proposta. Mas as forças do país movimentam a campanha, tentando fazer com que ela seja conhecida pela população. Segundo as principais pesquisas do Uruguai, cerca de um terço dos eleitores desconhece a proposta de reforma.


Em meio a tudo isso, os levantamentos também mostram a baixa probabilidade de que a reforma seja aprovada. Para isso, ela precisa ter, pelo menos, 50% dos votos. Mas, pelas pesquisas, o apoio gira na casa dos 30%.


Tudo passará, pelo menos até o próximo final de semana, pela capacidade de convencimento dos grupos favoráveis à reforma. Apesar da serenidade e da pouca afeição a grandes arroubos, mudanças de última hora podem acontecer no Uruguai.

Enviado por CartaCapital

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Quem deu as armas para o massacre de Novo Hamburgo?


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De: Intercept Brasil <newsletter.brasil@emails.theintercept.com>
Date: sáb., 26 de out. de 2024, 09:38
Subject: Quem deu as armas para o massacre de Novo Hamburgo?
To: <mfmseibel@gmail.com>


Sábado, 26 de outubro de 2024

Quem deu as armas para o massacre de Novo Hamburgo?

Ele matou a família e dois policiais. Mas a bancada da bala fez silêncio.

O policial militar Éverton Kirsch Júnior, de 31 anos, saiu para trabalhar na terça-feira, 22 de outubro, para não voltar nunca mais.


O soldado da Brigada Militar – como é chamada a PM no Rio Grande do Sul –  foi chamado para atender uma ocorrência à noite. Um casal de idosos no bairro de Ouro Branco, em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, pediu ajuda da polícia: o filho deles, Edson Fernando Crippa, de 45 anos, mantinha os dois reféns.


A descrição da cena, feita por vizinhos, é aterrorizante: Edson Crippa, caminhoneiro, participava de uma reunião familiar – na sexta-feira, seria aniversário de sua mãe. Na casa, além dos pais, também estava o irmão de Edson, Everton, e sua cunhada. Após uma discussão, a polícia foi chamada.


Edson Crippa começou a atirar. Foram cerca de 300 disparos de pistolas calibre 9mm e .380. Crippa atirou em todo mundo ao redor: pais, irmão, cunhada, policiais. O pai e o irmão morreram ali mesmo. A mãe e a cunhada ficaram feridas.


Crippa também atingiu nove pessoas – sete deles, policiais. Éverton Kirsch Júnior morreu no local. Deixou a mulher e um filho de 45 dias, que nunca teve a chance de criar memórias com o pai.


Crippa respondia a todas as tentativas de negociação da polícia com tiros. Atirando, também derrubou dois drones que tentaram se aproximar. Depois de horas de confronto, acabou morto pela polícia. Dentro de sua casa, ainda havia 300 munições intactas.


Edson Crippa era um CAC: tinha, desde 2020, registro como Caçador, Atirador e Colecionador. Em casa, tinha quatro armas em seu nome, todas absolutamente legais.


A depender da categoria, um CAC pode ter entre quatro a 16 armas e comprar entre quatro e 20 mil munições. Isso, vale lembrar, depois da mudança no governo Lula, que restringiu a liberação de Bolsonaro – antes, CACs podiam ter até 60 armas, dependendo da categoria, comprar até 180 mil munições por ano, inclusive armas de uso restrito, como a 9mm usada por Crippa.


Esse tipo de arma era de uso restrito, foi liberado para a população civil e voltou a ser restrito em 2023.


Para conseguir o porte de arma, a legislação brasileira exige que o cidadão passe por uma avaliação psicológica, com laudo de aptidão mental. Edson Crippa tinha histórico de esquizofrenia – ele chegou a ser internado quatro vezes –, mas isso não o impediu de ter o registro de CAC.


Também havia contra ele um boletim de ocorrência por ameaça, o que deveria ser outro impedimento. O MPF está investigando por que o homem conseguiu a licença mesmo com esse histórico.


A avaliação de saúde mental ocorre no momento de registro ou renovação da licença, ou seja, a cada dois anos. Houve tentativa de aumentar este prazo para 10 anos, mas o Conselho Federal de Psicologia se empenhou contra isso – e entendemos por quê.


É preciso dizer claramente: o massacre de Novo Hamburgo foi causado pela flexibilização nas regras para porte de armas, que não foi acompanhada de um sistema decente de fiscalização.


Em 2022, eram 783 mil registros ativos de CACs no Brasil – um crescimento de 665% desde 2018, impulsionado pelos decretos de Michel Temer e Jair Bolsonaro que afrouxaram as regras.


Além do Exército já ter demonstrado que não fiscaliza adequadamente esse setor – você pode ter uma ideia do problema nesta e nesta reportagem que já publicamos –, o massacre de Novo Hamburgo também evidencia que não há controle sobre quem são efetivamente as pessoas que têm registros de CACs.

O resultado? Aumento no número de crimes cometidos por essas pessoas. Como exemplo, vou deixar esse levantamento feito no Distrito Federal: de 2019 a 2024, o registro de crimes cometidos por CACs aumentou 1.000%.


A maioria dos crimes eram violências enquadradas pela lei Maria da Penha – ou seja, crimes cometidos contra mulheres, familiares, dentro de casa. Nós cantamos essa bola.


Prestem atenção no que disse uma das vítimas no DF: "Ele [atirador] era completamente descontrolado emocionalmente, descontrolado psicologicamente. E nessa autorização ele pedia a posse da arma para defender a família dele. Mas, com essa mesma arma, ele acabou com toda a família".


Edson Crippa matou sua família e dois policiais. Feriu outros vários. Onde estão os defensores da flexibilização de porte de armas depois dessa tragédia? Fomos checar em seus perfis no X.


Dos três mais estridentes da bancada da bala, só o deputado Sanderson manifestou "luto" pela morte do policial militar Éverton Kirsch Júnior – sem mencionar que o atirador era um CAC. Seus colegas de PL, Paulo Bilynskyj, de São Paulo, e Alberto Fraga, do DF – o relator do projeto que facilitou a posse de armas –, nem mesmo lamentaram a morte do colega de farda.

Entenda melhor

Novo no Intercept


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz