Páginas
▼
1.7.08
O governo Yeda lembra o governo Lerner
30.06.08 - BRASIL
Cesar Sanson *
Adital -
Corrupto, anti-movimento social e anti-ambientalista foram características que marcaram o governo Jaime Lerner no Paraná. As mesmas que hoje identificam o governo de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. O paralelo é traçado por Cesar Sanson, pesquisador do Cepat. "O desfecho de Lerner no Paraná talvez possa servir de alento aos movimentos sociais no Rio Grande do Sul", destaca.
Eis o artigo.
Os acontecimentos dos últimos meses no Rio Grande do Sul lembram muito o governo Lerner no Paraná. A corrupção endêmica, o Estado sendo utilizado como instrumento dos interesses do capital privado e a perseguição ao movimento social marcaram a ‘Era Lerner’ como ficou conhecido o período - 1994 a 2002 - em que o ex-governador do PFL governou o Estado.
Para os movimentos sociais foi um período de triste memória. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná foi implacavelmente perseguido. Despejos violentos na madrugada onde crianças eram separadas dos pais, prisões arbitrárias, torturas contra militantes do MST se tornaram praticas comuns à época. Os ‘grupos de elite’ do braço armado do Estado do Paraná, como o COPE, Águia, GOE, todos da Polícia Militar, reprimiam violentamente os movimentos.
Durante a Era Lerner foram realizados mais de 130 despejos, foram presos mais de 470 trabalhadores(as) rurais. Em 1998 foram assassinados 8 trabalhadores em conflito no Estado, 2 em 1999 e 2 em 2000. Em 2001 foi assassinado o trabalhador rural assentado Antônio Tavares Pereira pela Polícia Militar do Estado quando se dirigia à capital para se somar a uma manifestação em protesto ao violento despejo contra o acampamento do MST no Centro Cívico. A morte de Antonio Tavares repercutiu internacionalmente e Lerner passou a ser chamado de o ‘arquiteto da violência’ numa referência a sua fama de urbanista e arquiteto.
Lerner, semelhante ao que sucede agora com Yeda Crusius, fez um pacto com o latifúndio e o agronegócio e contando com o aparelho judiciário, com as forças policiais e a ‘simpatia’ expressiva dos meios de comunicação do Estado tentou criminalizar e acabar com a luta pela reforma agrária no Paraná. Se hoje o Rio Grande do Sul tem o seu gendarme, o Coronel Mendes, no Paraná da ‘Era Lerner’ quem desempenhou esse papel foi o Major Waldir Copetti Neves, mais conhecido como Major Neves, que liderava pessoalmente à caça aos sem terras. Acusado de chefiar milícias armadas que trabalhavam como seguranças em fazendas da região dos Campos Gerais, foi colocado no limbo.
Mas não foram apenas os trabalhadores rurais que sofreram a violência do governo Lerner. Trabalhadores de outras categorias, em menor escala, também foram reprimidos como professores, caminhoneiros e servidores do Estado.
A corrupção é outro acontecimento que identifica o ex-governo Lerner com o governo Yeda. Lerner foi um governo corrupto e provocou estragos enormes aos cofres públicos. O caso mais grave, dentre muitos, foi a quebra do Banestado que foi levado a privatização em seu governo. O ex-governador chegou ainda a privatizar as rodovias estaduais, a Sanepar, a ferroeste e tentou privatizar a Copel que resistiu a privatização graças à mobilização do movimento social paranaense.
Porém, as semelhanças não param por aí. Assim como Yeda transformou o palácio do Piratini num balcão de negócios privilegiando as transnacionais, Lerner fez o mesmo com o palácio Iguaçu no Paraná. Em seu governo, transnacionais como as montadoras foram beneficiadas com recursos públicos. O Estado foi transformado em um instrumento e num facilitador dos interesses do capital privado.
Assim como o governo de Yeda é associado a um governo anti-ambiental, caiu por terra o mito do ecológico Lerner. O ex-governador atropelou a legislação ambiental do Estado ao permitir a instalação das multinacionais Renault e Audi/Volks na região dos mananciais que abastecem Curitiba e a Região Metropolitana.
Anti-ambientalista, anti-movimento social e corrupto foram características que marcaram o governo Lerner. As mesmas que hoje identificam o governo de Yeda Crusius.
A história, porém dá conta que Lerner passou e o movimento social resistiu. O ex-governador Lerner concluiu o seu mandato arrastando-se politicamente. Chafurdado em denúncias de corrupção, identificado como um governo anti-democrático, autoritário, violento e defensor dos interesses do grande capital, Lerner não sobreviveu politicamente. O ex-governador nem coragem teve de sair candidato ao Senado nas eleições de 2002, uma tradição na política paranaense. A avaliação é de que em função dos baixíssimos índices de popularidade não seria eleito.
O que aconteceu no Paraná com Lerner talvez possa servir de alento aos movimentos sociais no Rio Grande do Sul. Apesar da escalada de violência que o movimento social paranaense sofreu no governo Lerner, o mesmo resistiu e nunca se deixou intimidar e reagiu. Enfrentou os cassetetes e a bombas de efeito moral e politicamente venceu o atraso, a violência e o conservadorismo.
Nota: Ainda que hoje no Paraná o governador do Estado, Roberto Requião (PMDB), não criminalizar o movimento social, particularmente o MST, a violência contra as forças sociais e de esquerda não deu tréguas. Nos últimos meses dois trabalhadores rurais foram assassinados. O conservadorismo incrustado no aparelho do Estado, no judiciário, associado ao latifúndio atrasado, ao agronegócio e a imprensa conservadora procuram de forma sistemática desqualificar as lutas sociais. É função dessa conjuntura que foi criado no Estado o Comitê pela Cidadania e contra a Criminalização dos Movimentos Sociais.
* Pesquisador do CEPAT
Nenhum comentário:
Postar um comentário