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29.5.08

Olá, tudo bem?

Estamos em maio e tinha a intenção de escrever sobre o trabalho e o trabalhador, mas ando com umas atitudes estranhas ultimamente. Vejam vocês que agora estou me detendo na reação das pessoas quando as cumprimento com um bom dia, boa tarde, boa noite, olá e outras expressões de cordialidade. Muitas vezes reconhecemos o espanto de quem não é acostumado a ouvir estas expressões, principalmente de um “estranho”, outras vezes percebemos que as pessoas respondem apenas por educação (?), outras tantas vezes respondem como se fizessem um favor responder, enfim uma verdadeira chateação. Tem pessoas que respondem de maneira agradável (pouquíssimos), retribuindo com carinho e há aqueles que simplesmente nos ignoram. São pessoas que encontramos no ponto do ônibus, nas ruas do nosso bairro, na porta de nossa igreja, no trabalho. Arrisco-me a dizer que com este tipo de observação podemos entender melhor porque vivemos num mundo tão individualista e competitivo. Criamos uma redoma tamanha que um simples gesto de cordialidade já é visto como uma agressão, invasão de privacidade, quebra de uma rotina ou outros interesses com objetivo único de levar a melhor. Se olharmos para história a gente percebe que desde o homem das cavernas até os avanços científicos atuais só foi possível a sobrevivência humana diante das adversidades porque souberam enfrentar as dificuldades através de uma convivência em grupo. Com o passar do tempo, mais precisamente neste último século, cresceu a cultura da concorrência, da disputa, do individualismo consumista. Fomos lentamente “moldados” para agirmos como se fôssemos “pitbuls humanos” (guardadas as proporções) que tomam conta dos noticiários freqüentemente, ou seja, criou-se em nossa sociedade o desejo de agressão, raramente física, mas do querer a qualquer preço, se necessário atropelar o colega de trabalho, que deixou de ser colega e tornou-se concorrente, querer mostrar para o vizinho que “está podendo”, mostrar que estamos consumindo o que existe de mais moderno, melhor, mais caro. Estamos deixando as relações sociais e criando aquilo que os estudiosos chamam de tensões sociais. Como mudar esta situação? O que um cristão pode fazer? Como afirma o filósofo Álvaro Valls “vivemos uma economia centrada no lucro, na ganância, no aumento da riqueza e do poder e para combatê-la é preciso inspiração religiosa que aumente o espaço para o amor e mesmo com os “pecados” e desvios na história do cristianismo têm uma mensagem de convívio fraterno”. Encontramos isso na vida de Jesus Cristo “sereis meus discípulos se amardes uns aos outros” (Jo 13,35) de São Francisco de Assis com sua “infinita humanidade do irmão”, Irmãs Dulce, Teresa de Calcutá e várias pastorais que antes de serem apenas assistencialistas são portadoras de um desejo de um mundo melhor. Se nossa geração é acusada de criar condições para acabar com o planeta Terra não sei quantas vezes pode ser também a geração que iniciará um novo tempo, um tempo de cooperação capaz de frear este individualismo sem perder a individualidade, de mostrar através de nossas ações um Deus humano e que consegue dialogar com as religiões existentes sem o medo de “perder fiéis”. Gandhi dizia que a verdade de uma religião está na fragrância de espiritualidade, amor e paz que emana de seus seguidores. Que saibamos ser esta fragrância capaz de vencer esta lógica do mercado através de nossa hospitalidade, acolhida, solidariedade e respeito às diferenças como bem nos lembra a Carta do 1º Fórum da Igreja Católica do Rio Grande do Sul ao afirmar que devemos transformar a lógica competitiva e excludente do sistema em práticas de solidariedade e inclusão. Podemos tentar fazendo algo sem muita dificuldade. Que tal começarmos com um olá, tudo bem? José Antonio Somensi (Zeca)

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