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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

14.10.14

Eleições à luz da história antipovo

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Eleições à luz da história antipovo

Por Leonardo Boff, em seu blog:

Nada melhor do que ler as atuais eleições à luz da história brasileira na tensão entre as elites e o povo. Valho-me da uma contribuição de um sério historiador com formação em Roma, em Lovaina e na USP de São Paulo o Pe. José Oscar Beozzo, uma das inteligências mais brilhantes de nosso clero.

Diz Beozzo: "a questão de fundo em nossa sociedade é a do direito dos pequenos à vida sempre ameaçada pela abissal desigualdade de acesso aos meios de vida e pelas exíguas oportunidades abertas às grandes maiorias do andar debaixo.

Como nos ensina Caio Prado Júnior, nossa sociedade desigual repousa sobre quatro pilares difíceis de serem movidos: a) a grande propriedade da terra concentrada nas mãos de poucos de tal modo que não haja terra "livre" e "disponível" para quem trabalha ou para os que eram seus donos originários; b) o predomínio da monocultura; c) a produção voltada para o mercado externo (açúcar, tabaco, algodão, café e hoje soja; d) o regime de trabalho escravo.

A independência de Portugal não alterou nenhum destes pilares. Os que naquela época sonharam com um Brasil diferente, propunham a troca da grande pela pequena propriedade nas mãos de quem trabalhava; da monocultura para a policultura; da produção para o mercado internacional por outra voltada para o autoconsumo e para o abastecimento do mercado interno; do trabalho escravo pelo trabalho familiar livre. Isso pôde acontecer em quenas regiões da serra gaúcha e de Santa Catarina, com colonos alemães, italianos, poloneses, hoje um campo mais democratizado.

Houve geral oposição dos grandes proprietários escravistas a qualquer dessas medidas e foram matados a ferro e fogo levantes populares que apontavam para qualquer medida democratizante na economia, na política e sobretudo nas relações de trabalho. Basta rememorar algumas dessas revoltas: a insurreição dos escravos Malês na Bahia, a Balaiada no Maranhão, a Cabanagem na Amazônia, a revolução Praieira em Pernambuco, a Farroupilha no Sul.

A monarquia caiu menos por seus anacronismos do que pela Lei Áurea que lhe retirou o apoio dos barões do café escravocratas e das chamadas classes "produtoras", como se os produtores não fossem os escravos que trabalhavam.

A revolução de 30, com seu viés nacionalista, mesmo que parcialmente, deslocou o eixo do país do mercado externo para o interno; do modelo agrário exportador para o de substituição de importações; do domínio das elites exportadoras do café do pacto Minas/São Paulo, para novas lideranças das zonas de produção para o mercado interno, como as do arroz e charque do Rio Grande do Sul; do voto censitário, para o voto "universal" (menos para os analfabetos, naquela época ainda maioria entre os adultos), do voto exclusivamente masculino para o voto feminino; das relações de trabalho ditadas apenas pelo poder dos patrões para a sua regulação, pelo menos na esfera industrial com a criação do Ministério do Trabalho e das leis trabalhistas voltadas para a classe operária . Não se conseguiu tocar o domínio incontornável dos proprietários de terra na regulação das relações de trabalho dentro de suas propriedades, o que só vai acontecer depois de 1964.

Getúlio implantou uma política corporativista de apaziguamento entre as classes e de "cooperação" entre capital e trabalho, entre operários e os capitães da indústria em torno de um projeto de industrialização e defesa dos interesses nacionais. Ele criou as bases para o Brasil moderno.

Nesta campanha eleitoral certos meios de comunicação criaram o motto: "Fora PT". Busca-se acabar com a "ditadura" do PT, para deixar campo livre para instaurar a "ditadura do mercado financeiro". O que realmente incomoda? A corrupção e o mensalão?

A meu ver, o que incomoda, em que pesem todos seus limites, são as medidas democratizantes como o Pro-Uni, as cotas nas universidades para os estudantes vindos da escola pública e não dos colégios particulares; as cotas para aqueles cujos avós vieram dos porões da escravidão; a reforma agrária, ainda que muito aquém de tudo o que seria necessário, como sempre nos lembrou Dom Tomás Balduino; a demarcação e homologação em área contínua da terra Yanomami contra a grita de meia dúzia de arrozeiros apoiados pelo coro unânime dos latifundiários e do agronegócio, assim como todos os programas sociais do Bolsa Família, ao Luz para Todos, ao Minha Casa, minha Vida, o Mais Médicos e daí para frente.

Nunca incomodou a estes críticos que o Estado pagasse o estudo de jovens estudantes de famílias ricas que deram a seus filhos boa educação em escolas particulares, o que lhes franqueou o acesso ao ensino gratuito nas universidades públicas aprofundando e consolidando a desigualdade de oportunidades. Esse estudo custa mensalmente ao Estado no caso de cursos como o de Medicina de seis a sete mil reais. Nunca protestaram essas famílias contra essa "bolsa-esmola" dada aos ricos, e que é vista como "direito" devido a seus méritos e não como puro e escandaloso privilégio. São os mesmos que se recusam a ser médicos nos interiores e nas periferias que não dispõem de um médico sequer.

Os que sobem o tom dizendo que tudo no país está errado, em que pese a melhoria do salário mínimo, a criação de milhões de empregos, a ampliação das políticas sociais em direção aos mais pobres, a criação do Mais-Médicos, posicionam-se contra as políticas do PT que visam a assegurar direitos cidadãos, ampliar a democratização da sociedade, combater privilégios e sobretudo colocar um pouco de freio (insuficiente a meu ver) à ganância e à ditadura do capital financeiro e do "mercado".

É esta a razão do meu voto para outro projeto de país, que atende às demandas sempre negadas às grandes maiorias. É por isso, que votei Dilma no primeiro e o farei no segundo turno, respeitando as ponderações e escolhas dos que enxergam um caminho diferente e viável para o momento atual" (jbeozzo@terra.com.br). É esse também o meu pensamento.

Postado por Miro às 10:26

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/10/eleicoes-luz-da-historia-antipovo.html?spref=tw

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz